O Banco Mundial e a transposição

Coluna Econômica – 09/07/2007

A soma de estudos e relatórios contrários ao projeto de transposição do Rio São Francisco é muito maior e mais consistente do que os trabalhos a favor. O país está empenhando recursos orçamentários pesados em uma obra bastante duvidosa.

Na sexta, mostrei os estudos de ex-técnico do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca) mostrando a disponibilidade de águas no semi-árido nordestino. E explicando que faltam apenas interligações entre os diversos açudes para a água chegar a todos os cantos.

Vamos agora a um relatório do Banco Mundial, preparado alguns anos atrás a pedido do governo federal.

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Objetivo: Diminuição da pobreza
Impacto: Baixo impacto
Alternativas: Sistema de tratamento de água completo existente, estradas, investimentos, produtivos objetivados, capital humano, alternativas de migração.
Comentário: O projeto tem uma orientação comercial de alta tecnologia. Experiência internacional sugere que a ligação com os pobres pode estar fraca.

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Objetivo: Alivio da seca
Impacto: localizado.
Alternativa: Sistema de tratamento de água completo existente. Otimizar a utilização dos recursos hidráulicos locais nas bacias receptoras. Desenvolver sistemas especiais para comunidades pequenas e remotas, melhorar a eficiência do gerenciamento e alocação dos recursos hídricos através de avaliação e outros mecanismos
Comentário: Suprimentos seguros de água para uso doméstico para todo o nordeste poderiam ser garantidos através de alternativas por uma fração do custo do projeto proposto.

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Objetivo: Suprimento hidráulico urbano e industrial eixo norte
Impacto: Projeto não requisitado há muitos anos.
Alternativa: Garantido pela conclusão dos trabalhos existentes.
Comentário: O eixo norte não é necessário para a manutenção domestica urbana e rural, dispersão rural, irrigação existente e industrial e irrigação sendo construída há pelo menos 15 anos.

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Objetivo: Suprimento hidráulico urbano e industrial eixo leste.
Impacto: Projeto supre necessidades
Alternativa: Devem existir alternativas mais baratas.
Comentário: Os operadores potenciais do setor privado podem desenvolver fontes alternativas mais baratas.

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Objetivo: Irrigação comercial.
Impacto: O projeto responde a demanda
Alternativa: Concentrar-se primeiramente no desenvolvimento de projetos com águas mais acessíveis na bacia do São Francisco, como também nas bacias receptoras. Aumentar a participação do setor privado e definir o papel do governo.
Comentário: A justificativa para investimentos do setor público neste projeto é difícil de identificar.

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Objetivo: Reformas institucionais no setor de águas.
Impacto: Acordos institucionais fora de lugar.
Alternativa: Instituir gerenciamento da bacia e bons princípios de alocação de água antes de considerar qualquer grande investimento. Uma proposta coerente para a futura administração, operação e manutenção do projeto proposto deve ser claramente definida antes do inicio dos trabalhos.
Comentário: Reforma institucional e estabelecimento de bons princípios de uso eficiente de água deve preceder qualquer investimento em larga escala.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

26 Comentários

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  1. A transposição do Rio São
    A transposição do Rio São Francisco pode ser feita juntamente com outras obras:
    – Poços artesianos
    – Cisternas
    – Açudes
    Um único projeto não vai resolver o problema, mas diversas obras coordenadas poderão aliviar o problemas de milhares de Nordestinos.

  2. Nassif, não entendo a
    Nassif, não entendo a resistencia em relação a este projeto, a não ser a regional, pois existe precedente. Olha só o que li sobre o projeto Jaíba, que está sendo desenvolvido no norte de Minas:
    “Foram investidos no Jaíba mais de U$ 400 milhões. O Banco Mundial financiou a implantação da Etapa I, conduzida pelo governo federal. US$ 102 milhões, financiados pelo Japan Bank for Internacional Cooperation (JBIC), possibilitaram ao governo de Minas executar a Etapa II, com 20 mil ha irrigáveis.

    Todo esse esforço foi compensado!

    * Na Etapa I, podem ser irrigados cerca de 26 mil ha, dos quais 10 mil ha já foram licitados.
    * Em 5 mil ha cultivados são produzidas, diariamente, por 1.566 irrigantes, 192 toneladas de alimentos.
    * Nas quatro etapas, serão 80 mil ha irrigáveis, transformando o Jaíba em um dos maiores pólos agrícolas do País.
    * O projeto gera uma renda bruta anual superior a R$ 22 milhões.
    * O número de estabelecimentos comerciais, na região, saltou de 200 (em 1995) para mais de 500 (em 2002). A população passou de 28 mil pessoas (1992) para 42 mil pessoas (em 2002). ”
    Para maiores informações tem o site http://www.ruralminas.gov.br/jaiba2/.
    Para o Nordeste não vale ???

  3. Não acredito que o Exmo.
    Não acredito que o Exmo. Presidente, conhecendo a região como ninguém, iria se equivocar qto. à necessidade do projeto. Tb. não acredito que os estudos para a realização do mesmo não foram sérios e que não tenham se cercado de todo o cuidado em face de tal investimento.
    Já ví um debate em que se enaltecia a revitalização do rio, devido ao aproveitamento e transposição de suas águas, na maioria das vzs. judiado sem nenhum escrúpulo. Talvez que o Banco Mundial preferisse uma privatização das águas do rio e que ele fosse o gestor, quem sabe, vendendo a preço de ouro suas águas para os pobres coitados. Sabemos muito bem dos olhares cobiçosos que o mundo lança sobre esta riqueza em extinção, o líquido vital.
    Eu, pessoalmente, acho que as considerações sobre o projeto deveriam ficar restritas ao nosso território, à nossa gente. Só nós podemos saber aonde aperta o sapato. O mais é conversa afiada, digo, fiada.

  4. “Comentário: Reforma
    “Comentário: Reforma institucional e estabelecimento de bons princípios de uso eficiente de água deve preceder qualquer investimento em larga escala.”

    Por que mesmo? Será que a obra fica pronta tão rápida assim que não se pode discutir o sexo dos anjos durante sua construção? Parece aquele argumento da revitalização, que deveria ser feita antes da obra. Felizmente pararam de dizer isso, já que a obra em si influi muito pouco nos problemas do rio.

    Por sinal, o termo transposição é muito infeliz. Dá idéia que o rio tá sendo desviado de seu curso normal ou coisa assim. Mas nada disso importa. Assim que o especialistas que já demosntraram por A + B que a obra é má, feia e boba apresentarem seus projetos de encaminhamento (nem tou pedindo a solução fechada do problema, coisa que a obra do governo também não faz) do problema de água para a sociedade civil e para o governo, e com boa dose de pressão sobre estes, logo logo teremos um conjunto de obras muito melhor, correto? Tou esperando.

  5. Lembram do projeto “Um milhão
    Lembram do projeto “Um milhão de cisternas ” da FEBRABAN ? Pois é, pararam nas vinte mil. Como sempre.
    Em termos de objetividade nunca vi nada igual a isto : “Deve haver alternativa mais barata”. Fantástico.

  6. “Alternativas: Sistema de
    “Alternativas: Sistema de tratamento de água completo existente, estradas, investimentos, produtivos objetivados, capital humano, alternativas de migração.”

    Tratamento de que água? se o projeto é justamente pra garantir alguma segurança de que haverá água, através da perenização de rios. Quanto à migração, já não basta toda houve pro Sudeste? 🙂

    Esses artigos são o que mais temo. Vontade de melar a obra e exposição de alternativas genéricas, descompromissadas. Quero ver o estudo de viabilidade dessas propostas apresentadas. Se já tá dito e redito que a obra é ruim, é hora de aproveitar que o assunto tá em pauta e propor uma solução melhor. Onde estão estes especialistas que tão solidamente se opõem ao projeto que não apresentam, com a mesma solidez, projetos alternativos? Tou falando de coisa séria, não de proposta de duas linhas mostradas neste artigo. Como já disse antes, sou partidário de qualquer solução que funcione. Agora, fica difícil defender propostas alternativas de duas linhas. A não ser que meu objetivo não fosse resolver o problema, mas apenas impedir a execução de uma obra, indpendente dos méritos.

  7. Diabos! Como sou burro! Não
    Diabos! Como sou burro! Não me toquei que o Sr Manoel Bomfim Ribeiro (que nada tem com um outro Bomfim de outras eras) é da turma do ex-Ministro do Interior (e ex-governador por três vezes, derrotado pelo PT) João Alves Filho, o mesmo que ganhou três eleições em Sergipe como “João da água”, inclusive beneficiando meu município com três barragens e duas adutoras num bom projeto de irrigação; que duplicou a adutora de abastecimento de Aracaju, captando diretamente do São Francisco (tá na grade de obras da Gautama) e que subitamente, depois que o governo federal (atualmente do PT) resolveu trabalhar com um projeto dentro da mesma área tem servido de “a voz hidro-ecológica” da oposição contra o governo Lula. Quanto a pareceres… Alguém já perguntou: “contra ou a favor?”, É impressionante como as brigas de coronéis de Alagoas (Heloisa Helena versus Renan Calheiros) e de Sergipe (João Alves versus Marcelo Deda) contaminam o país. Parece 1984 quando o atual deputado federal Jackson Barreto jogou tomates e ovos em Maluf em Aracaju e que serviu para a mídia anti-malufista detonar a candidatura presidencial do turco. Perdão, sírio-libanês.

  8. Este estudo do Banco
    Este estudo do Banco Mundial,é um tanto quanto subjetivo,para não dizer que é impertinente,quando pede que certas adaptações sejam feitas no projeto brasileiro,que foi enviado àquela instituição,para ser analisada,visando obter parte dos recursos necessários ao projeto.Como o Banco Mundial,negou-se a fazer a parceria,teria tambem que não tentar ingerir nas decisões soberanas do Brasil,e saibam que todas aquelas instruções sugeridas como complementação ao projeto inicial,já estavam sendo agregadas ao mesmo.O governo brasileiro está demonstrando que se esta obra é necessária,todo e qualquer sacrifício para concretiza-la,vale a pena.

  9. Prezado Nassif, apesar das
    Prezado Nassif, apesar das informações serem mais contra do que a favor do Projeto vejo que o conceito de Segurança Hídrica nesse processo de interligação de bacias é pouco realçado. Essa constatação que o fundamental é o gerenciamento e a integração dos açudes e bacias no polígono da seca são pertinentes, no entanto quando se pensa numa série temporal a variabilidade do sistema e o tempo de recorrência de secas drásticas pode colocar a região em grave crise. Já que a transposição não vai impactar o Velho Chico como relata o DNOCS (grande cabo de guerra), será que em nome da Segurança Hídrica esse Projeto tem algum mérito?

  10. Quando é para o Nordeste, não
    Quando é para o Nordeste, não faltam explicações tentando provar o contrario.
    O improtante é dizer que se ESTA AGUA NÃO VEIR PARA O NORDESTE, VAI PARA O MAR.

  11. Nassif,

    So pra dirimir
    Nassif,

    So pra dirimir algumas duvidas, sugiro o site do ministerio da integracao:

    http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/index.asp

    É interessante ver o infografico, que mostra como ficará a malha hidrica. É impressionante!

    As informações do Sr Bonfim estão meio deturpadas:

    1)dizer que a agua vai atingir apenas 0,5% do poligono das secas é verdade, mas o poligono inclui desde MG até o CE. A área de transposicao é menor. somando as areas de PE,PB, RN e CE, dá uns 300 mil km2 e portanto a porcentagem fica maior.

    2)ele supoe apenas o uso em irrigação, mas a rede de adutoras existentes e a construir mostra um impacto de utilização muito maior.

    3) Os 26 m3/s é a vazão firme mesmo em periodos de seca. A capacidade é 5 vezes maior, permitindo armazenamento de água no periodo de cheias nos açudes feitos.

    4)O assunto “segurança hidrica” não é explorado.

    Tem ainda que o custo da transposição propriamente dita é bem menor, acho que cerca de 1,7 milhoes. O resto inclui revitalização do rio.

    Abçs

  12. Dos comentários do Banco
    Dos comentários do Banco Mundial, podemos concluir que os valores conceituais emergentes da interação espacial e temporal, deduzem formas de ensino de princípios elementares de justiça social, igualdade política, consciência cívica e solidariedade humana, alicerçadas em parâmetros conflitantes entre o conhecer e o intervir no real e , principalmente, no imaginário. Ou seja, nada!

  13. Trabalho há 15 anos com
    Trabalho há 15 anos com tratamento de água, especialmente dessalinização. Estas mega obras de nada vai resolver o problema dos mais necessitados de água no polígono das secas: as comunidades isoladas. Boas alternativas são o uso de cisternas para aproveitamento da água da chuva e a dessalinização da água subterrânea, desde que com o manejo adequado do sal resultante do processo. Mudar curso de rios vai ajudar apenas quem estiver ao lado de seu novo curso, aproveitando a água para irrigação de lavouras extensivistas, retirando a água de outras que hoje a aproveitam. Vamos terminar com o S. Francisco virando um Yang Tse brasileiro: o imenso rio chinês que hoje quase nem consegue adoçar as águas do mar, tão desviado para outros fins que está.

  14. Parabéns pela coragem de
    Parabéns pela coragem de enfrentar a pesada pantomima patrocinada por interesses escusos. A transposição é crime de lesa pátria, que avilta a inteligência e a dignidade de todos os brasileiros. A sociedade tem que erguer barricadas de protesto em todas frentes, a fim de expor claramente a violência captaneada pelos asseclas do capitalismo selvagem.

  15. A conclusão do Banco Mundial
    A conclusão do Banco Mundial é a de que o “Alívio da Seca” pode ser conseguido com otimização da alocação dos recursos já existentes (exceto para pequenas comunicades distantes). Ou seja: os governadores e ministros a favor são uns incompetentes e desejam jogar dinheiro fora. Parece-me, Nassif, que esta é uma conclusão falsa. Eu gostaria de ver um debate, da mesma forma como você faz com o Alexandre – el carecón: para cada afirmação a correspondente negação. Ambas fundamentadas em estudos científicos. Não dá para aceitar num relatório frases do tipo: “Experiência internacional SUGERE que a ligação com os pobres PODE estar fraca.” Cadê a assertividade ?

  16. Nassif a verdade é que a
    Nassif a verdade é que a grande resistência da Imprensa Sulista contra o projeto é porque o dinheiro está vindo para o Nordeste, porque quando é para obras faraônicas como o “rodoanel”, não tem tanta resistência.
    O tal relatório é inconsistente. Só pode ter sido feito por quem não vive a realidade nordestina ou tem algum interesse contrariado.

  17. Não sabia que o Banco Mundial
    Não sabia que o Banco Mundial produzia relatórios tão pobres.
    A realidade do Nordeste é bem diferente. Só que não conhece a região ou está mau intencionado é que pode dizer que a Tranposição não é necessária.
    A afirmação de que bastaria uma fração do orçamento do projeto para resolver o problema é a mais fraca de todas. Se isso fosse verdade o LULA ou o FHC ou o Collor ou Sarney ou até os militares já teriam feito. Será que esse políticos não iriam querer os votos do POVO

  18. Pobre no Brasil sofre. Sem
    Pobre no Brasil sofre. Sem tem que esperar a otimização idealizada próxima de 100% (que portanto nunca chegam) para ter direito a políticas de combate à pobreza.

    Essas críticas à transposição, me lembram as críticas ao Bolsa- família: “Deveria haver emprego e não bolsa-família… deveria dar a vara de pescar e não o peixe…”

    Agora, sempre vem a história de que haveria outras opções mais viáveis, sem de fato apontá-las, e sem de fato, nunca terem sido propostas e implementadas.

  19. Nassif,

    Não podemos
    Nassif,

    Não podemos esquecer que o Banco Mundial é um instrumento da ONU, dirigido por representantes dos países mais industrializados e desenvolvidos do mundo, com representações secundárias do mundo subdesenvolvido ou em desenvolvimento.

    O reconhecimento dessa verdade é indispensável para compreensão do relatório; haja vista que, o objetivo do conteúdo, contrário a transposição, está em sintonia com os objetivos liberais e neoliberais do Banco Mundial para a economia globalizada.

    Em outras palavras o objetivo do Banco Mundial é promover a globalização e para isso é necessário que os grandes projetos econômicos sejam de iniciativa privada ou para ganhos de empresas privadas. Logo, a transposição de águas teria de ser fundamentada em viabilidade financeira para que o Banco Mundial aprovasse.

    Quando se fala de viabilidade financeira quer dizer que não é apenas um retorno que viabilize o lucro privado do projeto, mas inclusive que os recursos empregados estejam de acordo com o maior retorno possível para o capital empregado, em relação a outros investimentos. Se a transposição fosse para uma região rica, que propiciasse um grande retorno financeiro privado para o capital empregado teria a aprovação do Banco Mundial. Bastava que fosse dada uma concessão à iniciativa privada explorar o uso da água.

    Por ser uma transposição para região pobre, incapaz de privatizar o abastecimento d’água e o saneamento, com retornos financeiros compatíveis com os objetivos da globalização econômica, o Banco Mundial jamais concordará.

    Este é o princípio e o fim sob os quais agem os técnicos do Banco Mundial.

  20. Como a vida seria mais
    Como a vida seria mais fácil,com soluções e críticas telegráficas do bom Banco Mundial.Quanto investiu, seu departamento técnico,para concluir tão secamente(sem duplo sentido),pela irrelevância do projeto?Penso nos inúmeros poços e
    açudes, construídos pelo DNOCS, e sucessores, estrategicamente em terras de “coronéis”,latifundiários e da sempre presente classe política.Regional e nacional.Não recordo dos comentários de qualquer órgão internacional,tampouco ,as indefectíveis ONGs,quanto a essas suspeitas e inócuas medidas.

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