Resposta ao general Ribeiro Souto, por Roberto Kraenkel

Resposta ao general Ribeiro Souto, por Roberto Kraenkel

O general que está envolvido na coordenação do programa de Bolsonaro para a educação deu hoje uma entrevista ao estadão. Contenho as palavras, o melhor que posso dizer é que a entrevista é chocante. Sobretudo pelo desconhecimento da área, pelos preconceitos e enfim,…pela ignorância. Comento algumas afirmações, na ordem em que aparecem na entrevista. Evidentemente, não é uma apreciação exaustiva.

1. “Em qualquer país razoável, 30% ou 40% dos recursos são destinados ao ensino superior. Este ano, aqui, a matriz deve ter chegado a 70% dos recursos para o ensino superior. “

O general parece referir-se aos gastos federais com educação, que estão próximos a 70%. Mas a educação básica, no Brasil, está majoritariamente a cargo dos estados e municípios. Com dados de 2014, teríamos algo como 20% dos gastos totais em educação destinados ao ensino superior. Nada parecido com os dados mencionados pelo general.

2. “A remuneração é quinto ou sexto tópico a se considerar. Pagar muito bem é uma absoluta impossibilidade agora. Antes disso, precisa do discurso de que magistério é importante. Os professores que estão aí precisam começar a acreditar que são importantes, porque hoje ninguém quer ser professor. “

O general acredita que o problema da educação é questão de incentivo. Em dizer: “Nossa! Você é professor, que ótimo!”. Não existe qualquer evidência de que “incentivos morais” sejam uma política educacional bem sucedida. Sejamos claros: o general propõe que a melhora do ensino se dará pelo discurso, pelo incentivo, por um resgate abstrato da autoridade. Se incentivo fosse solução para alguma coisa, todas finais de campeonato seriam entre Corinthians X Flamengo. 

3. “O candidato Jair Bolsonaro é acusado de misógino porque queria a punição de alguém que estuprou a namorada e depois a matou. E a punição desse menor? “.

Essa é campeã de ignorância. O general não sabe o que é misoginia. Sem comentários.

4. “É muito forte a ideia básica de revisão dos processos curriculares, das bibliografias.  Isso precisa ser muito cuidado para não termos absurdos que vimos na TV como livros distribuídos para crianças de sete anos que deixa mães estupefatas………..// …. oi pregado pelo Bolsonaro que ele vai combater num eventual governo dele a ideologização das escolas, a transmissão das questões relacionadas à sexualidade, à ideologia de gênero, que é um direito inalienável dos pais.”

Parece que o problema do general (e de seu candidato a presidente) é o sexo.  Seriam os pais que determinariam a “ideologia de gênero” apropriada ao infante.  Vejo os sorrisos de Freud e Reich, em seus túmulos, dizendo “Eu não disse!”.  E, no entanto, sabemos: a família como “locus”de educação para a cidadania é, antes, uma reprodutora da mentalidade dos pais.  Está aqui, estampada, em todo estupor, a mentalidade conservadora: que a criança seja como os pais, que tenha seus valores.  A educação não serviria para sua autonomia, serviria para a preservação de valores.  Em rechaço,  cabe aqui uma citação de Kant: “ Sapere aude“-  Tenha a coragem de servir-te da tua própria inteligência!“.

5. “ (repórter) E se um pai desejasse que o professor ensinasse criacionismo em vez de a teoria da evolução?

Isso que eu saiba não está errado. Foram questões históricas que ocorreram. Se a pessoa acredita em Deus e tem o seu posicionamento, não cabe à escola querer alterar esse tipo de coisa, que é o que as escolas orientadas ideologicamente querem fazer, mudar a opinião que a criança traz de casa. Cabe citar o criacionismo, o darwinismo, mas não cabe querer tratar que criacionismo não existe.”

Aqui o general adota a posição dos movimentos criacionistas americanos de que é tão válido se falar de criacionismo quanto de evolução.  Isso corresponde a – sem mais nem menos – negar todos os métodos da ciência.  Mesmo aqueles  que não gostam do saber científico ( sim, gostar é o termo…por capricho) precisam admitir que sem a ciência sequer poderiam estar lendo este texto, visto que o computador ou celular no qual o leem são produtos desta mesma ciência.  A afirmação do general deveria saltar aos olhos e propiciar gritos de espanto e indignação entre todas pessoas minimante instruídas.  Mas, car@s,  há, entre meus colegas cientistas, muit@s que – mesmo assim – votarão no candidato do general. Um doutorado não garante sanidade a ninguém. 

6, “Não entro na questão de golpe, porque é algo menor. ……..Agora, sonegar para crianças de dez, 12, 16 anos o que ocorreu? Não concordo. Não gostaria de falar mais sobre o assunto.”

Há, aqui, palavras que apenas insinuam, mas não se declaram abertamente. A insinuação é de que estaria se ensinando de forma errada o que aconteceu em 1964.  O general-educador parece acreditar na existência de uma conspiração comunista ( “Em 1964, houve 450 mortes dentre aqueles que queriam implantar a ditadura do proletariado. Mas houve 117 mortes daqueles que não queriam.”). Tudo isto leva a uma narrativa de guerra entre o mal e o bem, sem qualquer nuance quer permita uma avaliação mais clara do momento histórico.  Não  passa pela mente do general que a história tem múltiplas leituras, de que há várias formas de encará-la.  E, finalmente, o general “não gostaria de falar mais sobre o assunto”. Mas é preciso que se fale, que se saiba, que se esclareça a mentalidade de quem se prepara para ser influente no país. 

Coda…

O oficialato brasileiro nunca se distinguiu pela inteligência, nem pelo esclarecimento. Nunca precisou deles, visto que os militares brasileiros nunca, realmente, tiveram que lutar desde 1945.  Em certo sentido, são dispensáveis. Sua presença na cena atual apenas mostra o desvario da razão (ou seu sono) que nos faz caminhar rumo à mais vulgar ignorância.

 

Redação

14 Comentários

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  1. Aproveitando o ensejo,

    Aproveitando o ensejo, gostaria de discordar de uma frase dita por um importante intelectual, eleito pela terceira vez como deputado federal pelo estado de São Paulo: “Pior do que está, não fica!”

    Fica sim, meu caro palhaço! Fica sim…

  2. Nem Jarbas Passarinho

    Nem Passarinho foi tão despreparado assim.

    A ponte para o futuro de Temer levou-nos a 10 anos de retrocesso.

    A ponte para o futuro de Bolsonaro pretende, ou seria ameaça? levar-nos a 40 ou 50 anos atrás… Vai nos levar, de fato, a 140 anos de retrocesso.

    E com aprovação histórica nas urnas.

    A guerra híbrida em que nossos generais embarcaram se mostrou eficientíssima. 

  3. Ignorancia!

    A maioria absoluta dos Militares Brasileiros são IGNORANTES no que se refere a Cultura, História, Política e Formação Acadêmica…os do Exército são quase totalidade.

  4. Se eu fosse um general não ficaria tão faceiro e saltitante.

    Se eu fosse um general não ficaria tão faceiro e saltitante.

    O generalato brasileiro está todo faceiro e saltitante pois acham que o capitão Coiso vai se sujeitar a hierarquia porque ele foi capitão e eles são generais, pois bem, vamos comparar um cabo que deixou o exército mais bem trinado do mundo debaixo do chinelo, o cabo Adolf Hitler.

    Antes mesmo do cabo Hitler assumir a chancelaria do Reich o generalato alemão tentou enquadrar o Cabo, em 11 de abril de 1934, o comando se encontrou com o futuro chanceler no navio Deutschland e obrigaram que Hitler que contivesse a sua SA (Sturmabteilung) os camisas marrons.

    A partir destes dados vamos estabelecer alguns paralelos da ação do Cabo Hitler e do Capitão Coiso.

    O Cabo Hitler:

    1) O exército alemão possuía um número extremamente limitado de soldados, 100.000 homens, o que só foi ampliado depois foi de voluntários nazistas leais a Hitler. Já a SA (Sturmabteilung) possuía 3.000.000 de homens, armados, uniformizados e hierarquizados sob o comando de Erners Röhm. A SA atuava exclusivamente dentro da Alemanha enquanto a Wehrmacht atuava no exterior.

    2) Em 1 de Julho de 1934 com o assassinato de Ernest Röhm a mando de Hitler, o comandante da SA, não foi eliminada, mas sim passou a ser comandada diretamente pelo Cabo Hitler.

    3) Além da SA, Hitler criou a Waffen-SS que era um exército convencional, possuía 900.000 homens mais treinados e mais bem armados que a própria Wehrmacht.

    4) A força aérea era comandada diretamente por Göring

    5) A única arma que Hitler não tinha comando direto era a Kriegsmarine (Marinha), que excetuando os submarinos, não valia nada, no primeiro ano da guerra os ingleses transformaram a marinha alemã em guarda costeira ou ficou com seus principais navios escondidos para não serem afundados.

    Em resumo a Wehrmacht era quase uma força auxiliar dos nazistas.

    O Capitão Coiso:

    1) A base principal do Coiso é nas polícias militares, todas treinadas em combate, armadas com fuzis e até com Caveirões (uma iniciação ao tanquismo), podendo ser transformadas em tropas principais só com a reunião do Coiso com três ou quatro comandos das polícias militares, prometendo, por exemplo que os coronéis poderão chegar a generais!

    2) O exército brasileiro em termos de tropas treinadas, tropas prontas ao combate, possui uma fração da suas ínfima das suas tropas que em geral durante todo o seu treinamento dão meia dúzia de tiros. Enquanto as tropas das polícias militares estão combatendo e atirando todo o dia e são muito mais numerosas do que as forças armadas.

    3) Como o Capitão Coiso tem a sua base mais fiel nas forças da polícia militar, se ele quiser acaba com o Exército Nacional em semanas, ressentimentos contra as forças armadas ele tem muito mais do que tinha o Cabo.

    4) Após o confronto, pode convocar centena de milhares de bolsominhos para formar o seu próprio exército particular.

    Conclusão final:

    Em resumo, o Capitão pode fazer o que o Cabo Alemão já fez e mandar todo o pessoal cheio de estrelinhas catar coquinhos.

    Se o coiso leu alguma coisa sobre Hitler, e se ele quiser pode simplesmente transformar as forças armadas numa força auxiliar as polícias militares, e não ao contrário ele pode. Se eu fosse os generais colocaria as minhas barbas de molho.

     

  5. A Guerra Híbrida foi um sucesso

    Agora, não há mais dúvidas.

    Conseguiram depor a Presidenta eleita e fazer com que o coiso se tornasse o mais votado entre aqueles que possuem o terceiro grau.

    Exatamente aqueles que deveriam, por seu grau de instrução, repudiar quaisquer equiparações entre criacionismo e a teoria da evolução das espécies.

    Na sequência, os neo “intelectuais” escreverão as novas cartilhas, sem partido, destinadas às crianças, explicando que são as cegonhas que trazem no bico os bebês.  As mais fortes trazem os meninos. Aquelas que fraquejam durante o voo, trazem as meninas.

    Crianças negras, por natureza, são malandras. Já aquelas de origem indígena são preguiçosas. Por isso ambas devem ser “educadas” para, ao crescerem, servirem aos demais de raça superior, ou ariana.

    Explicarão que o homem não descende dos macacos . Na verdade, não descendem mesmo, mas dá um nó na cabeça dos neo “intelectuais” compreender que homens e macacos possuem uma origem ancestral comum e, portanto, é muito mais fácil acusar esquerdistas/comunistas/ateus de propagarem aquela heresia a fim de solapar os bons costumes, a família e a tradição. 

    Então, com o auxílio dos neo “intelectuais”, editarão, por decreto, uma nova versão da teoria da evolução explicando que, na verdade, são os gorilas que descendem dos homens e que são ainda mais evoluídos que os arianos.

    Os manuais de biologia também deverão ser re-escritos. Na versão revisionista, o aparelho excretor pode, graças a uns cascudos bem aplicados enquanto ainda crianças, ser ligado diretamente ao aparelho fonador e às cordas vocais. Com isso, ao se tornarem adultos, falar merda torna-se não só natural, como também grande sinal de prestígio.

     E paro por aqui por começar a ter ânsias de (vo)mito.

     

     

  6. Oficiais brasileiros

    Os oficiais brasileiros são, há décadas, e com a complacência doa governantes locais, Lula, inclusive, formados sob a ideologia ditada pelo goiverno americano para as colônias. Fazem o mesmo ridículo e triste papel dos exércitos locais ao tempo de Roma, que, aderindo ao poder romano, passavam a agir,  dentro de suas fronteiras, como meras milícias a serviço do Império. É este o lamentável papel de imensa parcela (não a totalidade, que sempre há os indivíduos que guardam o amor próprio e o patriotismo) da oficialidade, cujas aspirações são hoje bater continência à bandeira americana, como seu líder psicopata e, quem sabe, ter um marine para chamar de seu. Sem esquecer da ressentida inveja que sentem dos que foram batizados sob fogo alemão nos campos de honra da Itália, coisa que nunca terão. No máximo, o papel vergonhoso, indigno, de serem laranjas do império decadente do norte numa ação criminosa, que já se desenha, contra a Venezuela, completando a destruição da pátria brasileira e de seus princípios.

  7. A culpa é de Dilma

    Claro. Com a minisaia que usava, queria o que?

    A “minisaia” a que me refiro, no caso, tem o nome real de Comissão da Verdade.

    A guerra híbrida começou aí, quando os militares engoliram em seco, e de cara amarrada, aquela cerimônia da qual participaram juntamente com todos os ex-presidentes vivos.

    A partir daí, nossos generais embarcaram na guerra híbrida que consiste em um processo de bombardeio incessante de informações e contra-informações, fazendo sentido ou não, não importa, com o objetivo, não só de confundir o inimigo, mas também de obter apoio da população.

    Meticulosa e disciplinadamente empregaram as táticas e doutrinas militares aprendidas em seus cursos de formação com material didático elaborado por “nossos eternos aliados” norte-americanos. Na parte final, buscaram a experiência de setores que já haviam empregado, com êxito, sua metodologia, não somente em seu país natal, mas também em outras partes do mundo.

    Aplicando a máxima de seu mentor, Steve Bannon, discípulo aplicado, de Goebbels dos tempos modernos, para o qual “Os fatos não importam, o que importam são as emoções”, que eu chamaria de uma doutrina Chacrinha mais elaborada “eu não vim para explicar; vim para confundir”.

    Já antes da glorificação da tortura, eram empunhados lemas que horrorizariam o mundo ocidental: “direitos humanos para humanos direitos”. Mas isse foi ainda antes da entrada para valer na guerra híbrida.

    Muitos outros participaram desta guerra, alguns involuntariamente como inocentes úteis. Contribuíram para o êxito da empreitada, entre tantos, os meios de comunicação por intermédio de diversos dos seus jornalistas auto declarados “isentos e independentes” e o poder judiciário, com o supremo, com tudo. Quanto aos que sabiam conscientemente do processo, deixo para os historiadores desvendarem; deixo humildemente a sugestão de que iniciem suas pesquisas buscando as obras completas de Romero Jucá.

    Pedem a mea culpa do PT; a cabeça de Lula em uma bandeja de prata. Mas muitos desses jornalistas, hoje, tentam colocar a pasta de dentes de volta ao tubo, que alegremente pisotearam, sem sequer mesmo admitirem sua participação.

    Deles, não devemos esperar a mea culpa. De onde menos se espera, daí mesmo que nada virá. 

    Assim como Collor acusou Lula de querer confiscar as poupanças, para ele mesmo faze-lo depois, o “coiso” acusa Haddad e o PT de quererem transformar o Brasil em uma nova Venezuela. Transformação esta que, de certo, ocorrerá celeremente a partir de janeiro, embora já esteja a caminho.

    Difícil não lembrar que em 64 o pretexto foi similar: o de que o Brasil se tornaria uma nova Cuba e de que era preciso lutar com Deus e a família contra a corrupção e a subversão.

    Parabéns, generais. Mais uma vez o Brasil se curva diante da vossa espada, ainda que encoberta pelo pano sujo de uma nova arma tecnológica..

    Missão (encoberta) dada; missão (encoberta) cumprida.

  8. Bom dia: um estardalhaço
    Bom dia: um estardalhaço enorme para quem não entende de nada e se julga um universalista; você falou muito e não disse nada de útil ou inovador e nem conseguiu sequer manter seus argumentos! O que tem a ver criacionismo ou evolução das espécies com a produção e desenvolvimento de tecnologia?

    1. Claro, é inútil discutir com
      Claro, é inútil discutir com pessoas como você. Mas vamos lá, lembrando que isso não é direcionado a você que sabe tudo e mais é uma visão, dentre outras, do que você pensa que é fato acabado. Até meados de 1925, ou pouco depois, não lembro, os americanos não ensinavam evolução nas escolas. Até o Tennessee, no tal Julgamento do Macaco. Depois disso, os soviéticos tomaram a dianteira na ciência e os americanos vendo que estavam perdendo protagonismo, propuseram mudanças na grade currícular e um dos carros-chefe dessa mudança foi o ensino da Evolução. E então somado, enfim, aos investimentos produziram uma mudança notável nas ciências.
      Isso, claro, é em linhas muito gerais, o que expus, afinal não é uma monografia.
      O que quero deixar claro aqui é que, pra mim, pelo menos, não importo nada com a crença ou falta dela em ninguém. Isso é questão de foro íntimo, e dois: o General precisa ainda se educar bastante, até para saber do que ele mesmo está falando.

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