Os riscos dos exageros do politicamente correto, por Luis Nassif

Recusar-se a debater um tema alegando ter sido de “homem branco”, é se apossar da luta das mulheres como álibi para o não-debate

Sou a favor das políticas identitárias. Recentemente, quando fui alvo de violenta campanha de lideranças judaicas – em função de uma declaração de um entrevistado – alguns leitores consideraram “bem feito”, pelo fato de eu ser um defensor das pautas identitárias.

Apesar de ter achado um evidente exagero – de usar contra uma frase, talvez politicamente incorreta, mas dita sem dolo, as mesmas armas utilizadas contra, por exemplo, as declarações de Bolsonaro – continuo um defensor das pautas identitárias.

Mas seria conveniente que, especialmente as pessoas de melhor nível, não desmoralizassem o conceito. O exagero do patrulhamento do politicamente correto foi uma das principais armas utilizadas pelo olavismo para desmoralizar princípios civilizatórios. É só lembrar as campanhas de Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi contra qualquer princípio humanista, tomando por álibi o que consideravam exagero do politicamente correto..

É o caso da repórter Patrícia Campos Mello, respondendo a uma crítica de Reginaldo Nasser.

Reginaldo formula uma crítica civilizada, que independe do sexo do(a) criticado(a). Diz que houve um “equívoco” no texto de Patrícia.

A resposta se vale do truque do politicamente correto. Trata o comentário de Reginaldo como decorrente da “incrível autoconfiança do homem branco. Quando a opinião é diferente da opinião dele, ela é um ‘equívoco’”.

Ora, o tema não era ligado à pauta feminista, o tom educado da crítica caberia em qualquer contexto, e não pode ser ligado a nenhuma forma de preconceito. A troco de quê invocar um argumento que caberia apenas em contextos machistas? Ou seja, para fugir do debate, Patrícia invoca um argumento sexista. Não há razão nenhuma para esse sentimento de inferioridade, esboçado por Patrícia, que é uma repórter reconhecida.

Como bem comenta Nasser, trata-se de um truque para interditar o debate. Recusar-se a debater o tema, alegando ter sido de um “homem branco”, é se apossar de bandeiras legítimas da luta das mulheres como álibi para um não-debate.

Seria conveniente Patrícia ouvir seu colega de Folha, Antonio Prata:.

 “O politicamente correto está atingindo seus objetivos, ou o remédio está sendo pior que a doença? Acho que está dando errado, porque está fazendo as pessoas ficarem com mais ódio”, disse. “O bolsonarismo permitiu às pessoas fazer piadas com essas coisas. Precisamos contar uma piada melhor e convencer essas pessoas a vir para o nosso lado.”

Parafraseando Celso Viáfora:

Nem toda crítica a uma mulher é machista.

Nem toda crítica a um judeu é antissemita.

Nem toda crítica a um negro é racista.

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Nassif, o “remédio” está em super dosagem. Por exemplo, quando é que se vai falar sobre as falsas acusações de assédio, agressão verbal da mulher em relação ao homem, às calúnias e difamações que o inviabilizam no trabalho, queimam a sua reputação, resguardam injustamente a mulher em casos de alienação parental. Hoje temos na sociedade, mais do que nunca, a palavra de um gênero em detrimento sobre provas factuais (“não temos provas, mas temos convicção”) e com isso se é preso através de leis sexistas, não favorecendo um balanço verdadeiro na harmonia das relações.

  2. Alguns enfoques possíveis para melhor desdobramento posterior:

    1- A empáfia de muitos pitaqueiros profissionais da mídia porcorativa, que se consideram oniscientes, infalíveis e acima de qualquer crítica, mesmo quando esta vem de alguém muito mais especializado no assunto, apelando então para a dialética erística;

    2- A reiterada conduta rancorosa de Patrícia Campos Mello e Vera Magalhães, mesmo após as ondas de solidariedade às duas nos episódios das ofensas bolsonaristas, que além de arrogantes também gostam de distribuir patadas em qualquer um que discorde se seus peremptórios vaticínios;

    3- Os severos danos ao debate público de ideias acarretados pelo contemporâneo combo “afetação de vitimismo”, “cultura de lacração”, “cancelamento dos diferentes” e “desautorização por lugar de fala”. Modismos pseudo-intelectuais que, misturados no presente caldeirão de desinformação, ignorância, impaciência, vaidade e manipulação das redes sociais, inebriam os mosquitos atraídos pelas luzes.

  3. “O exagero do patrulhamento do politicamente correto foi uma das principais armas utilizadas pelo olavismo para desmoralizar princípios civilizatórios.” CERTA VEZ, no Facebook, quando ainda habitava por lá levei mais pedradas que Estêvão, ao lembrar a uma galera pra lá de embalada que “a minha liberdade de hoje custou o sacrifício de Hipácia, de Giordano Bruno e do próprio Jesus”. E que não gostaria que seus martírios tivessem sido em vão, só porque alguém, inflamado, e com comedimento zero resolveu estumar a matilha adormecida do fascismo.

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