Odebrecht acusa sistemática de vazamentos da PGR para além do Brasil

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Além da Venezuela, que dominou a imprensa latino-americana nesta semana, a acusação da empreiteira brasileira é ainda maior: como forma de pressionar acordos, a Procuradoria teria cometido vazamentos também no México, Equador e Peru
 
A procuradora-geral destituída da Venezuela, Luísa Ortega Díaz, e o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante a 22 Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul (REMPM)
A procuradora-geral destituída da Venezuela, Luísa Ortega Díaz, e o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante a Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 
Jornal GGN – Assim como a Operação Lava Jato teve suas investigações estendidas para outros países que empreiteiras brasileiras mantinham contratos, também chegaram a outras nações as polêmicas formas de conduzir os inquéritos. Na Venezuela, um vazamento de um vídeo paralisou o noticiário do país na última semana.
 
Trata-se do ex-presidente da Odebrecht na Venezuela, Euzenando Prazeres de Azevedo, afirmando que repassou US$ 35 milhões para a campanha presidencial do atual mandatário Nicolás Maduro. 
 
Enquanto aqui no Brasil os vazamentos eram, às vezes, atrelados a delegados da Polícia Federal e, outras, como responsabilidade da Procuradoria-Geral da República, quem trouxe à tona o vídeo do executivo foi a ex-promotora-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz. 
 
A então comandante das investigações no país foi aliada do chavismo até o início do ano. Desde que passou a fazer duras críticas a Maduro, apresentou-se como uma forte opositora ao governo e foi afastada do cargo.
 
Ainda fazendo frente a tentativas de confronto a Maduro, Luisa Ortega divulgou em sua conta no Twitter o vídeo que traz o ex-presidente da Odebrecht no país afirmando que repassou dinheiro à campanha de Nicolás Maduro.
 
Entretanto, o depoimento do executivo Euzenando Prazeres de Azevedo foi dado à Procuradoria-Geral da República do Brasil, em forma de delação premiada. Ortega Díaz não informou a data em que o depoimento foi cedido, mas a própria Odebrecht aclarou as dúvidas.
 
Nesta semana, a empreiteira entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) informando que o vídeo do executivo venezuelano estava sob sigilo e foi vazado. A Odebrecht responsabiliza a Procuradoria-Geral da República, com a equipe de Brasília, sob o então comando de Rodrigo Janot, que foram os responsáveis por ouvir Azevedo.
 
O ministro relator dos processo da Lava Jato no STF, Edson Fachin, havia determinado que o vídeo ficasse sob a responsabilidade da PGR. Pouco antes da saída de Janot do posto, a ex-procuradora venezuelana se reuniu com ele em Brasília, durante um evento no dia 23 de agosto.
 
Ainda em fevereiro deste ano, quando ainda ocupava a Procuradoria do país, Luisa Ortega encontrou-se com Rodrigo Janot para tratar do caso Odebrecht, logo depois de as autoridades norte-americanas terem anunciado a extensão dos ilícitos, com pagamentos de subornos pelas empreiteiras a agentes políticos e lobistas em diversos países.
 
Em fevereiro, Díaz buscou compreender o alcance do suposto esquema de corrupção que também teria atingido a Venezuela pela Odebrecht, quem teriam se beneficiado e como os casos teriam ocorrido.
 
Mais recentemente, em agosto, Ortega esteve ao lado de Janot para o evento de procuradores e membros de Ministérios Públicos do Mercosul, realizado no Brasil. A ex-procuradora deixou claro que, antes da saída de Janot do posto, iria conversar com Janot sobre “a Odebrecht, o caso de corrupção na Venezuela e a minha situação“.
 
Poucos dias antes, a ex-procuradora havia afirmado que o caso Odebrecht, iniciado por ela em janeiro deste ano na Venezuela, foi um dos pontos de conflito dela com o governo de Nicolás Maduro, que ocasionou na ruptura definitiva. Disse aos meios de comunicação que funcionários do MP e ela foram alvos de “perseguição sistemática” do governo devido às acusações da Odebrecht.
 
“É o maior caso de corrupção na região e isso os mantêm muito preocupados e angustiados, porque eles sabem que temos informação e detalhes de todas as operações e valores”, afirmou, durante sua participação por telefone  na Cúpula de Procuradores e Promotores da América Latina, no México, no dia 15 de agosto.
 
E dava o recado que viria semanas depois: “Essa investigação envolve o senhor Nicolás Maduro e o seu entorno. Qualquer informação que seja enviada ao Ministério Público será utilizada para fins contrários aos previstos. A evidência será destruída e as informações aproveitadas para atentar contra a fonte”.
 
Na última quinta-feira (12), Ortega vazou o depoimento do ex-presidente da Odebrecht na Venezuela, que atrelava um montante de 35 milhões de dólares para a campanha presidencial de Maduro no país. 
 
Para a Odebrecht, entretanto, a fonte dos vazamentos é Rodrigo Janot. Com as provas de que o vídeo estava sob a guarda da PGR, enquanto Janot comandava o órgão, e de que a Venezuela só poderia ter acesso ao vídeo se fechasse um acordo de delação com os executivos da Companhia, a empreiteira abriu uma ação no Supremo.
 
Até agora, o governo de Nicolás Maduro não fechou acordo com os então investigados da empreiteira no país. “Os vídeos dos relatos de todos os colaboradores da companhia, especialmente daqueles que abordam fatos ocorridos no exterior, encontram-se custodiados pela PGR, sendo que jamais foram oficialmente entregues aos colaboradores, aos seus causídicos ou a quem quer que seja”, disse a notícia-crime ingressada no STF.
 
A Odebrecht denuncia, ainda, que o caso não é isolado: vazamentos de conteúdos sigilosos foram feitos em negociações de acordos com o México, Equador e Peru. 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Cana dura

    A pgr cometeu crime de traição ao Brasil. Deveriam ser afastados do cargo e sofrer pocesso investigativo, a fim de punir todos os reponsáveis.

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