Possibilidade de calote levanta debate sobre dólar como principal moeda do mundo

Sugerido por Dê

Será que chegou a hora do debate…ou já aguardamos demais? Como mexer e quem/qual país, se habilita? 

Da BBC Brasil

O dólar merece ser a principal moeda do mundo?

Pablo Uchoa
 
O flerte da maior economia do mundo com a possibilidade de um calote em seus credores impulsionou questionamentos à credibilidade do dólar como a moeda por excelência do sistema econômico internacional.
 
Para analistas, a percepção de que os títulos soberanos americanos são um “porto seguro” foi corroída pela queda de braço entre democratas e republicanos no Congresso para autorizar o Tesouro a continuar rolando as suas dívidas a partir desta quinta-feira.
 
O debate sobre encontrar alternativas para uma moeda que assuma o papel vital que o dólar tem na economia mundial já existe há décadas, mas voltou com força desde que a polarização do Congresso americano passou a injetar volatilidade extra no sistema financeiro.

 
Atualmente, os Estados Unidos gozam de um status ímpar: podem chegar perto de decretar um default ao mesmo tempo que estampam a melhor classificação de risco possível para seus títulos soberanos – AAA –, reservada aos países com grande capacidade de pagar as suas dívidas.
 
A agência de classificação de risco Fitch questionou esse status ao colocar os títulos americanos em perspectiva “negativa” na quarta-feira.
 
A agência observou que as incertezas da última semana “arriscam afetar a confiança do dólar como moeda de reserva mundial por excelência, ao pôr em dúvida a boa fé e o crédito” do país.
 
Dois anos atrás, a agência Standard & Poors cumpriu o mesmo script diante de impasse semelhante no Congresso. A S&P rebaixou a categoria dos títulos soberanos americanos citando dificuldades no Congresso de “lidar com os desafios orçamentários de médio e longo prazo até 2013”.
 
“Isso tornará, na nossa visão, o perfil fiscal dos Estados Unidos significativamente mais fraco que o de outros (títulos) soberanos (com classificação) ‘AAA'”, escreveu a agência à época.
 
Status privilegiado
 
O papel do dólar — e dos ativos denominados em dólar — na economia mundial é ilustrado pelos volumes da moeda que outros países mantêm em suas reservas internacionais, principalmente na forma de títulos soberanos.
 
Segundo o Fundo Monetário Internacional, os bancos centrais mantêm 62% das suas reservas internacionais — US$ 3,8 trilhões de um total de US$ 6,1 trilhões — em dólar.
 
Em comparação, o montante em euros alcança US$ 1,45 trilhão, ou 24% do total, de acordo com o FMI. A instituição notou que a proporção de euros nas reservas internacionais permanece abaixo do ápice atingido em 2009, quando 28% delas se compunham da moeda comum europeia.
 
Outro indicador importante: a moeda americana continua “sem competição” no mercado de câmbio, estimado em US$ 5,3 trilhões por dia pelo Banco de Compensações Internacionais em abril. O dólar era utilizado em 87% de todas as transações deste mercado.
 
“As nossas reservas são proporcionalmente mais concentradas no dólar porque é a moeda que todo mundo aceita”, sintetiza o professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP Geraldo Zahran, coordenador de pesquisa do Observatório Político dos Estados Unidos (Opeu).
 
“Faz sentido pautar as suas reservas internacionais em dólar. Só que os americanos estão exaurindo a confiança que todo mundo depositou na economia deles. Se isso (as desavenças no Congresso) continuar, o que se imagina é que os países vão começar a buscar alternativas”, ele acredita.
 
Que alternativa?
 
A grande questão é qual seria a alternativa à moeda americana no sistema internacional. Existe uma percepção, como definiu o megainvestidor George Soros, de que “o dólar é a moeda mais frágil (do mundo) à exceção de todas as outras”.
 
Com o euro em crise – pelo endividamento e más perspectivas de crescimento de vários países da área que usa a moeda —, os analistas acreditam que o yuan chinês estaria em posição de oferecer uma alternativa à moeda americana.
 
Zahran diz que a China, um grande país exportador e importador, poderia começar a pressionar seus parceiros comerciais a aceitar a sua moeda em trocas de bens e serviços.
 
Entretanto, no momento, o yuan ainda não é amplamente aceito nas transações internacionais.
 
Já o iene japonês tem tido uma participação decrescente como moeda de reserva internacional (menos de 4% das reservas dos BCs), segundo o FMI.
 
Há alguns anos o FMI vem defendendo que seria possível implementar uma “moeda” baseada em seus Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês). Os SDR são instrumentos usados pelo Fundo para realizar empréstimos que podem ser convertidos em qualquer moeda nacional através de um câmbio calculado a partir de uma cesta de moedas.
 
Esta opção teria a vantagem de evitar um dilema econômico identificado pelo economista belga Robert Triffin em 1960, o de que “quando você atrela a moeda de reserva internacional a uma moeda nacional, você permite que esse país viva além das suas posses”, como explica o professor Zahran.
 
“Você permite a esse país contrair dívidas indiscriminadamente porque todo mundo compra essa moeda.”
 
Mudança gradual
 
No longo prazo, muitos analistas nos Estados Unidos não acham negativo o debate sobre encontrar uma alternativa para o dólar no sistema econômico mundial.
 
Mas qualquer que seja o caminho, todos concordam que seria uma mudança gradual.
 
Países como a China e o Japão, que juntos detêm mais de US$ 2,4 trilhões em títulos do Tesouro americano, não estão interessado em se desfazer dos seus papeis repentinamente e corroer o seu valor de mercado — o que causaria também uma redução no valor das suas reservas.
 
Impacto semelhante seria sentido no Brasil, que detêm US$ 256 bilhões em títulos dos Estados Unidos.
 
“No curto prazo, muito pouca coisa vai acontecer. Isso é algo para a gente ficar observando no médio e no longo prazo”, diz Zahran.
 
“É interessante acompanhar como a China vai se posicionar, seus pronunciamentos e a variação das suas reservas”, afirma o professor.
 
“Por outro lado, se os Estados Unidos botarem a casa em ordem e passarem a gastar menos do que arrecadam, a economia deles cresce, a relação dívida-PIB fica menor e o dólar volta a se fortalecer.”

 

Redação

6 Comentários

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  1. Titia avisou a 20 ou 30 posts atrás…

    Titia reclamou lá atrás, e a idade não permite recordar o post, acho que era algum que tratava da alta da selic, e agora este texto vem encontrar o que debatemos lá atrás…há meses…

    Não tem sentido o mundo comprar a moeda de um país que a emite sem controle para tapar seu buraco sem fundo…

    Resultado: o volume de dólares flutuando no mercado supera em várias vezes o PIB mundial…

    O estrago conhecemos bem…a cada diástole de expansão e retração de liquidez, o mundo se destroça um pouco mais, bilhões de dólares se concentram nas carteiras rentistas, boa parte dos empregos e das riquezas nacionais vai pelo ralo, e nunca são recompostos aos níveis anteriores quando vem o movimento de expansão…Aliás, só que o retorna, e às vezes com mais força, são os  níveis de desigualdade e participação dos salários na renda…

    Titia não fala do Brasil ou de outras esquinas da periferia, falamos dos EEUU e Europa…

    E como diz o Merovíngio (personagem de Matrix), “onde todos veem coincidência, vejo consequências”, então, a cada volta da espiral, um grupo cada vez menor acumula mais e mais riqueza…

    “Saudações aos que têm coragem…”

    1. “…a cada diástole de expansão e retração de liquidez”

      Se a tiazinha quer “falar difícil”, nada contra. Mas use os termos corretamente, para não passar atestado de ignorância presunçosa, de quem quer se mostrar “sabida” e “ilustrada”, mas que acaba demostrando o que a tiazinha realmente é: pretensiosa e ignorante.

      Sístole (do antigo grego: συστολή, “contração”) e diástole (idem: διαστολή, “expansão”) são palavras usadas para descrever os movimentos cardíacos de contração e relaxamento ventricular. De maneira sucinta, podemos dizer que durante a diástole, o relaxamento provoca a expansão ventricular, enquanto que na sístole acontece o contrário, uma contração; então, sua frase pode ser lida assim:

      “…a cada expansão de expansão e retração de liquidez”

      Veja bem, “expansão de expansão” e “expansão de retração” são duas patacoadas, do besteirol que a tiazinha exibe numa mesma frase. A tiazinha poderia ter dito “…a cada sístole e diástole de liquidez”, sem redundância e contradição, se quisesse “falar difícil” e construir uma frase com sentido; ou, melhor ainda, com a humildade de reconhecer seus limites cognitivos para não derrapar no ridículo, “…a cada movimento de expansão e retração de liquidez”, que todos compreenderiam facilmente.

      Relaxe, fale de forma clara e coloquial, estamos num blogue colaborativo com o lema de construir o conhecimento, não numa feira de vaidades.

       

      Em tempo: mesmo com a correção sugerida, seu comentário não diz absolutamente nada, serve apenas para mostrar falsos brilharecos “intelectuais”.

       

  2. O Dragão Chinês

    O sol está se pondo na supremacia do dólar e, com isso, do poderio americano

    The Telegraph | 14 Outubro 2013

    A alternativa séria para o dólar ainda é um longo caminho, mas as últimas peripécias no Capitólio ter dado a busca por eles renovado impulso

    http://www.telegraph.co.uk/finance/comment/jeremy-warner/10378666/The-sun-is-setting-on-dollar-supremacy-and-with-it-American-power.html

    ***

    Nove sinais que a China está fazendo uma movimentação em relação ao dólar americano

    ALTHEADLINES | 18 Outubro 2013 

    Os chineses estão agora acelerando seu plano de longo prazo para destronar o dólar dos EUA.

    A China não pretende permitir que o sistema financeiro americano domine o mundo por tempo indeterminado.

    Ela é o maior país exportador do mundo e terá a maior economia do planeta, em algum momento nos próximos anos.

    Os chineses gostariam de ver o uso de uma moeda global refletindo essa mudança na economia global.

    http://www.altheadlines.com/9-signs-that-china-is-making-a-move-against-the-us-dollar-13251935/

  3. É um tema recorrente há

    É um tema recorrente há decadas. O problema é que não se cria uma moeda por simples desejo. Existem condições

    objetivas de natureza geopolitica e historica que ocorrem em certos ciclos como redesenho geopolitico do mundo após guerras e realinhamentos de blocos. O dolar é moeda reserva mundial desde o fim da Segunda Guerra quando a potencia vencedora do ponto de vista economico foram os EUA, então com 55% do PIB mundial.

    Já em 1971 com a decretação do fim do lastro ouro que garantia o dolar, essa moeda já deveria ter caida em desgraça ,

    foi um golpe contra os detentores de dolar papel, até a vespera do decreto de Nixon o portador de dolar tinha direito a certo peso em ouro, no dia seguinte não tinha nada.

    O desgaste do dolar continuou desde então, com picos de crise como 2008. Contudo o dolar coninua e continuará como moeda reserva mundial POR FALTA DE OUTRA, é a unica moeda universalmente aceita, da Sibéria à Patagonia,

    dos guetos de Johanesburgo às favelas do Rio, não adianta achar ruim, o dolar é moeda reserva porque não há outra.

  4. Para resumir

    Os EUA são o aval do sistema,do capitalismo,neo liberalismo,consenso de Whasingthon ou qualquer outro rótulo a exploraçã,a extorsão do capital por uma elite financeira.Mas este “grandalhão ja ha algum tempo da mostras de cansaço,de exaurimento.E os chineses agora ja começam a deixar quaisquers diplomacias e passam o “pito”,e ja dizem claramente o que ninguem queria(os capitalistas),ja chega,a farra acabou,voçes não tem mais responsabilidade(nunca teve) e não vamos mais bancar suas loucuras.Os republicanos em destaque,na sua miopia,na sua empafia,deram um tiro de canhão,conseguiram ser mais eficazes que os terroristas.Estou assistindo a agonia de um império,e para minhanem tanta surpresa,sua elite é que esta acelerando o naufragio deste gigante.A “capital do mundo” esta oficialmente se mudando para Pequim.

  5.  
    João Paulo Caldeira,
    Pelo

     

    João Paulo Caldeira,

    Pelo título deste post “Possibilidade de calote levanta debate sobre dólar como principal moeda do mundo” de sexta-feira, 18/10/2013 às 15:15, trazendo um comentário de Dê que reproduz o artigo na BBC Brasil de autoria de Pablo Uchoa e intitulado “O dólar merece ser o principal moeda do mundo?” eu imaginei que se iria fazer uma crítica ao dólar como moeda mundial.

    O autor, entretanto, surpreendeu-me e fez um artigo bastante informativo e sem um viés contra o dólar.

    Aproveito e deixo dois artigos muito bons que tratam desta questão do dólar como moeda mundial. O primeiro artigo é “Crises e hecatombes” publicado no site da Carta Maior em 31/08/2008, portanto, há cinco anos e que fora publicado também no Valor Econômico e de autoria de José Luís Fiori. O endereço do artigo “Crises e hecatombes” é:

    http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Crises-e-hecatombes/20846

    No início do artigo José Luís Fiori transcreve a seguinte frase do grande historiador econômico americano Charles Kindelberger que faleceu em 2003:

    “a economia mundial liberal precisa de um país estabilizador e só um país estabilizador”.

    Bem o segundo texto que eu passo a indicar é o artigo “O privilégio exorbitante dos EUA” de autoria de Michael Pettis e publicado no Valor Econômico de 15/09/2011, portanto, há dois anos e que pode ser visto no seguinte endereço no site de Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira:

    http://www.bresserpereira.org.br/terceiros/2011/11.09.O_Privil%C3%A9gio_exorbitante_dos_EUA.pdf

    No artigo “O privilégio exorbitante dos EUA”, Michael Pettis questiona a afirmação de Valéry Giscard d’Estaing feita em 1965 de que o domínio do dólar americano como moeda global de reserva teria dado aos Estados Unidos um “privilégio exorbitante”.

    Além disso, deixo a indicação de dois posts que penso são bem pertinentes aqui. O primeiro é o post “Barry Eichengreen sobre o privilegio exorbitante do dolar e os problemas americanos” publicado sexta-feira, 16/12/2011, no blog Diplomatizzando do cientista social Paulo Roberto de Almeida que reproduz o artigo de Barry Eichengreen “U.S. Dollar Decline as a National Strategy?” de também sexta-feira, 16/12/2011. O endereço do post “Barry Eichengreen sobre o privilegio exorbitante do dólar e os problemas americanos” é:

    http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2011/12/barry-eichengreen-sobre-o-privilegio.html

    Interessante que Barry Eichengreen tem um livro com o título de “EXORBITANT PRIVILEGE: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System”, de onde, aliás, o artigo “U.S. Dollar Decline as a National Strategy?” foi tirado. Aqui no Brasil, o livro dele foi publicado em 2011 com o título de “Privilégio Exorbitante – A Ascensão e a Queda do Dólar e o Futuro do Sistema Monetário Internacional”.

    E o segundo post que eu gostaria de indicar é “The China-Debt Syndrome” de hoje, sexta-feira, 18/10/2013 às 11:22 am, e de autoria de Paul Krugman. O endereço do post “The China-Debt Syndrome” é:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2013/10/18/the-china-debt-syndrome/

    A questão que Paul Krugman levanta no post não é bem sobre o dólar como moeda mundial. Ele questiona o temor de alguns com a possibilidade de a China vender as suas reservas de dólares (Ou de bônus do Tesouro Americano). Paul Krugman termina o artigo com a seguinte frase:

    “As Dean Baker once put it, China has an empty water pistol pointed at our head”.

    Chamo atenção para esta análise porque de certo modo, venho há um bom tempo resumindo em uma frase uma idéia parecida. Transcrevo a frase a seguir: “Governo bom forma reservas, governo ruim as destrói, e, no entanto, acreditem, as reservas são para inglês ver”.

    As reservas não são evidentemente para inglês ver, mas com a frase eu queria dizer que na verdade as reservas não podem ser usadas. Foi esse o sentido que Paul Krugman deu à frase de Dean Baker que pode ter sido dita em outro contexto, mas que no post de Paul Krugman apenas significava que o temor diante das reservas chinesas em dólar não seria preocupante.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 18/10/2013

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