Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Governo de Israel e OLP: o reconhecimento do outro, por Felipe Bueno

Há 40 anos, o governo de Israel e a OLP arquivaram inimizades e assinaram um acordo determinando a autonomia da Faixa de Gaza

do Observatório de Geopolítica

O reconhecimento do outro

por Felipe Bueno

Claude Lévi-Strauss escreveu uma vez que o ocidente produz etnógrafos porque precisa de sociedades diferentes para tentar entender o próprio eu.

Admitindo o eurocentrismo inconsciente de boa parte do pensamento intelectual até o século XX, podemos estender, sem grandes riscos de erro, que essa necessidade é, mais que ocidental, humana.

De fato, o ato de reconhecer, seja o outro ou a si mesmo, sempre foi imenso desafio a quem teve a coragem de enfrentá-lo.

Era o ano de 1993 quando o aperto de mão entre duas lideranças oponentes foi interpretado por muitos como um sinal de que milênios de História e conflitos poderiam chegar a um fim pacífico.

O ato gerou esperança, mas também ceticismo.

Num rápido encadeamento de fatos, há quarenta anos, o governo de Israel e a Organização para a Libertação da Palestina, OLP, arquivaram inimizades, reconheceram-se mutuamente e traçaram, anunciaram e assinaram um acordo determinando a autonomia da Faixa de Gaza.

A imagem, sem filtros e manipulações hoje possíveis aos montes em redes sociais, entrou para a história assim que foi divulgada: Yitzhak Rabin, comedido, e Yasser Arafat, sorridente, se cumprimentavam, sob o olhar paternal do então presidente dos Estados Unidos, numa área externa da Casa Branca.

Nas fotos, pode-se dizer que Bill Clinton pairava sobre os opositores. O representante de Israel à esquerda; o da Autoridade Palestina, à direita. E, ao centro, mais alto – digamos, elevado – o anfitrião, o avalista do acordo.

O resultado mais óbvio e mais fácil do aperto de mão foi noticiado no ano seguinte: ambos, Rabin e Arafat, receberam o Prêmio Nobel da Paz.

No ano seguinte, o primeiro-ministro israelense é assassinado por um compatriota de extrema-direita contrário ao acordo.

Arafat viveu dez anos mais, até morrer em 2004. Esse período foi suficiente para que pudesse ser testemunha e vítima da mudança de rumo do Estado de Israel. Por outro lado, questionado por parte do povo que representava, não teve força para acalmar as dissidências no lado palestino.

De 1993 para cá, na prática, o mundo segue carregando nas costas a falta de solução para algo que obviamente não tem solução com as configurações atuais.

Livrarias insistem em cobrar algumas dezenas de reais por obras que você lê e, no dia seguinte, apertando alguma tecla interna, muda seu mindset e se transforma numa pessoa positiva, compreensiva, empática e simpática, além de parar de fumar, tomar refrigerante e comer frituras. Em suma, um ser humano iluminado.

Sócrates, que em seu tempo enfrentou outros vícios, achava que iluminaria as pessoas na base da conversa. Foi derrotado.

É hora de admitir que Yitzhak Rabin e Yasser Arafat também foram.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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