A descrença em tudo abriu caminho para o nazismo

Sugerido por André Sousa
 
Do O Globo
 
Sobre nazismo e descrença política
 
Por Arnaldo Bloch
 
Quando a desilusão contamina a consciência cívica, um monstro sempre responde à evocação da massa, disposto a salvá-la
 
Numa das entrevistas concedidas ao jornalista “independente” David Barsamian entre 2010 e 2012, reunidas no livro “Sistemas de poder” (Editora Apicuri), o linguista, filósofo e ativista político americano Noam Chomsky alerta para os perigos da descrença na política.
 
A desilusão com os políticos e os partidos, ele recorda, já era forte antes da Depressão e foi uma das condições fundamentais para que o nazismo surgisse numa Alemanha que era considerada um modelo de democracia parlamentar e colosso da civilização nas artes e nas ciências na década de 1920.
 
Chomsky faz então uma analogia que ele mesmo considera imperfeita, mas irresistível, com o que ocorre hoje nos Estados Unidos, onde a raiva contra empresas, governo, partidos e instituições leva metade da população a achar que todos os que estão no Congresso deveriam ser postos no olho da rua.

 
Diz Chomsky: “Em 1925 houve uma votação popular maciça em Paul von Hindenburg para presidente. Ele era um aristocrata prussiano, mas seus eleitores eram lojistas pequenos burgueses, trabalhadores desiludidos etc. — na realidade, eram demograficamente pouco diferentes do Tea Party. E se tornaram a massa de base do nazismo”.
 
Linha evolutiva
 
É óbvio que a descrença política é a expressão de um sentimento legítimo que pode, e muitas vezes deve, ter viés positivo: alimenta a massa crítica e está também na base de ações nobres, de manifestações redentoras, nas formas não violentas de anarquia (e das controversas “ações diretas”, que vão de flash mobs aos agressivos black blocs) e na filosofia. Quando, contudo, a desilusão toma uma forma difusa e contamina a consciência cívica do cidadão com um ânimo de dissolução, nutrido por medo, frustração pessoal ou associativa, mágoas e ímpetos de expiação — um monstro, então, sempre responde à evocação da massa, disposto a salvá-la do suposto abismo.
 
Isso não significa que tais fenômenos entre o niilismo (a busca do aniquilamento pelo aniquilamento, a descrença radical) e seu oposto (quando se aspira à destruição seguida de uma reconstrução salvadora, a qualquer preço) sejam fábricas de hitlers em série. Hitler foi um monstro singular e único, de sua época.
 
Por isso, sempre que se usa o nazismo como parâmetro comparativo, os circunstantes protestam, pelo caráter emblemático da tragédia. Mas emblemas servem para isto: para se diferenciar pela semelhança. Para não esquecermos que tudo pode acontecer de novo de outro jeito, com outro nome e com outros alvos. Monstros há para todos os gostos, desde que haja condições propícias para sua emergência. A Guerra ao Terror pós-11 de Setembro viu germinar George W. Bush, o monstro da mediocridade, cercado por uma corte de fundamentalistas, num país ameaçado por monstros criados pela sua própria política externa, e transformados em seus algozes. Isso naquela que é considerada por muitos a democracia por excelência, como o era a República de Weimar nos anos 1920.
 
Na França, onde a alma do colaboracionismo de Vichy continua viva e os líderes de qualquer cor adoram depositar flores no túmulo de Pétain, a detestável Frente Nacional, partido de extrema-direita cuja persistência vem dando seus frutos mais gordos neste tempo de alta xenofobia europeia, ameaça ganhar as eleições parlamentares depois que Marine le Pen transformou o discurso de seu pai, Jean-Marie le Pen, numa paçoca de fascismo light. Nessa família-monstro não se sabe quem é pior, se o pai, puro, ou a filha, dissimulada.
 
No Brasil, um caldo ruim está se formando. Ao ativismo pseudossimbólico dos black blocs, espécie de brigada oportunista que aposta no caos e que não tem a estatura de seus ascendentes americanos e europeus, as autoridades de São Paulo respondem com a Lei de Segurança Nacional, que deveria estar extinta. No Rio, a política de segurança frente às manifestações já se provou um desastre completo, com suas obscuras estratégias, suas simulações e sua tentativa de criminalizar, por tabela, o direito de protesto.
 
São os monstros, sempre de plantão, respondendo aos apelos dos que torcem pelo pior. Isso porque o Brasil está com pleno emprego (ou quase) e não há uma crise econômica no sentido clássico. Imaginem se houvesse. Nas ruas, como sempre, ouvem-se os saudosistas da ditadura. E sempre dizemos do Brasil que é um país complexo demais e que suas instituições estão maduras o suficiente para que nossa jovem (já nem tanto) democracia resista, sempre.
 
É preciso, contudo, não se fiar nisso, lembrar diariamente que a história não é uma linha reta evolutiva e que democracia não é ciência exata. Como se disse e se repete, é apenas o melhor regime até prova em contrário.
 
É preciso lutar por ela antes que alguém prove o contrário na base da porrada.
Redação

17 Comentários

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  1. Descrença de “tudo”.

    Somos uma sociedade civil despolitizada e descrente das coisas que dependem dos pareceres políticos, para que as coisas aconteçam e façam parte de nossas vidas, e isso, vem desde a nossa formação infantil, passa pela falta de formação política na s escolas, e são eternizadas naquela formação futura, de que religião e política, não deve ser discutido nem praticado, por quem não é do “meio”.

    Êrro maior, não existe. E é esta drescrença, que faz com que maus administradores públicos e falsos líderes, descaminhem os rumos de uma nação, para regimes políticos extremistas e inabomináveis, como o nazismo e o facismo dos europeus, e a ditadura, que nos afetou tanto, e de cujo regime, sequer aprendemos algum ensinamento.

    Uma nação que se quer forte, e atuante, tem que ter em seu meio, pessoas militando e defendendo seus direitos, sem esquecer os deveres, e jamais deixando de participar, pois só assim, deixaremos de correr riscos, como o de sermos levados a regime de excessão.

    1. A formação, ou talvez seja

      A formação, ou talvez seja melhor dizer doutrinação, religiosa já ocorre nos lares e mesmo na escola, pois o ensino religioso ainda existe apesar do estado ser laico.

      Só a política que é “tabu” completo. Mas ainda assim daria para relacionar que a qualidade dos administradores públicos também está relacionada com a falta de formação dos mesmos. Não esquecendo, é claro, do interesse pelo poder em si e não como um meio para melhorar o país. Enquanto não se discutir ou ensinar ou que é (ou deveria ser) política, a base “aliada” continuará sendo um problema para quem quer que for governo.

  2. Me casou surpresa ver um

    Me casou surpresa ler os primeiros parágrafos deste artigo saído das páginas do grupo “globo”.

    Se inicialmente a matéria demonstra a importância da política, termina por desancar no que é comum das organizações Globo; a tragédia, o golpismo, e a descrença dos movimentos de rua.

    O alerta que o artigo traz é válido, real, e preocupante. A forma que ele situa os problemas é pobre e direcionado.

    Qualquer abordagem sobre este tema, se a intenção for construtiva, deverá obrigatoriamente passar pela análise das causas que estão provocando esta “desilusão”.

    Quase sempre as análises tocam às possíveis consequências. O problema é que se estas se concretizarem aí, como se diz, “a inês é morta”. É como se criarmos uma bolsa de apostas sobre as consequências, as causas seriam eliminadas.

    Outra condição pouco abordada é o contexto do todo, talvez pela próprio paradigma atual que procura se separar em partes para tentar se entender o todo.

    Digo isso pelo  motivo de que tais manifestações tem ocorrido pelo mundo e com bandeiras muito diversas. Portanto, analisar o que está ocorrendo no Brasil sem levar em conta de que se trata de um movimento mundial ocorrido em países de culturas diversas, de políticas distintas não facilitará o entendimento dos problemas

    Outro grande equívoco é quando se coloca os  Black Blocs como centro, quando na realidade estes grupos se apresentam de forma periférica, talvez complementar, mas com certeza de forma oportunista.

    O que se deve questionar prioritariamente é o motivo por que os jovens em todo o mundo estão tão descontentes.

    Qualquer tentativa de busca de soluções deverá passar pelo questionamento acima.

    Por aqui, no Brasil, Dilma já demonstrou que entende perfeitamente os problemas, e diferentemente da matéria que começa afirmando;

    “Quando a desilusão contamina a consciência cívica…”;

    nossa presidenta  entende que é a falta do exercício da consciência cívica que está causando a desilusão.

    Neste sentido ela tomou as primeiras decisões ao convocar os grupos representativos da sociedade para reuniões, e ao defender um plebiscito para que a população seja inserida no contexto político, exercendo as suas funções cívica e política.

    Está aí a diferença de abordagem entre os que;

    1)  entendem, aceitam, e concordam com os anseios da população, e dentro desta inteligência procuram apresentar soluções e alternativas

    2)  os que fingem entender, distorcem, e setorizam os problemas, para que soluções não sejam dadas;

    3)  os que enfiam a cabeça na terra, como avestruzes, fazendo de conta que são movimentos isolados, difusos, baderneiros, e passageiros.

    É interessante que o artigo cite; “George W. Bush, o monstro da mediocridade, cercado por uma corte de fundamentalistas, num país ameaçado por monstros” quando o grupo faz o mesmo quando se refere ao PT, e dando, constantemente, voz a políticos como Serra e Bolsonaro.

    1. Assis, apesar do início ter

      Assis, apesar do início ter provocado surpresa, acho que a essência do artigo está no final:

      “É preciso lutar por ela antes que alguém prove o contrário na base da porrada.”

      O medo é da perda do controle da democracia (meramente representativa, pois qualquer coisa além é um perigo)…e também do pessoal que tá começando a bater na porta da Globo.

      1. “As recentes batalhas urbanas

        …”Se é verdade que a violência política de rua pode não ser boa para a democracia, é preciso também olhar para o outro lado da coisa: a crise de legitimidade e de governança, a corrupção, a volúpia ilimitada do mercado financeiro e uma sociedade que não oferece alternativas para milhões de jovens,  também não fazem bem à democracia. A violência dos jovens é um sintoma dessa crise. Se não percebermos isto, estaremos adotando uma postura conservadora e a conseqüência será a reação violenta do Estado contra as manifestações, algo que, aliás, já vem ocorrendo há bastante tempo. Não se trata, assim, de justificar a violência, mas de perceber suas causas reais para buscar soluções.”

        Aldo Fornazieri – Cientista Político e professor da Escola de Sociologia e Política.

  3. E lembrar que nós contamos

    E lembrar que nós contamos com um a imprensa terrorista, na medida em que abraça e agasalha tudo que vem da oposição e descontroi, quando pode, tudo que é da situação, embora vendo e sabendo ser a situação uma coisa boa que permanece no Poder, apesar dos pesares. Vivemos melhor que nas eras Sarneyh, FHC e Collor, com toda certeza; só não enxerga isso quem tem problemas graves de miopia. 

    Hoje mesmo, numa clínica, via parte do Bom Dia Brasil (é só a tv que o povo liga), e lá estava uma matéria indigesta pra quem, como eu, não torce pelo Brasil pior. O assunto foi ENEM. Aí, colocou-se o número de candidatos, comparados aos dos anos passados, como sendo muito maior e expressivo, etc., até revolver o passado ruim, narando aqueles episódios desagradáveis, porém possíveis de acontecer em qualquer circunstância do gênero, pelos interesses envolvidos, e pela grandiosidade do progrma, desde o seu nascedouro. O fato é que o terrorismo se sucedeu novamente, como previsível, e assim terminou a reportagem: “Será que vamos ver a mesma coisa?” (algo assim). Então a gente sente a perfeição da maldade, na medida em que tudo é absolutamente trabalhado e posto em prática pra que o povo, desencantado com o Governo, ou que nunca aceitou PT nenhum no comando, se alimente de mais uma praga, diferente da de ontem, e da que virá a ser amanhã noutro jornal dessa infeliz Globo.

    Penso que, diferente de Caetano Veloso, entre outros estúpidos, Black Blocs é um grupo de arruaceiro, que oferece um grande perigo, inclusive pra nossa Democracia, e que, a prosseguirem os atos insanos dessa tropa, com nossas polícias totalmente despreparadas para lidar com essa novidade, enfim, muito de negativo poderá acontecer ao nosso Brasil. Fosse a polícia preparada, já teríamos mais dados sobre quem realmente são esses bandidos mascarados sem a polêmica havida a cada manifestação.

  4. Um fato: só quando se perde a

    Um fato: só quando se perde a democracia é que a avaliamos como essencial. O melhor dos sistemas,

    Hoje os que satanizam  nas mídias, nas redes sociais, em praças públicas, a práxis política, serão os mesmos que implorarão por sua volta. 

    Por isso, insisto: para esse tipo de pensamento não se pode “dar refresco”.

  5. O Brasil e suas estranhezas:

    O Brasil e suas estranhezas: em vez de se procurar causas para os diversos fenômenos(sociais, políticos, culturais etc) primeiro se os legitima para depois procurar as suas gêneses. 

    Caso, por exemplo, das análises dos atuais movimentos de ruas, aí íncluso, o tal de “black boards”. 

    Parte-se, de chôfre, logo os  justificando e até os  sublimando. O mesmo que dizer que a laranja é doce antes de prová-la. 

    Toda análise prescinde de “olhar” neutro. Se não vira torcida.

  6. Um exemplo de gérmen de

    Um exemplo de gérmen de nazismo ocorreu durante as eleições de 2010. Um candidato oposicionista procurou despertar forças ocultas para angariar mais votos. As igrejas evangélicas, inclusive a igreja católica, foram utilizadas com esse intuito. Um bispo católico mandou imprimir centenas de milhares de panfletos contra a candidata Dilma para passar a ideia de que ela era favorável ao aborto. Forças de extrema direita também foram instadas a colaborar com o candidato nazista.

  7. O arauto da paz , o estadista

    O arauto da paz , o estadista , não cansa de pedir “…é preciso mais política “…, … “não há há solução para os problemas da humanidade , fora da política”. O estadista repete essa ladainha , como se fosse um mantra , em todos os foruns . Seu nome é Lula , que considera a representação política o instrumento mais civilizado para a solução dos conflitos e demandas sociais. Fora do diálogo , as soluções são definidas pela força , pela luta , pela guerra. Creio que , é um bom momento para o Lula ser indicado ao Nobel da Paz , afinal , depois das últimas premiações , o Nobel está precisando de moral , está meio caidinho …

  8. Existe uma descrença

    Existe uma descrença generalizada nas instituições, e não é por acaso. Não podemos contar nem com o poder público e nem com a justiça e aguns acham que isso é culpa da despolitização do povo? Isso é complexo de ex-colônia, acreditar que não vamos para frente por culpa da ignorância do povo.

    E estamo indo para frente? Economicamente pode até ser, mas vivendo em um país em que se pode matar na cara dura, ser condenado e ainda recorrer em liberdade durante décadas até o crime precrever (se você for influente e/ou tiver dinheiro para um bom advogado), com leis feitas por políticos que continuam manobrando rumo a um bilhão de normas feitas para não funcionar! É claro que estamos indo para trás e não acho que isso dê um bom resultado…

    Outro dia estava conversando com um senhor a respeito disso e chegamos a conclusão que a único caminho que isso pode levar é a uma guerra civil. Perguntei: em quanto tempo será que chegaremos a esse ponto? Eu suponho que podemos chegar a este ponto em 10, 20 anos ou um pouco mais, o meu interlocutor apostava em 5. É imprevisível, mas o nível que hoje temos de injustiça não pode durar muito tempo.

    1. Olha Marcio, acho que tem

      Olha Marcio, acho que tem gente querendo apertar o passo. O prazo é 2014. Acho que tem muitas forças se movendo para o Brasil estar no meio de uma guerra civil por volta das eleições. À direita e à esquerda.

      O vendo hoje na globo o jornal Hoje a reportagem sobre a manifestação na Barra da Tijuca contra o leilão do pre-sal, dava para notar a torcida da reporter. “Um grande incêndio, estamos vendo muita fumaça, muitos tiros de balas de borracha”, e quando a imagem mostra tinha menos de trinta moleques jogando pedras na polícia e queimando um pneu, nenhum policial atirando, a não ser algumas bombas de gás, também não vão ficar levando pedrada de moleque, né? A reporter ainda continuou insistindo até que alguém deve ter falado do mico. Não tem preço ver a cara da Sandra Annerberg, frustação pura. Pô, cadê a revolta popular? Só tinha uns playboys sarados com as mãos cheias de pedra, tudo filhinho de papai. O Cansei juvenil.

      Tem até hoje aqui no blog o Aldo Fornaziere, de novo, tentando justificar a violência. O Psol grita “Não vai ter copa nem olimpíada”, parece que o programa da esquerda é derrubar o PT. Sem contar com os black bobos, “estamos lutando por uma causa que a gente não sabe qual é, mas que vai ser grande no futuro”, aquecendo os músculos e testando os limites da autoridade constituida.

      Enfim, uma enxurrada de cliches e slogans, bem práticos para se montar uma revolução via face ou tweeter.

      Como se diz aqui no Rio: imagina na Copa!

      1. A história se repetindo…

        A história se repetindo… Sempre que existe um risco de revolta popular a elite arruma um jeito de se adiantar e fazer ela mesma a “revolução”.

        Vejamos: quando Portugal não tinha mais como segurar as revoltas pela independência, o próprio filho do rei a realizou, para que outro aventureiro não a fizesse. Quando não dava mais para segurar as ideologias republicanas, a república foi proclamada e no dia poucos sabiam disso, a notícia circulava como um boato. Depois a república velha foi ficando cada vez mais insustentável, quando não dava mais as oligarquias realizaram a “revolução” de 1930 e posteriormente algumas concessões legais. E é assim que vem acontecendo na nossa história.

        Hoje nós temos justiça e poder público emperrados, já está bem próximo do insustentável. Eles sabem que está ficando insustentável, por isso torcem por uma revolta, só querem uma oportunidade para tomar as rédeas e relalizar eles mesmos uma “revolução”. Eu sou cético quanto ao resultado disso, pois acho que as pessoas estão revoltadas e não fazem a mínima idéia do que fazer no caso de serem bem sucedidos, mas aqueles sabem muito bem.

        É possível olhar para trás e fazer algumas previsões futuras. Não acho que isso vai se sustentar por muitos anos e acho que as alternativas são:

        1 – A elite política vai simular mudanças para que no fundo tudo permaneça como está.

        2 – Vamos ter mais um golpe para a manutenção da “ordem”.

        3 – Uma revolução simulada como muitas vezes já ocorreu no passado.

        4 – Guerra civil como nunca houve antes aqui, com resultados imprevisíveis.

  9. >>>>ESSE É O PLANO!<<<<

    É nesse sentido que vemos projetos como o eleições limpas, entre outros.

    O primeiro problema do ELEIÇÕES LIMPAS refere-se à questão dos plebiscitos e referendos, que são destacados em seu texto, mas na prática não tem absolutamente nada alterado. A Constituição separa a iniciativa popular dos plebiscitos e referendos. Ou seja, são institutos distintos, não adianta facilitar as inicitaivas populares, achando que estamos fazendo o mesmo com os plebiscitos e referendos. Precisamos alterar essa disposição constitucional para tal:

    Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

    XV – autorizar referendo e convocar plebiscito;

    Isso se quisermos iniciar a DEMOCRACIA DIRETA no Brasil. Da forma como está redigido o texto, dá impressão que será feito exatamente isso, mas no fundo não mexe em nada. Eles poderiam muito bem terem se inspirado nesse trecho da PEC 45/2011:

    “Os projetos de lei de iniciativa popular, quando rejeitados pelo Congresso Nacional, serão submetidos a referendo se, no prazo de um ano, cinco por cento do eleitorado nacional, distribuídos em pelo menos cinco estados, com não menos de três décimos dos eleitores de cada um deles, o requerer.”

    http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=90865&tp=1 

    Porém numa verdadeira traição de quem foi eleito por um partido comprometido com a DEMOCRACIA DIRETA, esse texto foi retirado do projeto, que hoje tramita na Câmara, sob número 286/2013:

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=342261375909531&set=a.300951956707140.1073741826.300330306769305&type=3&theater   

    VOTO EM LISTA

     

    MAS O QUE É VOTO EM LISTA?

     

    É o fim do nosso direito de mandar os políticos pro olho da rua.

     

    Na última eleição eles tinham dobrado o próprio salário, e demos o troco com nosso

     

    VOTO DE PROTESTO

     

    NÃO REELEGER NINGUÉM

     

    Teve lugar que mandamos até 70% deles pro olho da rua.

     

    Dessa vez eles não atenderam as reivindicações populares, e estão votando contra nossa maior participação na política. Querem apagar nossa voz., e se a situação não for revertida, faremos uma campanha ainda maior, para não reeleger ninguém.

     

    Se a proposta do ELEIÇÕES LIMPAS passar, na próxima eleição não teremos escolha. Serão eles que escolherão quem será eleito, ou melhor, REELEITO. Pois o povo votará apenas nos partidos políticos, e o voto irá para os candidatos que eles escolherem, não nós.

     

    Voto em lista pode ter suas vantagens, mas só é admissível onde se tem o RECALL, nosso direito de cassar os políticos por iniciativa popular:

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=303097703159232&set=a.300951956707140.1073741826.300330306769305&type=3&theater

     

    O ELEIÇÕES LIMPAS está se demonstrando mais uma manobra para a perpetuação no poder daqueles que pertencem à casta de caciques políticos, os donos de partidos.

     

    Se não abrirmos o olho, até o mísero direito de votar a cada 4 anos e retirá-los de lá, poderá acabar. Porque não teremos mais opção. Isso gerará o completo descrédito, e desinteresse na política pela sociedade, favorecendo a campanha do “NÃO VOTE”. É tudo o que os conservadores querem, que não possamos fazer mais nada contra eles. Vejam o que o desinteresse político fez com Portugal, onde metade das pessoas deixou de votar:

     

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=301765493292453&set=a.300951956707140.1073741826.300330306769305&type=3&theater

    Fica aí essas duas perguntas ao pessoal do ELEIÇÕES LIMPAS:

    __Por que não alteraram o art. 49 XV da Contotuição?

    __Por que não trouxeram junto a proposta do RECALL? 

  10. O  artigo de Arnaldo Bloch  

    O  artigo de Arnaldo Bloch   destrincha, de forma perspicaz e inteligente, a onda de intolerância que está se formando no Brasil, estranhamente camuflada de “revolta popular”. Ele nos alerta para o perigo da violência difusa se tornar uma ameaça mais do que a paz social, ou a processo de crescimento do Brasil dos últimos anos,  mas ao Estado democrático de direito. Em última análise, a nossa democracia, a duras penas conquistadas, a despeito de todas as suas fragilidades (ainda capenga, é verdade, mas em igual medida fundamental) corre risco.  

    A equação é relativamente simples e tenho notado isso desde o levante de Junho. Naquele mês, jovens se insurgiram de forma legítima contra o aumento das passagens e, na carona disso, muitos outros grupos resolvem sair as ruas com suas causas das mais variadas. A mídia, que num primeiro momento foi contra, quando vê naquilo uma oportunidade rara para usar contra o governo, aproveita o enorme potencial formador de opinião de que dispõe para colocar suas agendas na ordem do dia. Contra a corrupção política (a indignação seletiva) contra a PEC 37 (que inchou um MP controverso dentro dessa mesma lógica), contra os médicos cubanos (que já estão aí salvando vidas) e mais tarde contra os embargos infringentes (um direito e não um benefício). 

    Acho desnecessário falar aqui do papel oposicionista assumido por essa mesma mídia, depois que Lula ascendeu ao poder em 2003. Durante vinte e quatro horas do dia TUDO o que veio desse governo foi distorcido, sabotado e mal informado a população. Desde o seu principal programa de grande impacto, o Bolsa Família (que acaba de ganhar o Nobel Social pela quantidade de pessoas que tirou da miséria extrema), até a politica externa que deu um tranco na correlação de forças fugindo da subserviência a Washington se aproximando da AL, da China e da Rússia,  a condução da política econômica (ah, os saudosos de FHC); enfim, o Brasil enquanto crescia dividia renda,  gerava empregos e era cada vez mais respeitado lá fora,  foi achincalhado  na mídia direitista e colonizada nos últimos dez anos. Isso é um fato.

    Acontece que os jovens, essa geração que agora chega a faixa dos vinte poucos anos, criada nas redes sociais, diferentemente das gerações anteriores, estava antenada com novas questões como sustentabilidade, ecologia, saúde alimentar, buscas espirituais, etc_ e, foi se distanciando da política, se voltando para o seu mundo e trocando, ou melhor “compartilhando” apenas entre si. Mas as informações sempre estiveram ali, no dia a dia, somente o lado sujo da atividade política (que de fato existe e deve ser combatido) e tudo de ruim que a Globo e a Veja sabem divulgar como ninguém!

    De repente o “gigante acorda”. E esse jovem de classe média, que hibernou dos 18 aos 28 anos (ou em torno dessa faixa) sem entender nada direito do que estava acontecendo, se sente (justamente) motivado a ir as ruas protestar “contra tudo isso que está aí “. Mesmo que não saiba direito o que significa a Pec 37, mesmo que não consiga ainda assimilar o fascismo embutido na proibição de bandeiras de partidos, que não tenha a dimensão de que a corrupção deve ser combatida em toda a sua abrangência, senão vira discurso falso da direita golpista, mesmo que não saiba que o Brasil não é esse inferno que a mídia partidária e os partidos de extrema esquerda, oportunisticamente, lhes tentou fazer crer. 

    O resultado está aí: Uma geração que (só agora) fez o certo em virar as costas para a mídia oficial emburrecedora e reacionária, mas vacilou feio ao se distanciar demais da vida política nacional , deixando ser capturada pela rede social do playboy americano, que não deixa respirar, reduz a um simples meme (charge) questões complexíssimas, excita a todos e lança nas ruas pessoas bem intencionadas e cheias de fúria. 

    Estamos vendo diante dos nossos olhos um Brasil mais intolerante surgindo. Fruto da informação distorcida e tendenciosa que invade a telinha do computador e os conecta de forma avassaladora.

    A entrevista do estudante da UFRJ  Ciro Oitica, o “preso político”(ênfase nas aspas) mais comentado do momento, logo após a sua libertação, é reveladora. Atentem a primeira pergunta, pois as demais são apenas uma decorrência desse pensamento geracional que está botando pra quebrar nas ruas. Ao ser perguntado pelo jornalista quando foi a sua primeira manifestação e a sua motivação para ir as ruas, o jovem ativista respondeu algo parecido com: “Desde junho eu tenho participado. As motivações foram inicialmente os serviços públicos de péssima qualidade, a pouca representatividade e a profundidade da desigualdade social.”

    A reivindicação por melhoria dos serviços públicos, que ele fala, é uma demanda legítima, colocada na pauta pelo MPL e incorporada também a agenda da classe média que sofre com o transporte e o caos urbano nas cidades. Até aí tudo, ok. A questão da baixa representatividade é polêmica, pois é muito vaga. Existe a opção  de reformar o sistema por dentro através de reformas, ou de explodir a democracia representativa de vez, com bombas no parlamento. Caminhando ao lado da turma do PSOL, e de Black Blocs, fica difícil entender qual é o sentimento das pessoas que ali estão. Me parece um sentimento difuso e confuso também…Muitos votam  no Freixo, mas, pelo visto, não hesitariam em queimá-lo vivo dentro da Alerj.

    Por fim, quando o jovem fala no aumento da desigualdade social demonstra um surpreendente descolamento da realidade, e é um pouco disso que eu tento trazer a reflexão. Em que mundo ele viveu nos últimos dez anos para não ver o que aconteceu aqui no Brasil, que reduziu suas discrepantes diferenças sociais como em nenhum momento ao longo da História?! Ou seja  essa grita pela redução da desigualdade é muito semelhante a grita contra a corrupção. Tá na boca da elite desde os tempos da ditadura militar, e na maioria das vezes, da boca pra fora, ou por desconhecimento, como parece ser o caso do jovem, ou por acomodação intelectual de ocasião mesmo, como certamente é o caso de muita gente boa que se deixou levar de bom grado pela enxurrada midiática dos últimos anos de que o Brasil está numa m. só, num buraco sem fim como jamais esteve. 

    Se a Globo não pode quebrar o país de vez, não tem problema, se utiliza da boa fé ou da inocência útil de uma parcela da população cheia de energia e depois a joga as feras contra a opinião pública, como se não tivesse nada a ver com isso. Mas tem sim. O papel que fazem é muito sujo e perverso, dão o fósforo e a gasolina, depois lamentam o circo queimado e criminalizam sem perdão aqueles que atearam o fogo. 

    E o quadro agora é esse: A violência passou a ser a  marca de todo e qualquer protesto.Depredam-se agências do BB que incentiva o microcrédito do camponês mais pobre lá no campo.  Liderados por uma socialite paulista, pessoas  invadem uma clínica e roubam 170 animais sem saber de fato a que fins se destinam e tudo o que envolve aquelas pesquisas científicas.E  o que dizer da invasão no treino daquele time que podia ter colocado em risco sim a vida dos atletas? E se essa moda pega? Daqui a pouco atiram num jogador de futebol, como fizeram como Escobar na Colômbia, em 94? Quem vai mensurar o que é certo e legítimo se seguirmos nessa toada insana? Quem poderá arbitrar em cima da “dor alheia” provocada pelo outro, seja ela uma pessoa, um grupo ou uma instituição? Vamos virar todos Michael Douglas quando resolvermos a hora de ter o nosso “Dia de fúria”? Que sociedade é essa que estamos formando? Qual o limite entre liberdade, noção de justiça e justiçamento? Então agora é assim que vai vigorar no país das novas manifestações burguesas: Se um  ou mais indivíduos se sentirem  prejudicados de alguma forma, por um juízo extremamente subjetivo, a solução será partir para o ataque, invasão, depredação, e porrada ? Vamos retroceder e voltar a era medieval, resolvendo todas as nossas querelas, no pau , na pedra e no confronto?!

    Eu fico muito espantado com esse conceito de liberdade que está vigorando aqui no Brasil do capitalismo tardio e mal copiado, o individualismo extremo agora está sendo trocado pela lei do juízo próprio que se arvora no direito de fazer justiça pelas próprias mãos? Isso é muito perigoso, acho que vale parar, ouvir a voz da sensatez, antes que uma “consciência coletiva” perigosa se forme de vez e nos conduza a marchar todos juntos, de braços dados, para o precipício.

    Esse é um dos motivos que me coloco favorável a biografias não autorizadas, pois creio que um choque de capacidade crítica, de discernir o que vale, o que é mentira ou distorção, mesmo que pelas linhas tortas da confusão do público e do privado, faria muito bem a sociedade brasileira, que adere rapidamente sem pensar a qualquer coisa que ouviu falar. Do cocô a bomba atômica, o brasileiro sabe tudo, se entope de lixo programado no na velha mídia e no facebook agora dá seu sangue e sua alma nas ruas para protestar! 

    Fiquei pensando hoje naqueles meninos, coitados, que podiam estar estudando, produzindo, tacando fogo em carro de polícia e jogando pedra no exército na Barra da Tijuca sem saber nem o que aquilo ali significa direito (com todas as críticas que possamos ter a esse imbróglio de difícil interpretação que envolve a geo-política do petróleo).São os mesmos da “Revolta dos beagles”, os que gritaram pec 37, e que se infiltraram no movimento dos professores assim como o estudante da UFRJ e boa camada da burguesia mascarada que acredita que o Brasil nunca esteve tão mal em seus níveis de desigualdade social. 

    O pior ódio não é o que vem do fundo da alma por uma causa legítima. Esse é humano, compreensível, todos estamos sujeitos e precisa ser contido. Mas o pior ódio é aquele que é fruto da desinformação, do descolamento da realidade, da manipulação da boa vontade alheia. 

    O texto de AB, nos admoesta nessa direção.Uma sociedade despolitizada, intolerante e com a força destrutiva da violência, pode ser uma porta entrada para aventuras totalitárias, ou da extrema esquerda, que quer apenas trocar de turma no poder, ou da extrema direita, aí sim,  gente reacionária de verdade que odeia com todas as forças a democracia.

  11. Quem diria.

    Quem diria nos dias de hoje (março de 2015) os que mais ameaçam a democracia não são os black blocks, mas sim a extrema direita furiosa e irracional domada pela grande mídia.

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