Por que é tudo tão caro? Uma análise

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Comentário ao post: Como a desigualdade social explica o videogame de R$ 4 mil

Consumismo e desigualdade social não são a mesma coisa, a não ser que o autor tenha escrito uma tese de mestrado sobre o tema, e conseguido correlacionar essas duas variáveis de alguma forma. De fato, o Japão é um exemplo concreto de que as duas coisas nem sempre andam juntas.

Na verdade, a discussão que precisa ser feita é: por que tudo é tão caro no Brasil? E como mudar este cenário? Existe uma série de fatores que pode explicar essa discrepância nos preços, em maior ou menor grau:

1. O sistema tributário brasileiro voltado a taxar o consumo ao invés da renda

2. Os altos impostos de importação em alguns setores, de modo a “proteger’ a indústria nacional

3. O elevado consumismo do brasileiro – e aqui não cabe demonizar a classe média alta como se adora fazer neste blog, porque não me parece ser um problema exclusivo dela – a “nova classe média” é tão consumista quanto, e já cansei de ouvir histórias de mulheres de baixa renda pagando fortunas em cremes da “Victoria’s Secret”, sem saber que custam uma ninharia no exterior. Resumindo, trata-se de uma situação generalizada.

4. As altas taxas de juros, que oneram o consumo em dobro: por um lado, ao aumentar o custo do crédito (o que afeta toda a cadeia, do produtor ao consumidor), o que é piorado, na ponta do varejo, pela tendência de muitas lojas de não oferecer desconto à vista, obrigando tudo mundo a pagar juros, independentemente da necessidade; e o elevado custo de oportunidade, que faz com que os empresários demandem taxas de retorno maiores nos seus empreendimentos, porque senão é mais confortável e seguro continuar como “rentista”.

5. O “famigerado” custo-Brasil, particularmente no que diz respeito à logística e à complexidade do sistema tributário.

Eu não elenquei as elevadas margens de lucro das empresas (que são um fato, ao menos em alguns setores) porque elas são consequência dos itens 3 e 4 (e ocasionalmente do item 2). É interessante agora avaliar como o governo atual (particularmente o governo Dilma) tem lidado com estes fatores, e o que ainda pode ser feito:

1. o governo tem curiosamente caminhado nesse sentido, embora duvido que seja um movimento concertado: basta observar todas as desonerações que foram feitas sob o consumo, enquanto a tabela do imposto de renda não é reajustada há anos. No entanto, parece muito mais uma reação casuística a balanços da economia que um movimento coordenado. Ademais, grande parte da oneração no consumo fica por conta do ICMS, que é um imposto estadual, cobrado a alíquotas “escandinavas” no Brasil – e com um regramento muito mais complexo que o imposto de valor agregado de outros países.

2. é evidente que o governo atual tem um viés protecionista em vários setores. Será que isto faz sentido realmente? Vale a pena insistir para que os iPads sejam fabricados no Brasil, dando lucro para a Apple do mesmo jeito e empregando algumas centenas de pessoas, enquanto os aparelhos a preços menores poderiam viabilizar um mercado de software nacional muito mais dinâmico do que é hoje, com capital brasileiro e gerando empregos de alto valor agregado? Faz sentido taxar, digamos, câmeras fotográficas digitais (cuja produção nacional é ínfima, se existe), e com isso gerar empregos no varejo de Orlando e Ciudad del Este, e alimentar um setor informal que paga zero de imposto? Aqui penso que há um imenso espaço para a revisão da política industrial.

3. Será que um governo consegue mudar isso? Será que deveria? O fato é que os governos Lula e Dilma se caracterizaram pelo contrário – um incentivo ao consumo. Não acho errado, afinal as classes mais desfavorecidas passaram muito tempo sem ter acesso a produtos básicos de conveniência, mas não é possível ignorar o efeito que isso pode ter sobre os preços, ainda mais em uma economia fechada e com altas taxas de juros.

4. Grande “bola dentro” do governo Dilma, que infelizmente está sendo revertida agora. No entanto, é difícil dizer se a queda já surtiu efeito no sentido de estimular a competição e reduzir os preços. Na verdade, ao menos no setor imobiliário, a queda nos juros causou uma imensa alta nos preços – mas isso é outra (longa) história.

5. Em relação à logística, o governo tem trabalhado bastante, nem sempre da melhor forma possível, mas ninguém pode dizer que a infraestrutura está esquecida no momento. Em relação à tributação, há iniciativas importantes ocasionalmente, mas falta a vontade política (e ousadia, porque ninguém pode ignorar os riscos de um movimento desta magnitude) para se fazer uma verdadeira reforma que simplifique o cipoal tributário do nosso país.

O que importa é perceber que o problema é multifacetado: enquanto os blogs de esquerda podem criticar a superficialidade do brasileiro de classe média e a ganância dos empresários, os blogs de direita vão falar da ineficiência e sanha arrecadatória do governo, e a verdade, para variar, vai ficar perdida no meio do fogo cruzado …

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

22 Comentários

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  1. Existe tambem o “lucro

    Existe tambem o “lucro Brasil’ que niinguem fala. As empresas estrangeiras cobram o dobro do preço os consumidores compram e as mesmas empresas remetem os lucros para as matrizes  Nos EUA ou Europa.

  2. O Lucro Brasil é fato!

      Se vê por matemática simples. Quando finalmente se desmascara o famoso “Custo Brasil” eles trocaram o discurso, agora não é mais a alta carga tributária, o problema é a complexidade tributária, ha tá bom!

       Uma empresa qualquer paga energia mais cara do que deve,  telefonia e banda larga caríssima e serviço péssimo, compra veículos “superfaturados” e ainda tem pedágio, mas ela também pode entrar na brincadeira e ter uma margem de lucro lá em cima, e o consumidor final ó….

     

  3. Esta certo, Marcos, mas se o

    Esta certo, Marcos, mas se o blog do Nassif é o que chamamos de blog de esquerda, nos ja debatemos um pouco dos itens elencados aqui. Jamais ficamos apenas no reducionismo de criticar o consumismo de uns e outros e a mais-valia industrial. Ao contrario, acho até que ha uma boa parte dos que comentam aqui, que incentivam a industria e o empresariado a investir mais no Pais e o governo a desburocratizar mais para que o Pais cresça mais também.. 

  4. Lucro Brasil e Exploração Brasil

    Caro Nassif e demais

    Em sua reportagem de ontem, veio também por parte de um dos comentaristas, Theles Silveira, que fez os cálculos e chegou a seguinte conclusão: 

    1) Preço do produto US$ 399 mais impostos do Brasil, o produto sairia por R$ 1839, 54

    2) Preço do produto, US$ 399 menos impostos dos EUA, mais impostos do Brasil, o produto sairia por R$ 1579, 81.

    Portanto, de onde se tirou que R$ 4000,00, envolveria só os impostos?

    Considero os impostos incorretos, mas a exploração além disso, ainda é maior.

    Haja Paraísos Fiscais.

    Saudações 

  5. O rico mediano gosta de

    O rico mediano gosta de ostentar e consumir, o rico de berço não ostenta, diria o AA, Comsumir bens caros e desnecessários (para que eu quero um ipad mini se eu já tenho um normal, paqra que eu quero um suv (odeio essa sigla) se numca vou pra terra?) é uma forma de dizer “eu sou mais ou menos que você” ganho mais ou menos do que vc. Assim é normal que as pessoas entrem nesse tipo de competição. Mas aqui no Brasil temos uma diferença: a casa grande quer as coisas caras para que a senzala fique longe das coisas que não são “naturais” da senzala. A senzala por sua vez, mal educada como a casa grande sempre quiz, perde, com tanta propaganda e mensagens subliminares, a noção de custo/benefício das coisas.

  6. Elevadas margens

     Eu não elenquei as elevadas margens de lucro das empresas (que são um fato, ao menos em alguns setores) porque elas são consequência dos itens 3 e 4 (e ocasionalmente do item 2)

     

    Discordo das causas apontadas para a elevada margem de lucro. Creio que seja mais pelo fato de os principais setores da economia serem dominados por oligopólios, e talvez por um cultura brasileira de que os retornos dos investimentos têm que ser rápidos, exitgindo consequentemente margens escorchantes. As grandes empresas (montadoras, telefônicas, eletroeletrônicos e que tais) adoram jogar nas costas do famoso “Custo Brasil” a causa de seus preços totalmente fora da paridade internacional. Isto é uma grande balela.

  7. Os “coxinhas” vão comprar o

    Os “coxinhas” vão comprar o videogame a R$ 4.000,00 no Brasil? Não. Os “coxinhas” vão aos EEUU e vão trazer o videogame de lá. Pagam a passagem de ida e volta e metem o videogame na bagagem. Na meca do consumismo o aparelho custa U$ 400,00 (mais ou menos R$ 900,00, com o lucro do revendedor). Pode jogar 100% de imposto – e não é isso – e a “bagaça” iria pra uns R$ 1.800,00.

    Nada justifica a aberração. A dona do tal videogame deve ser chamada às falas pela população. Um esculacho seria bem vindo. Depois reclamam do vandalismo dos black bloks. E o que é isso? A metade do preço, com conversão em dólar, mais impostos devem ser o suficiente. Mas cobrar R$ 4.000,00 pelo aparelho é demais.

    Um detalhe, a dona Sony (uma das 5 marcas mais “amadas” no mundo) deve ser investigada, pois o preço dela é tabelado no comércio. Pode procurar, e você verá que o produto Sony custa o mesmo em qualquer estabelecimento do varejo. Parece que a Sony “combina” com os distribuidores e varejistas (que também não são santos – pois dvem tirar um “lucrão” nisso) essa prática.

    1. LEI DE MERCADO

      Fora as outras explicações já dadas, na minha opinião, o porquê  tudo é tão caro no Brasil é porque o Brasileiro compra.  Se não comprasse não venderiam ao preço alto estipulado.  Se tem um tênis de R$ 500,00 reais e você paga R$ 500,00 reais é porque vc acha que vale isto.. Eu nunca comprei um tênis neste valor e estou vivendo muito bem obrigado.. Se o PS4 é R$ 4.000,00 e vc paga é porque você acha que vale isto.. é a Lei de mercado..  

       A ganância do empresário não tem nada a ver com isto, até porque, as margens para o empresariado Brasileiro em sua grande maioria é bem apertada.  Sobreviver como empresário no Brasil é muito difícil, e quem achar que não é só olhar a quantidade de empresas que fecham anualmente no Brasil.

  8. O Lucro BRASIL

    Qualquer discussão de preços que coloque “a carga tributária” brasileira como fator, seja principal ou secundário, não se sustenta. Por que as coisas custam caro no Brasil? Simples, porque há quem compre. E se o produto é vendido com preço absurdo, porem dentro das expectativas de venda, por que o vendedor vai abaixar o preço?

    Vamos aos casos práticos:

    Como muitos sabem, a Hyunday anunciou a redução dos preços de vários modelos. O Equus, top de linha, que era vendido a R$ 337.000,00 foi para R$ 300.000,00. Esses R$ 37.000,00 de redução era o que? Doação para a caridade? Não! Lucro! Ele vai ser vendido a R$ 300.000,00 e continuará dando lucro a montadora coreana. O Genesis, que fica logo abaixo do Equus, era vendido a R$ 220.000,00, foi para R$ 200.000,00. O que a Hyunday fazia com os R$ 20.000,00? Dava para o vendedor de bônus por ter vendido o carro? Claro que não. Lucro! E será vendido por R$ 200.000,00 e continuará sendo vendido com lucro. O Elantra era vendido por R$ 96.000,00 e foi para R$ 85.000,00. O I30 era vendido por R$ 75.000,00 foi para R$ 69.000,00. Aí vem o representante da montadora no Brasil e diz: “A competição no mercado está muito forte e decidimos reduzir nossa margem de lucro, que já era pequena, para elevar as vendas”, justificou Antonio Maciel, presidente do grupo, quando questionado sobre a decisão de desvalorizar i30 e Elantra na quinta-feira (17), durante evento de abertura de nova área da fábrica da Hyundai-Caoa em Anápolis”.

    A margem de lucro era pequena? O cara abaixa R$ 11.000,00 no preço de um carro (no caso do Elantra) e diz que a margem de lucro é pequena. Abaixa R$ 37.000,00 do preço do Equus e diz que a margem é pequena? Ou será que ele vende os carros com prejuízo?

    “Ainda na reportagem: Como as demais empresas que atuam no setor, o grupo Hyundai-Caoa não revela valores de margens de lucro.”

    E é justamente aí que está o segredo. Ninguém revela as suas margens de lucro. Tente alguém aqui descobri quanto uma montadora ganha em um carro 0Km vendido.

    Celulares:

    No final de fevereiro desse ano, resolvi trocar de celular, mas como sou muito chato, fiz inúmeras pesquisas, comparava preços, modelos e etc.E isso levou bastante tempo até eu decidi qual modelo comprar. No final de março, decidi comprar um modelo da Samsung.Imprimi o anúncio e levei para um amigo que entende de celular para que ele me desse sua opinião. Sim, atendia todas as minhas expectativas. Vou comprar, mas primeiro vou esperar o vencimento do cartão de crédito. Faria a compra no final do mês de abril. E eis que em abril, o governo baixou um decreto zerando o PIS/Cofins dos smartphones. O imposto seria zerado da seguinte forma: aparelhos com tecnologia 3G até R$ 1.000,00 e 4G até R$ 1.500,00. Como o telefone era 3G e estava um pouco acima do limite, pensei, “não vai fazer diferença alguma”. OK. Todo dia, recebo inúmeros e-mails dos principais magazines com suas “ofertas”  um dia depois do decreto  dos smartphones recebi um do Submarino dizendo que os smartphones estavam com redução de IPI. Pensei: “o meu não será contemplado, mas vou ver se vejo alguma coisa interessante”. Cliquei no link e para a minha surpresa o mesmo aparelho que eu queria comprar, estava com o mesmo preço, mas com a caixinha azul em cima dizendo: “com redução de IPI”. Ora, eu tinha o anúncio impresso do aparelho dias antes do decreto com o mesmo valor. Liguei para o Submarino e perguntei aonde estava a redução do IPI, a atendente não soube responder. Mandei e-mail para o Submarino, não respondeu. Mandei para a Ouvidoria. Nunca responderam. E olha que mandei muitos, muitos e-mails. Todo dia de manha quando acordava eu mandava o mesmo e-mail a Ouvidoria do Submarino para saber aonde estava a redução do IPI. Fiz isso por quase um mês. Nunca me responderam. Em junho, no dia dos namorados fui a uma loja e comprei o mesmo aparelho, eu e minha mulher. Como compramos dois aparelho e pagamos a vista, o vendedor deu R$ 200,00 reais de desconto.

    Em qual outra área eu poderia falar? Música, que é a minha área. Faço parte de um pequeno grupo de pessoas no Brasil que ainda compram muitos, muitos CDs, dos mais variados gêneros. Tenho inúmeras coleções dos mais variados artistas. Recentemente o governo baixou decreto dando isenção fiscal para CDs/DVDs de artistas nacionais. O que isso vai representar para o mercado? NADA, absolutamente nada. Se um cd de um determinado artista que era R$ 30,00 e agora vai custar R$ 27,00 não será esses R$ 3,00 que vai fazer a diferença. O que está destruindo o mercado de CDs/DVDs no Brasil é o preço. Caso prático: no final do mês de setembro a banda RUSH relançou em versão remixada o álbum Vapor Trails, de 2002. A Saraiva começou a anunciar o cd em pré-venda por… R$ 49,90. Sim, R$ 49,90 por um cd. Passei e-mail para a Saraiva questionando o preço pois se eu fosse comprar o mesmo cd em um site americano o valor seria menor. Com frete e todas as conversões. Nesse site americano o preço do cd é de US$ 10,77 e o frete para o Brasil, US$ 10,99. Ou seja, vou gastar mais com frete do que com o cd e não vou pagar imposto de importação por não ultrapassar a quota de US$ 50,00. E ainda assim, mais barato do que na Saraiva. Lembrando que o preço da Saraiva (R$ 49,90) é sem o frete, com o frente (R$ 7,00), vai para R$ 56,90. Mandei vários e-mails para a Saraiva. E como não tive resposta. Resolvi ligar. Eles então responderam, o valor era sugerido pela gravadora, no caso, a Warner Music Brasil. Já tem duas semanas que mandei e-mail para a Warner e eles nunca me responderam. Mas como desgraça pouca é bobagem, já vi o mesmo cd sendo anunciando a R$ 29,90 por várias lojas aqui no Brasil, o mesmo cd que a Saraiva cobra R$ 49,90 e que diz que a culpa é da Warner e a Warner não responde. Comprei, o cd, mas não paguei esse absurdo que a Saraiva cobra e que põe a culpa na gravadora.

    Resumindo, o problema do custo do valor das coisas aqui no Brasil não se deve aos impostos. Se deve principalmente, e em alguns caso, exclusivamente, ao lucro. O cara não quer saber só quanto vai ganhar, o cara quer ganhar o máximo que puder. Falei de três áreas, automóvel, telefone e CDs/DVDs. Mas se for pesquisar mesmo, é em todas as áreas. Não vou falar sobre imóveis pois aí já é uma indecência e o espaço aqui do Nassif, merece mais respeito. Pois o que as imobiliárias fazem já é caso de polícia!

    O caso do PS4 abordado aqui, e em vários sites, com toda a matemática financeira para trazê-lo dos Estados Unidos, valor do produto, taxas de importação, frete, e etc, e que mesmo assim, sai quase pela metade do preço do que se for comprar aqui no Brasil, o que deve ser lembrado, é que: o valor de US$ 399,00 já é o preço de revenda do produto nos Estados Unidos. Quanto seria o preço de custo do PS4 na terra do Tio Sam?

    Enfim, o problema do preço das coisas no Brasil não são impostos. É o lucro. Lucro! Por que será que toda a reportagem sobre a “alta carga tributária brasileira” ninguém questiona a margem de lucro. Por que não uma reportagem sobre o “Lucro Brasil”?

     

    aqui estão os links sobre a redução dos preços dos carros da Hyunday:

     

    http://www.estadao.com.br/jornal-do-carro/noticias/mercado,hyundai-reduz-tabela,14223,0.htm

    http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/economia/2013/10/18/hyundai-justifica-queda-de-preco-de-i30-e-elantra-isso-e-da-vida.htm

    1. Não pode ignorar o imposto…

      Não concordo quando você diz que a carga tributária não tem responsabilidade nos preços altos no Brasil. A margem de lucro, muitas vezes indecente, explica boa parte desses preços exorbitantes, e os exemplos que você colocou ilustram bem essa questão.

      Porém a carga tributária exagerada tem infelizmente sua parcela de culpa: se o bendito aparelho da Sony, ou o último modelo de iPad da Apple, fossem importados pelo preço de lá e revendidos sem margem nenhuma aqui, custariam cerca do dobro do preço nos EUA, o que por si só já é um absurdo, em particular para produtos sem equivalente nacional (qual é a indústria local que precisa de proteção contra iPad? A Gradiente com seu iPhone tupiniquim?)

      Ainda assim, nada justifica que o produto custe mais de 4 vezes o preço no exterior. Aliás, por esse preço vale a pena comprar passagem até Miami só para ir comprar o brinquedinho; capaz de sair mais em conta do que comprar no território nacional, e sobrará até uma graninha para visitar os parques de Orlando.

    2. É isso aí, impostos o §£%$@#!

      Minha esposa passou por situações parecidas, quando teve aprovado um projeto de pesquisa pelo CNPq. Uma das coisas que ela queria comprar era um vaso de Dewar. Para quem não sabe, um vaso de Dewar é mais ou menos uma garrafa térmica sofisticadíssima para manter líquidos a baixíssimas temperaturas. São usados para armazenar nitrogênio líquido, uma substância cujo ponto de ebulição é de -196 °C.

      Pois bem, ela pesquisou diversos fornecedores internacionais e encontrou um que fornecia um equipamento de acordo com as especificações. O preço estava bastante convidativo, US$ 250,00. Como se trata de projeto de pesquisa feito em instituição pública, havia a opção de importação direta sem impostos; porém, todo o processo levaria aproximadamente 2 a 3 meses para ser concluído.

      Em função disso, achou um fornecedor local que vendia o mesmo equipamento. Mesmo fabricante, mesmo modelo, mesmos acessórios. Pediu uma cotação e quando a recebeu, soltou um sonoro palavrão: R$ 5.200,00! 20,8 vezes o valor nominal do mesmo equipamento nos EUA!

      Indignada, interpelou o vendedor sobre a diferença absurda de preços. A história foi a mesma de sempre: “ah, são os impostos…” Ao que ela respondeu que não existia nem imposto nem cotação de dólar possível que justificasse essa diferença entre os valores nominais daqui e de lá. Mandou o fornecedor nacional enfiar o Dewar deles no nariz e procedeu à importação direta.

      O pior de tudo, no caso do PS4, é que – ao contrário do PS3, que contava com um chip revolucionário (Cell) – o PS4 usará arquitetura x86 (sim, a mesma dos PCs comuns) juntamente com placas de vídeo da ATi, que podem ser compradas em qualquer loja. Talvez esteja aí a questão do preço: o PS4 foi precificado para competir com os micros “gamers” do mercado. O que, de maneira alguma, justifica seu preço de venda no Brasil.

    3. Claro que o lucro é um dos

      Claro que o lucro é um dos fatores (mas não dá para ignorar os impostos sobre o consumo, que são muito mais altos que os dos Estados Unidos e mesmo da maior parte da Europa). Mas a gente não pode ser ingênuo: o objetivo do capitalista é obter o máximo lucro possível, em qualquer país onde ele viva – ou você acha que a Hyundai é “boazinha” lá fora e “malvada” no Brasil? Basta se lembrar do exemplo da Apple, que possui gordas margens de lucro no mundo inteiro (não apenas no Brasil), simplesmente porque conseguiu encantar o mercado com seus produtos (não vou entrar aqui no mérito se eles valem tudo isso, porque daí a discussão será infinita). A pergunta correta a ser feita é: como é que os empresários brasileiros conseguem manter as altas margens de lucro aqui? Eu creio que a resposta passa pelo fato do nosso mercado ainda ser muito fechado para a concorrência externa, pelo consumismo do brasileiro e as altas taxas de juros, como citado no texto. Adicionaria a oligopolização de vários setores da economia, fato piorado pela política de “campeões nacionais” adotada pelo governo nos últimos anos.

      Resumindo … falar mal do lucro exagerado é fácil, mas não resolve o problema – é preciso aumentar a competitividade da economia, única forma de domar o ganho dos empresários sem a adoção de políticas intervencionistas, cujo tiro costuma sair pela culatra.

  9. PORQUE TUDO É CARO

    A industrialização tardia do Brasil, nos coloca em grande desvantagem com os países cenrais.

    Nosso precedente, de se proibir qualquer tipo de indústria no Brasil Colônia, já indica o tipo de elite que nos conduziu até os dias de hoje, com raras exceções de governos desenvolvimentistas.

    Há por outro lado, além, dos preços oligopolizados, o fenômeno das grandes redes atacadistas e vafrejistas, que ganham mais com os juros(embutidos nas prestações de 36 a 60 parcelas), do que nas suas margens operacionais.

    Para termos uma industrialização moderna e competitiva(ressalvados os fatores socioambientais), teremos de trocar os pneus, com o carro literalmente andando.

    Para isto, e para se chegar a este ponto, de recuperarmos o tempo perdido com a opressão hegemônica sobre nossa economia, nossa sociedade, teremos de ter outra forma de se fazer política neste país. Falta-nos ainda maturidade cidadã e só com elevação do nível de instrução e educação, poderemos atingir tais objetivos.

    Então, EDUCAÇÃO NA VEIA DE NOSSA GENTE JÁ, como se fosse soro para hidratar o paciente escaldado pela exploração desenfreada das megamultiferas internacionais.

  10. Por que as coisas estão tão caras – para além do senso comum
    Sempre quando surge a questão sobre o por quê de as coisas estarem tão caras no Brasil nos últimos anos, somos bombardeados por um mesmo râme-râme, repetido cem vezes: alta carga tributária, custo-Brasil, insegurança jurídica, altas taxas de juros ou até culpando o “consumismo”.
    São as chamadas “idées reçues”, senso comum repetido tantas vezes e que se aceita como verdade sem contestação. Mas são argumentos que falaciosos. Os impostos no Brasil, nos últimos anos, basicamente não mudaram: a estrutura e carga tributárias no Brasil seguem bastantes semelhantes. O mesmo acontece na estrutura tarifária para importados (que mudou mas não de maneira significativa, até por sermos signatários e membros da OMC e de estarmos submetidos a suas regras), que segue as mesmas linhas gerais no período recente. Portanto, como se tratam de espectos estruturais e consolidados no tempo, não explicam a mudança conjuntural recente . Já o argumento que culpa o “consumismo” é menos batido, e, não fosse o tom moralista e de senso comum até poderia apontar para algo. Mas não é o caso. No limite chega no complexo argumento que aumento de demanda gera aumento de preço. Microeconomia 1, aula 1. Outra ladainha que sempre surge identifica nas altas taxas de juros a resposta. O argumento, porém, não encontra respaldo nos fatos. As taxas de juros básicas e ao consumidor têm na verdade caído nos últimos anos, a despeito da elevação dos últimos meses. O custo de oportunidade para ser rentista do sistema financeiro nunca foi tão alto nos últimos anos. Razão pela qual certos endinheirados, como FHC e outros, estão mugrando cada vez mais rapidamente para a especulação imobiliária (ou “investimento em imóveis”, como dizem).  Por fim, o argumento que culpa o tal “custo Brasil”  (de fato muito sério) pela alta do videogame, também é um aspecto estrutural que já vem por algumas décadas. Portanto não explica por que só nos últimos anos as coisas estão tão caras. Agora quando finalmente se encontra um argumento conjuntural que pode dar conta da elevação recente, a saber, a elevação das margens de lucro das empresas, simplesmente o ponto é tangenciado e praticamente rejeitado.

    Voltemos à Microeconomia 1. No mercado, os vendedores buscam trocar suas mercadorias pela maior quantidade de dinheiro possível. Os compradores têm chegam ao mercado com uma certa disposição para comprar, e quanto mais barata (segundo sua disposição) for a mercadoria, mais ele vai comprar – e vice-versa. Desse embate de interesses conflitantes resulta o preço fixado, segundo a economia neoclássica.

    Portanto, se os custos das mercadorias importadas (tarifas, componentes, mão de obra, logística) não mudou, pode ser que o que tenha mudado tenha sido a disposição dos consumidores em pagar mais e, claro, o cálculo dos varejistas de que haverá compradores mesmo colocando preços extremamente elevados. Simplificando: os preços estão caros porque há compradores dispostos a pagar o preço.

    Se você fosse empresário, colocaria o preço a R$ 2.000 se você sabe que encontraria compradores que aceitam pagar R$ 4.000? Por que vender mais barato se você consegue vender mais caro?

  11. Lucro

    Não sou contra o lucro. Sou a favor do lucro decente. Sei que esse é um conceito indeterminado e sei também que o “mercado” não está nem aí pra isso. Ou seja, pelas regras de mercado qualquer taxa de lucro é “decente”.

    Por que insisto nesse prolegômeno. Simplesmente porque a ideologia impede que isso seja dioscutido no Brasil.

    Qual é o principal item na formação de preço? O LUCRO, poi sem ele o bem sequer seria produzido. Truísmo isso? Não! Tem gente que vai morrer acreditando – teleguiado por ideólogos – que são os impostos, os Direitos Sociais, etc..

    Por que os preços, portanto, são altos no Brasil? Por que as taxas de lucro têm que permitir o consumo conspícuo (tradicionalmente lá fora).

    É jogo de soma zero. Pra uma minoria conseguir imitar o estilo de vida da publicidade e do cinema uma maioria têm que viver na indigência. Essa é a lei do mercado. Em uns lugares se reclama mais disso; em outros menos. Em uns lugares o aparato repressivo é empregadpo mais descaradamente; em outros menos.

     

  12. Tem a ganancia sem limites

    Tem a ganancia sem limites das empresa e a muita ostentação; a juventude usa um tenis que custa mil reais aqui e la fora custa 190 dolares, pois bem essa mesma empresa lançou um novo modelo, aqui custa 500 reais e lá fora por ser novidade quase 300 dolares; ou seja, o mais barato lá é bem mais caro aqui e o mais caro lá é a metade do preço aqui, isso não tem lógica nenhuma, é esperteza mesmo; e ainda vem o console que custa quase o preço de um carro para provar que aqui nós somos uma terra de milionarios com certeza.

  13. A Sony vende o PS 4 a R$

    A Sony vende o PS 4 a R$ 4.000,00 ao invés de R$ 2.000,00 porque é mais rentável vender pelo primeiro preço. 

    Se nos EUA o console fosse vendido pelo preço brasileiro, a Sony perderia dinheiro porque muitos consumidores do PS 4 a U$ 399,00 deixariam de comprá-lo.

    Agora, no Brasil, nós temos um mercado consumidor muito menor.

    Se o videogame fosse vendido pelo preço considerado justo (R$ 2.000,00), a Sony teria prejuízo (sim, eles já fizeram este cálculo), pois grande parte do mercado consumidor nacional não teria dinheiro para comprar a este preço.

    De outro turno, existem indivíduos que comprarão o PS 4 mesmo que este fosse vendido a R$ 10.000,00, e outros que, parcelando aqui, se matando ali, pagarão a contragosto os R$ 4.000,00.

    Se me perguntarem, então, SIM, concordo com o autor do texto original que o “Custo-Brasil” mais danoso ao país é a nossa grande concentração de renda. 

  14. 1) E olha que nem foi

    1) E olha que nem foi comentado sobre os custos (e lucros) com imóveis, e olha que são financiados pela Caixa aos montes, principalmente de baixa renda.

    2) De vez em quando comparo nossos preços com sites europeus e americanos. Toda vez sinto que somos riquíssimos.

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