Ministros criticam PEC que dá ao Congresso poder de veto

Do G1

Ministros criticam PEC que autoriza Legislativo a vetar decisões do STF

Crítica é de que proposta fere princípio da separação de poderes.
Texto permite que Congresso barre inconstitucionalidade de emendas.

Mariana Oliveira
Do G1, em Brasília

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello criticaram nesta quarta-feira (24) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), aprovada mais cedo na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que dá ao Congresso o poder de derrubar decisões da Suprema Corte sobre emendas constitucionais.

Antes do início da sessão desta tarde no Supremo, Gilmar Mendes disse que a proposta “evoca coisas tenebrosas”. Marco Aurélio destacou que a aprovação “ressoa como retaliação”. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que a PEC causa “perplexidade”.

A proposta – PEC 33/2011 – ainda precisa ser analisada por uma comissão especial na Câmara antes de ser votada no plenário. Uma das modificações propostas estabelece que quando o STF decidir pela inconstitucionalidade de uma emenda à Constituição, o Congresso poderá rever o ato do tribunal. Caso os parlamentares discordem da posição do Supremo, a questão seria decidida em um plebiscito popular.

Gilmar Mendes citou que a discussão do tema “já se arrasta há muito tempo”. “Na nossa memória constitucional isso evoca coisas tenebrosas. Nós temos precedente na Constituição de 37, chamada de Polaca, em que o presidente da República […] podia cassar decisões do Supremo e confirmar a constitucionalidade de leis declaradas inconstitucionais. Acredito que não é um bom precedente. A Câmara vai acabar rejeitando isso.”

Segundo o ministro, “esse tipo de reação” por parte do Congresso exige “cuidado”. “Em geral, essas reações são marcadas por decepções, frustrações imediatas. […] É preciso ter muito cuidado com esse tipo de interação e acredito que, em geral, tem se sabido valorizar a democracia.”

Marco Aurélio Mello destacou que a PEC fere a cláusula pétrea da separação de poderes. “Não creio que para a sociedade brasileira, para o almejado avanço cultural, essa submissão dos atos do Supremo seja boa, ao contrário é perniciosa. E envolve, eles têm que estar alertas quanto a isso, envolve uma cláusula pétrea da República brasileira.”

Para o ministro, a proposta “ressoa, inclusive, como uma retaliação”. “Não há espaço para esta mesclagem, a meu ver imprópria, que é a submissão das decisões do Supremo a um órgão político.”

Procurador-geral da República, Roberto Gurgel disse que ainda precisa analisar melhor a proposta, mas argumentou que, em princípio, causa “perplexidade”. “Eu diria que a primeira impressão é de uma perplexidade. Porque, na verdade, aí se esta vendo algo que não parece casar muito bem com a harmonia e independência entre os poderes.”

Luis Nassif

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