O mundo glamoroso da aviação

A reorganização mundial da aviação civil nasceu com o final do ciclo de anos de ouro que começaram ao fim da Segunda Guerra, quando a sobra de milhares de aviões C-47 nos EUA permitiu o surgimento de novas linhas comerciais por todo o mundo.

No Brasil surgiram a Navegação Aerea Brasileira-NAB, o Loide Aereo Nacional, a Real Aerovias, a Aerovias Brasil, ao lado das antigas Cruzeiro do SUL (antes Syndicato Condor), VASP e Varig, anteriores à Guerra. A rainha da aviação comercial das Americas, a lendaria Pan American criou filhotes por todo o continente.

No Brasil foi a Panair do Brasil, a principal operadora de linhas internacionais, com aviões Clipper da Boeing (dois andares) e depois com os famosos Constellation da Lockheed. A Panair na década de 50 chegou a ter linhas para o Cairo, Atenas e Beirut, servia toda a Europa, com serviços excelentes, cozinha refinada, pessoal super qualificado.

Viajar era uma experiencia dourada, as mulheres faziam tailleurs especiais para a jornada, que poderia durar 24 ou 36 horas, nos Clippers haviam cabines para dormir. Para acomodar seus passageiros no roteiro da viagem a PanAm construiu hoteis, que depois viraram uma cadeia, a Intercontinental.

Em dezembro de 1949 viajei para Miami com meus pais, pela Aerovias Brasil, o voo durou 4 dias, o avião só voava com a luz do dia, a noite todos, tripulação e passageiros, iam para os hoteis, com tempo de jantar, passear pela cidade e dormir.

A primeira parada do voo que se iniciava no Rio era Barreiras na Bahia, depois Belem do Pará, depois Paramaribo, na Guiana Holandesa, depois Port of Spain em Trinindad, depois Ciudad Trujillo, na Republicada Dominicana. Para um menino era uma aventura. Mas logo depois, nos anos 50, ja surgiram aviões mais possantes, DC-4 e DC-6 para voos a Miami com duração de 34 ou 30 horas.

A primeira crise do petroleo desarrumou a aviação comercial, com a quadruplicação do preço do barril, de 3 para 12 dolares, depois com sucessivos choques os balanços das grandes companhias foram para o vermelho, a PanAm quebrou, outros grandes nomes como TWA desapareceram, a Panair foi incorporada pela Varig (uma historia em separado), a aviação comercial viu-se pressionada por um lado pelo explosivo aumento de custos e de outro por uma competição que não existia no mundo cavalheiresco que foi de 45 ao começo dos anos 70, quando entrou a era dos jatos.

Os Jumbos foram desenvolvidos pela Boeing com encomendas de prancheta bancadas pela PanAm, que era tão grande que podia pedir que o fabricante criasse um avião especialmente para ela, a maior cliente.

Quem conheceu o mundo glamouroso da aviação entre 45 e 70 tem recordações únicas, como devem ter os viajantes dos grandes trens de luxo dos anos 30. As lojas da Panair no exterior eram luxuosas, muito bem localizadas, uma especie de consulados do Brasil pelo atendimento e serviços que prestavam. A comida nos aviões eram finalizadas durante o voo, não eram apenas requentadas como hoje. A louça e o linho eram iguais aos grandes hoteis, talheres de prata, muitas configurações tinham poltronas face a face, de modo que quatro pessoas podiam jogar baralho ou almoçar como em um restaurante.

A atual onde de fusões que chegou à America do Sul com a TAM + LAN visa basicamente à redução de custos, necessaria pela competição brutal, pela cultura de mercado financeiro que chegou as companhias, aonde raramente se vê hoje em dia como CEO um ex-piloto, o que era a regra nos anos 45 a 70, quando quem dirigia companhias de aviação eram aeronautas e não “”controllers”” ou gerentes de marketing.

As fusões visam a compatibilizar rotas, promoções, manutenção, equipamentos, sistema de reservas, etc. É uma necessidade mas infelizmente a aviação perde a cada ciclo seu glamour historico, passa a ser apenas uma condução, como metrô ou onibus rodoviario. 

Luis Nassif

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