Documentos apresentados por Damares não comprovam suas denúncias

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Ex-ministra afirmou que crianças da Ilha de Marajó, no Pará, são vítimas de tráfico humano

Damares Alves, ministra de Mulher, Família e Direitos Humanos. | Foto: Valter Campanato/Ag. Brasil

Documentos apresentados pela assessoria da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e senadora eleita, Damares Alves (Republicanos-DF), não comprovam a veracidade de suas denúncias sobre casos de violência sexual contra crianças da Ilha de Marajó, no Pará.

De acordo com reportagem, o Estadão analisou 2.093 páginas referentes a investigações de três Comissão Parlamentar de Inquérito (CPIs) que deveriam provar os relatos de Damares. No entanto, não foram encontrados os fatos que a ex-ministra diz terem ocorrido.

Entre os documentos, estão papéis da CPI da Pedofilia, de 2010, com 1.696 páginas. Também foi enviado um conteúdo de 284 páginas de uma CPI da Assembleia Legislativa do Pará, que foi criada em 2010 para apurar práticas de violência e abuso sexual contra crianças e adolescentes no Estado. Um terceiro relatório, de 113 páginas, traz informações da CPI dos maus-tratos, concluída em 2018 pelo Senado.

Nenhum dos documentos apresentam alguma citação do que foi dito pela ex-ministra. Apenas apontam, como ocorre em diversas regiões do País, que crimes de violência sexual estão presentes no Pará e em Marajó.

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O que foi dito por Damares

Durante um culto religioso no último domingo (9), na igreja evangélica Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia (GO), Damares afirmou que, enquanto ministra, teria descoberto em visita ao arquipélago do Marajó (PA) casos de crianças vítimas de tráfico humano.

Nós temos imagens de crianças de quatro anos, três anos que, quando cruzam as fronteiras, tem seus dentes arrancados para não morderem na hora do sexo oral. (…) Nós descobrimos que essas crianças comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal“, declarou.

Damares na mira da Justiça

Após as afirmações, a senadora eleita se tornou alvo de pedidos de esclarecimentos do Ministério Público Federal (MPF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), já que ela estava à frente da pasta na época dos crimes.

A PGR recebeu um pedido de investigação sobre possível crime de “prevaricação” da ex-ministra, uma vez que cabia à então ministra “adotar providências” sobre denúncias que disse ter recebido.

Na terça-feira (11), a Procuradoria Federal dos Direitos do estabeleceu um prazo de três dias para que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direito Humanos preste informações sobre todas as denúncias de violência contra crianças que recebeu desde 2016.

Além disso, o Ministério Público do Pará (MPPA) solicitou ao Ministério informações sobre possíveis crimes relatados pela ex-ministra.

A Polícia Civil do Pará ainda afirmou, por meio de nota, que não existe “nenhum registro referente aos modos de atuação descritos pela ex-ministra” e encaminhou “ofício solicitando documentos e mídias citadas” por Damares para iniciar “de forma urgente investigação sobre os fatos relatados”, segundo o Uol.

Posicionamento do Ministério

Na terça-feira, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos se manifestou, por meio de nota, afirmando que as declarações de Damares foram baseadas nos “numerosos inquéritos já instaurados que dão conta de uma série de fatos gravíssimos praticados contra crianças e adolescentes”.

Leia também: “Denúncias” de Damares não chegaram às autoridades responsáveis

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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  1. Damares GOIABEIRA OUVIU NA RUA que, diante do “horror” vivido pelas crianças da Ilha de Marajó, Bolsonaro se levantou para protegê-las e, por isso, vive “uma guerra espiritual” para ganhar as eleições deste ano.

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