Os judeus que honram a tradição humanista, por Luis Nassif

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Confesso enojado com algumas discussões sobre o genocídio de Gaza. Os argumentos invocados pelos defensores do genocídio expressam de forma contundente a chamada “banalização do mal”, descrita pela filósofa judia Hanna Arendt. Crianças sendo assassinadas? Mas e os assassinatos do Hamas? E os terroristas que se escondem atrás das crianças? Morte de médicos da Cruz Vermelha? Mas são apoiadores do Hamas. É de provocar engulhos.

Aqui, trechos de uma discussão da qual participei de um grupo de WhatsApp. Vou poupar a identidade das pessoas. Apenas informando que o autor dos comentários abaixo é um judeu que honra a tradição humanista judaica, com filhos morando em Israel.

“Entro aqui pela primeira vez, estarrecido com alguns argumentos colocados. Tenho dois filhos judeus, o mais velho morando em Israel há 15 anos. Ele sabe bem o que foi o Holocausto;  seus bisavós foram vítimas de pogroms em Kishinev (atual Moldávia); e ficou indignado com a barbaridade do 7 de outubro, perdeu um amigo lá, e nem por isso ele deixou de externar sua discordância em relação ao que faz a direita israelense em Gaza, que nada tem de autodefesa. E o que já fazia, fixando 700 mil judeus na Cisjordânia, território palestino desde a partilha. Por isso, não raro, é tratado como “traidor da pátria” pelos que só enxergam o próprio umbigo.

A verdade é que o que faz Netanyahu, de certa forma, avaliza o que os nazistas fizeram e mancha a história de luta e resistência do povo judeu.

Infelizmente, egoísmo e hipocrisia habitam a mente de muitos seres humanos, incluindo alguns neste singelo espaço de debate”.

“Não desqualifiquei nada, apenas apresentei meus argumentos.

E me refiro a você mesmo, suas intervenções estão eivadas de um sentimento egoísta e hipócrita.

Vejamos:

1. Israel é ultrajado pela fala do Lula.

 Ultrajado? Lula só criticou a política belicista do Estado de Israel.

2. A esquerda demoniza Israel em sua luta para acabar com foguetes contra a população civil.

Não se trata de uma luta para acabar com os foguetes do Hamas. 95% deles são artesanais e Israel tem seu “escudo”. Os foguetes do Hamas mataram 12 pessoas em Israel nesses 4 meses, contra 35 mil palestinos mortos em Gaza, que não tem qualquer defesa contra as nada artesanais bombas israelenses.

3. Em Gaza está ocorrendo uma guerra.

Acha mesmo que é uma guerra? Achou que Hitler estava em guerra contra os judeus?

4. Querem parar a guerra, parem de lançar foguetes contra a população civil de Israel.

Repito, 95% dos foguetes lançados pelo Hamas são artesanais. Você defende que quantas crianças, mulheres e idosos devam morrer até acabar com os foguetes do Hamas?

5. Mentira que havia apartheid antes de 7 de outubro.

Você deveria visitar a Cisjordânia e ver o que ocorre na Área C. E mesmo nas Áreas A e B e dentro do próprio Israel. Ou criar um novo conceito de apartheid.

6. O povo palestino perdeu (só) 1% de sua população.

Toda vida palestina e judia perdida importa. Você acha pouco 35 mil mortos? Qual o percentual aceitável? 10%? 20?

7. Havia paz antes do massacre de 7 de outubro.

Entre 2008 e 6 de outubro  de 2023  foram mortos  6.140 palestinos por Israel. Morreram também 279 israelenses.

A que paz você se refere? A dos cemitérios?

Quer fugir de uma posição egoísta e hipócrita? 

a)Defenda o fim dos ataques à Gaza; 

b) defenda a devolução dos territórios tomados aos palestinos fixados pela partilha de 1948;

c) defenda o pagamento de indenização aos descendentes dos 750 mil palestinos expulsos na Nakba, que tiveram suas terras e lares tomados por Israel”.

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