Carandiru: os presos do Pavilhão 9

Por peronn

Muito se escreveu sobre o episódio do “Massacre da Detenção”. Muitas histórias foram baseadas em relatos de sobreviventes, de funcionários da Casa de Detenção do Carandiru, de jornalistas que tiveram acesso nos dias seguintes ao massacre ao Pavilhão Nove (P-9), policiais que fizeram a recolha dos presos, funcionários da enfermaria, etc.

Além das inúmeras histórias, também muita fantasia se escreveu a respeito dos presos: que eram os mais perigosos do país, todos assassinos com vários homicídios nas costas, matadores de criancinhas, estupradores, etc. Esta versão ajudou a criar na sociedade uma repulsa pelos detentos e auras de heroísmo à ação realizada. Longe de querer fazer uma defesa de criminosos, garantimos que a verdade não é esta. O Pavilhão Nove (P-9) do Carandiru abrigava presos chamados “virgens”, ou seja, primários, que haviam cometido pela primeira vez qualquer tipo de crime: estelionato, furto, roubo, tráfico, homicídio, etc. Muitos deles não haviam sido sequer julgados, estavam apenas “detidos”.

Ainda hoje muitas pessoas condenam o laudo que “desnudou” a ação realizada e acham que 111 mortos foram poucos. Estes não estiveram lá dentro, não viram e, provavelmente, não têm qualquer religião. Satisfazer-se com o massacre de 111 presos indefesos, como uma vingança por ter sido vítima de algum crime revela a face mesquinha de muitas pessoas.

Uma coisa é enfrentar bandidos na rua, dispostos a matar ou morrer; outra coisa, muito diferente, é matar presos desarmados, encurralados dentro de suas celas. Uma verdade é inegável, e as estatísticas criminais comprovam: se antes do laudo da detenção a PM matava mais de 200 por mês só na Capital, em média, em casos de “ressitência seguida de morte”, apenas dois meses depois da divulgação do laudo, em novembro de 92, este número caiu para cerca de 35. Hoje se mantém por volta de 60, com a população quase dobrada em relação a 1992. Não há qualquer dúvida que houve mudanças, houve uma mudança de paradigma. Hoje a PM respeita muito mais os direitos humanos, apesar de muita gente ainda combater os métodos utilizados.

Por outro lado, aos que criticam e criticaram o laudo do massacre: o que restava a um perito fazer ante aquela situação? Esconder o que viu e analisou, e assim falsear a verdade? Não foi para isso que criaram a perícia, mas sim para estabelecer a verdade dos fatos através da prova material. No Pavilhão Nove, a hitória estava escrita nas paredes. E foi lida e interpretada.

Luis Nassif

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