O discurso de Pepe Mujica na ONU, por Paulo Nogueira

Sugerido por jura

Do Diário do Centro do Mundo

Pepe Mujica deu um soco no estômago do mundo inteiro

por Jura Passos

Dilma Roussef puxou o orelhão de Obama.

Pepe Mujica deu um soco no estômago do mundo inteiro.

Ela levantou a bola, ele cortou.

Se o discurso de Dilma foi considerado áspero, contundente ou agressivo por jornais de vários países, o do presidente do Uruguai foi demolidor de toda a ordem internacional vigente.

Foi pedra pra todo lado, sobrou pra todo mundo. Não chegou a propor o socialismo global, mas deixou implícito.

Para mau entendedor, nenhuma palavra basta.

Só poupou os pobres. Poupou não, defendeu. Como raramente se vê na ONU, além das declarações para as câmeras e dos releases para os jornais. Não por acaso, o próprio release da ONU descreve o discurso com um desdém digno de um mero papo cabeça de maconheiro. Ban Ki-Moon reconheceu e agradeceu a intensa presença dos soldados uruguaios nas forças internacionais de paz. E chega.

Por diversas vezes Mujica aludiu ao pequeno tamanho do Uruguai. Isso pode se tornar um problema para os uruguaios, na medida em que país vai se tornando, cada vez mais, a pátria dos 99%.

Não vai caber todo mundo que começa a sonhar em viver num país onde o presidente não veste gravata e sonha com o mesmo mundo que todos sonhamos.

Todos menos os restantes 1%, que tudo vêem, ouvem e controlam, sem sequer admitir pitos.

Se fosse brasileiro, Pepe seria Zé. Pois, no fundo, ele é importante por ser exatamente isso: o Zézinho, nosso vizinho, um cara que a gente conhece e gosta, que vive como nós e entende o que a gente sente.

“Sou do sul, venho do sul. Moro ali na esquina do Atlântico com o Prata”.

Foi assim que o Zé puxou o papo na ONU. Poderia ser da avenida Atlântica com a rua da Prata, mas da zona norte.

Prosseguiu lembrando o dia que o time dele venceu o nosso numa final de Copa no Maracanã.

“Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor”.

E que, como nós, também amava os Beatles e os Rolling Stones.

“Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes.”

É ou não é nosso vizinho da esquina?

E, daí pra frente, o Zé não deixou pedra sobre pedra.

“Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba.”

Cortou a bola levantada pela vizinha Dilma, da rua de cima…

“Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.”

Prometeu uma força pra galera da rua Colômbia, não aquela dos Jardins.

“Carrego o dever de lutar por pátria para todos…
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz…”

“O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.”

E botou toda a vizinhança na roda.

“Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.”

Mandou um recado para os donos do bairro.

“Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.”

E para os donos do circo.

“Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fóruns e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões…”

Para o general da banda também.

“Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.”

E bota o dedo na ferida.

“As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, da democracia no sentido planetário, porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.”

Não poupou a globalização, nem a China.

“Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.

Há pouco tempo, na Califórnia, o corpo de bombeiros festejou uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos! Cem anos acesa, amigos!! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem?”

A solução? Incorporar a ciência à política.

“Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.

O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.”

E nós com isso?

“Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização que, de fato, nós criamos.

Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos nas causas profundas, na civilização do desperdício, na civilização do usar e jogar fora, que despreza tempo mal gasto de vida humana, esbanjando coisas inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie somos nós.”

O discurso integral de Mujica pode ser visto e lido aqui.

Redação

25 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. E tudo no melhor estilo

    E tudo no melhor estilo “paisano”… o próprio “castilla” da frontera, parecia estar “charlando” na pulperia…

    Faltou a boina e a alpragata  – e o vasito…

    Que grande, “Don” Pepe!

    O El País.uy, o “estadão” deles igorou – ao menos nas primeiras horas…

    Saludo!

  2. o autor estragou o discurso do Mujica!

    o texto infantilizou o discurso do Mujica!  além de nos tratar como tolos!!!! O Jura quis ser mais legal que o Mujica!  Mujica e o amigo maconheiro e inconsequente que todos nos tivemos, aquele que por não ter que se preocupar com nada vive do esforço de outros!

  3. É muito difícil que não acreditemos ser o que pensam que somos”

    A frase  acima é atribuída a Julius Caesar…

    Por mais cínica que pareça a observação de titia:

    É bom ser o Pepe, em um país do tipo Uruguay,..

    Parafraseando o autor, poderia ser a esquina da uruguaiana com rua da alfândega (alguma lavanderia de dinheiro ou cassino?), para falar o que pensa sem pensar em conseqüências, mais ou menos como aquele nosso vizinho mais exótico…

    Todo mundo adora ser o “grilo falante”…

    Até a marina, joana d’arc floresta.

    Titia torce a verruga do nariz toda vez que ouve este tipo de discurso.

    Incorporar a ciência na política? uai, e a ciência o que é senão outra forma de “religião”?

    A pergunta é: o Uruguai sequer existe? E se existe, e virasse mais um estado brasileiro (já foi, não?), alguém notaria?

    É esta a questão…

    Pepe não descobriu ainda que é justamente esta contradição abissal entre o que dura e o que é feito para acabar, entre o desprezo egoísta e a solidariedade impensada, a cultura da obsolescência e a obsolescência da cultura, a religião ateísta dos céticos, a irracionalidade da ciência, etc, etc, etc, que possibilitam que o Uruguay ainda exista para que ele (o Zé Pepe), de forma segura, possa falar o que fala(desde que se contente em ser Uruguay).

    Depois de sair pelado na rua, nosso vizinho poderá voltar a regar seus ressentimentos no jardim de seu fim de vida…

    Arf, titia anda sem paciência nestes dias…

  4. A ciência se vende a competidores com o Estado

    A verdade é que, de acordo com o costume desta época efetada pelos competidores capitalistas, a ciência, por vezes, constituida por pequenos cidadãos, como eu que reuniu o campo de batalha da consciência para ocupação das sociedades marginalizadas, não tem qualquer lugar a desempenhar no desenvolvimento histórico dos referidos grupos de representantes; porque para medida de certos intelectuiais que poderiam conseguir uma análise objetiva da recuperação mundial – atribuindo em particular aos economistas instrumentos de organização – as raizes de classes da ciência dissolveria os seus próprios interesses.  

      1. Morgana profana, a identidade

        Morgana profana, a identidade dos seus interesses não gera de cacofonia, no seio dos economistas, qualquer comunidade de vinculo nacional, ou organização política da consciência de si próprio, enquanto confraterniza com a classe capitalista na pressuposição da concomitante organização econômica. 

        Os economistas e as morganas, como você, profanam qualquer atribuição de autoria de valor para as descobertas da sociedade moderna – feitas por pessoas com direito ao mesmo respeito de classe do proletariado – por não terem pátria.

        O que vocês teem de original nas suas ideias é apenas uma mera inter-relação das profissões.

        1. Hieróglifos

          Fofo, titia até tentou entender, e procurou um tradutor de sânscrito para decifrar o que você quer dizer…Mas seu rolandolerolês é impenetrável…Fica para a próxima..beijos, também te amo.

    1. Então ‘tá

      vamos apertar um pr’o papa e canonizar o mujica…

      o papa só não conseguiu ainda ir ao cerne da pedofilia e da lavagem do dinheiro…

      o mujica não pode ir ao cerne de nada mesmo, porque se ele for muito fundo, acaba por atravessar o uruguay inteiro…

  5. Essa(e?) Morgana …

    Essa(e?) Morgana … ???

    Claro que defendo o sagrado direito ate de certas figuras dizerem as asneiras , sandices e mesmo babaquices que quizerem , mas não seria melhor , no caso , essas pessoas colocarem uma abobora na cabeca e sairem rebolando , resolvendo , assim, suas crises exixtenciais , que parece ser o caso !

    Morg…???  , poderiamos debater ( discordando ou concordando ) as palavras de Pepe Mujica proferidas na ONU em ummelhor nivel ? Agradeceriamos penhorados!

    1. divã II

      Hu-hum, titia compreende…

      Dispensando, por enquanto, a sua “consulta” de botequim (titia adora os dois, uma consulta e botequim), fica a dúvida: A você foi delegado o cargo de julgar o “nível” do debate?

      Mas quais são as referências?

      Faz o seguinte, concorde com o mujica elevando o nível…Traga algo de novo ao debate, ao invés de demarcar o terreno com esta velha bruxa…Que tal?

      Titia resume assim:

      O discurso é mais do mesmo…um nada! Não move uma palha geopolítica, porque nem o uruguay, nem seu franciscano presidente representam nada…Aliás, é por isto que ele diz o que diz, porque ele é o que é(nada).

      O texto de elogio do P.N. é pior, porque parece um corolário de modos morais para exercício da política (internacional).

      Não é à toa que o uruguay pode ser equiparado a Suíça…é mais ou menos a mesma porcaria: lavaram dinheiro por anos e anos, e agora se dizem um modelo de lugar para se viver…

      Conseguiram encontrar um presidente bicho-grilo, e voilá…Fiat Lux…

      Tenha santa paciência…

       

       

      1. Ocê tá loca hoje

        Tá com bronca da colaboradora que acha o discurso do Mujica legal? Diga as suas razões e tenha educação em não chamar ninguem de titia! CONCORDO COM ELA, FOI UM PUTA DISCURSO. Foi um discurso para quem olha o mundo com amor e carinho e não com neurose e agressividade. Só com muita terapia pra curar o problema!    

        1. Julião Polyanna ou Lisa Julião Simpson?

          Nossa, titia ficou encantada com “o amor e carinho”…

          ‘tá combinado, no natal titia vai te mandar um pequno unicórniio rosa…

          Beijos de titia…

  6. O que Mujica propõe é a

    O que Mujica propõe é a revolução individual antes da coletiva.

    E que tolinhas fanáticas como titia nunca entenderão. As titias gostam é de ser a primeira carpideira dos dirceus, genoinos e j. paulos. Se bobear até delubios

    O mundo lhes parece demasiado complicado para entender o que Mujica quiz dizer. Preferem o mundo das alianças podres, para conseguir o poder orgástico e tirano. 

    1. divã

      titia morgana sabia que havia algo enrustido…viu? com um pouquinho de pressão aflorou seu lado moralista neoudenista…

      isto aqui hoje virou uma catarse…binária: individual/coletivo, preto/branco, herói/anti-herói, mujicas/zés dirceus e até delúbios…rsrsr

      ê mundo simples…

  7. Nossa! O que aconteceu a esse

    Nossa! O que aconteceu a esse blog ? Em outros tempos, os comentaristas saberiam que um discurso como esse do Mujica não é coisa de bobo provinciano, de velhinho simpatico. Muito pelo contrario, é preciso coragem e consciência ideologica para subir no plenario da ONU e ir contra o Establishment, a ordem mundial.

    Eh um discurso divisor de aguas, mas que como bem disse PML, foi colocado no rodapé da historia da instituição. Porque a eles não interessam discursos que falem das reais intenções dos dirigentes do mundo, como o de Mujica e Dilma, Preferem as demagogias marciais que regurgitam Obamas e Hollandes.

    Ja tinha admiração pelo Mujica. Agora tenho uma pontinha de ciume do Uruguai ter um presidente que honra o cargo que ocupa. Um homem honesto, corajoso, inteligente e muito acima da mediocridade que impera nesses tempos de neo-cons. 

     

    1. pé na tábua…

      Ao que saiba titia, a fronteira do uruguay ainda não está fechada…

      “Coragem ideológica”????

      Santo deus, ninguém disse aqui, pelo menos eu não li, que tenhamos que abrir mão de princípios humanísticos para habitar este terrível planeta, mas imaginar que seres como mujica, ou o batman possam redimir nossos pecados é um pouco demais…

      O que mujicas representam não é o reconhecimento da permnência da luta de classes como motor da História, mas que a mediação da luta política se dá mais por hábitos e trejeitos (que você confunde com “honestidade”, ou “modos espartanos”) que revestem um tipo de moralismo infértil, politicamente…

      Que aliás, o globo repórter adora explorar, e se duvidar, vira plataforma da marina ou do eduardo campos…

      Meus filhos, cresçam e apareçam…

      1. Quem se auto denomina titia

        Quem se auto denomina titia aqui é você, dona Morgana, que ja vi por aqui em outros carnavais, às vezes lutando contra moinhos…

        Não da pra colocar Mujica e Barbosa no mesmo plano. Mujica não me parece um moralista, não tem compromisso com a opinião conservadora de seu Pais e não acho que seu discurso seja simplista e falso moralista. Mas entendo que a força de viver num mundo individualista e cinico, perde-se, por vezes, a capacidade de separar falsos santos daqueles que fazem a sua parte sem pretender redimir nada nem ninguém, a não ser a si mesmo, enquanto responsavel por um povo.

         

         

  8. Vamos unir o texto sobre o

    Vamos unir o texto sobre o mujica com o inteligência espiritual e fazermos a “revolução” individual antes da coletiva…

    arffff, realmente este blog tem horas que é u-ó

    1. Acho que para a senhora não

      Acho que para a senhora não vai dar. 

      Zunir os textos e a gente fazermos revolução individual  é só para seus queridinhos injustiçados.Vá ser carpideira o muié. 

  9. Santo mujica…

    Pelo jeito, o que discutimos aqui foi a fé das pessoas…

    Religiosidade e dogmas não se discute…

    Titia faz sua remissão e pede desculpas, pois não dá para debater neste campo de irracionalidade sem ferir suscetibilidades…

    Fiquem em paz com o santo mujica…titia promete não “blasfemar” mais sobre este tema…

    Beijocas…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador