Procurador deve levar irregularidades e bastidores de acordo da JBS à CPMI

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Novos capítulos do caso Miller e Ângelo Villela são revelados. Mas interesse de políticos em derrubar credibilidade de Janot fazem caso parar em CPMI
 

Presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti, senador Romero Jucá e procurador Angelo Goulart Vilella – Foto: ANPR
 
Jornal GGN – Há três meses, eram noticiadas as primeiras suspeitas sobre a atuação do ex-procurador Marcello Miller no acordo de colaboração premiada dos executivos da JBS, com o indicativo de dupla atuação na cadeira de advogado enquanto ainda não era oficialmente exonerado da Procuradoria da República.
 
Em pleno ápice das divulgações dos depoimentos e gravações de Joesley Batista, dono da JBS, e do diretor da J&F Ricardo Saud, o nome de outro procurador integrante da Operação Lava Jato era arrolado e encarcerado: Ângelo Goulart Villela.
 
Ele foi acusado de repassar informações privilegiadas à JBS, em troca de recebimento de propina. No início de junho, o jornalista Andrei Meireles publicava coluna em Os Divergentes informando que Villela, recém preso, estava “mandando recados”: “ele não seria o único do time da JBS. Teria colegas a entregar em uma delação premiada”.
 
Sendo blefe ou não, as primeiras suspeitas que recaíam cotra Marcello Miller agora vem sendo confirmadas, após a entrega equivocada do áudio pela JBS à Procuradoria-Geral da República, nos últimos dias, em que arrola o ex-procurador como agente atuante nos acordos, enquanto ainda fazia parte do Ministério Público. 
 
Miller já guardava receios, segundo o jornalista Andrei Meireles, de que “um curto-circuito em algum fio desencapado” poderia atingí-lo. Agora, a possível relação de Miller com o próprio comandante da PGR, Rodrigo Janot, e o nível de consciência do procurador-geral sobre possíveis irregularidades cometidas para o fechamento do acordo com a JBS, uma das principais sustentações das acusações e denúncias contra o atual presidente Michel Temer, apresentam maiores riscos.
 
Os dispostos a ouvir o que Ângelo Goular Villela tem a dizer, que aí inclui possíveis ilegalidades cometidas tanto por Miller quanto por outros procuradores próximos de Janot, não são os integrantes da Lava Jato. Quem está de olho em depoimentos de Villela são parlamentares da CPI da JBS.
 
Villela foi preso sobre a acusação de repassar informações privilegiadas à JBS, durante as negociações de um possível acordo com a PGR. Há poucos dias, o relator da CPMI da JBS, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), manifestava que a Comissão precisaria “olhar para a PGR e para o Judiciário sem medo”.
 
Além da própria seriedade que o tema carrega em si, interessa a parlamentares, sobretudo da base aliada de Michel Temer, derrubar a credibilidade dos investigadores. Por isso, enquanto o MPF faz investigações internas com o máximo de discrição possível, deputados pretendem levar o caso a fundo no Congresso.
 
“A Lava Jato até hoje preservou o Ministério Público e o Judiciário. A CPMI não tem esse compromisso. Temos que olhar para o que já foi feito até aqui”, disse Marun.
 
É nessa linha que entra o interesse de ouvir o procurador Angelo Goulart, agora em liberdade: enquanto é visto como “traidor” dentro do MPF, pela acusação de receber propina para as negociações, o seu isolamento pela instituição vem motivando-o a querer detalhar o máximo de informações que tem conhecimento.
 
O Painel da Folha desta quinta-feira (14) confirmou o interesse: “Integrantes da CPI da JBS garantem que ele [o procurador Angelo Villela] está disposto a falar. Preso após a delação da J&F, Villela nega ter cometido crime. Hoje em liberdade, pode detalhar bastidores de negociações e da convivência de Miller com a força-tarefa”, publicou o jornal.
 
Também poderá ser chamado a prestar depoimento no Congresso o ex-procurador e ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, que é um duro crítico de medidas adotadas pela Operação Lava Jato e por Rodrigo Janot. 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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