O samba NÃO TENHO LÁGRIMAS é uma das composições mais conhecidas e gravadas desse Brasil de meu Deus, gravada ainda por vários artistas estrangeiros, a exemplo de Xavier Cugat e Nat King Cole, que a incluiu no seu LP de 1959, A MIS AMIGOS.
No Brasil a gravação original coube a Patrício Teixeira, seguido por Jorge Veiga, Luis Bonfá, Jacob do Bandolim, Zaccarias e sua Orquestra, Emilinha Borba, Paulinho da Viola e muitos outros intérpretes importantes na nossa música brasileira.
O que poucos sabem é que NÃO TENHO LÁGRIMAS, registrada por Maximiliano Bulhões e Milton de Oliveira, foi veementemente reclamada por Wilson Baptista como sendo da autoria de Max Bulhões o coro e a primeira parte, sendo a segunda parte de sua lavra.
Isso está consignado no livro de Rodrigo Alzuguir – Wilson Baptista – O SAMBA FOI SUA GLÓRIA:
” Wilson escreveria sobre o encontro:
” Uma noite, há muitos anos, quando iniciava a minha gostosa carreira de compositor, entrou na porta da Leiteria Ópera, ponto de Artistas na rua Pedro I, quando me aparece Max Bulhões e me diz:
– Vem cá depressa. Ouça esse coro que eu fabriquei agora no bonde. Ainda não tem título, nem segunda parte, mas, se você tiver tempo, pode me ajudar….
– Pode fazer a segunda, que já tenho com quem colocar.
“Saí cantarolando o coro, cantarolando. Na hora de dormir, trabalhei. Trabalhei de manhã quando acordei. Até que acertei a segunda parte: Estou certo que o riso não tem nenhum valor/A lágrima sincera é o retrato de uma dor/O destino assim quis, de mim te separar/Quero chorar e não posso/Vivo a soluçar.”
Rodrigo Alzuguir volta ao assunto ainda às págs. 186; 194; 195; 196 e 197. Segundo o autor, Wilson Baptista lutou e reclamou seus direitos de parceiro até sua morte.
No mesmo sentido o escritor Bruno Ferreira Gomes, em seu Wilson Batista e sua época, Funarte, 1985, às págs. 63 e 64:
“Wilson não era de lamentar a venda de uma música, especialmente porque quando ele as vendia por inteiro, nunca faziam sucesso. (…) Mas havia uma que, a todo momento, Wilson se queixava de que a roubaram dele. Tratava-se de Não tenho lágrimas. (…) Milton de Oliveira diz que de forma alguma a música é de Wilson, e que ele jamais contribuiu de qualquer maneira para a sua confecção. Disse que a primeira parte surgiu com Max Bulhões e eles fizeram juntos a segunda parte. A composição, segundo Milton de Oliveira, é de 1932 e ele tentou gravá-la com o cantor Leonel Faria nessa época. Aliás mostrou duas composições dele com Max Bulhões, sendo que a outra era Sabiá laranjeira. E disse que Leonel não quis gravar nenhuma delas, o mesmo sucedendo com Gastão Formenti, que alegou não serem músicas de seu estilo. Só, portanto, cinco anos após, o Não tenho lágrimas foi gravado, justamente com o Sabiá laranjeira, pelo cantor Patrício Teixeira.”
Trago o assunto à baila como uma curiosidade,bem como para mostrar a situação difícil em que viviam os compositores da primeira metade do século XX, mal pagos e sem o reconhecimento que mereciam, dependendo de cantores que, muitas vezes ganhavam o nome registrado como compositor simplesmente por gravar a composição. Ainda há que se notar um verdadeiro comércio de músicas, com adiantamentos e outros expedientes tais para ajudar na sobrevivência.
Sem ter condições de entrar no mérito dessa pendenga, trago a gravação original de NÃO TENHO LÁGRIMAS, por Patrício Teixeira, bem como as gravações de Jorge Veiga, Nat King Cole e Jacob do Bandolim.
“O tempo é o senhor da razão”
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Sem choro
Não tenho provas apenas suspeitas. Vou sempre desconfiar de varias autorias não só na MPB como no hipnótico mundo POP. A diferença hoje é que os compositores, apesar de , claro, não terem reconhecimento, são muito bem pagos. Calam-se para sempre e nunca ficaremos sabendo. De Roberto Carlos a Cazuza, de Michael Jackson a Shakira, quem souber alguma coisa que se promuncie.
Michael Jackson compositor? Me perdoem.
Aliás: quem sou eu?
Quero chorar, não tenho lagrimas…
Pois é, Luciano, ha muitas duvidas e acusações mutuas na questão de direitos autorais, e uma pena que muita gente deve ter sido injustiçada. Mas uma coisa é certa, que qualidade tinhamos (temos ainda) de musicos, não é ? E adorei ouvir Nat Cole cantando em português. Nunca ouvi o disco dele por completo, so conhecia certos registros, como Quizas, que senão me engano é de outro disco. E ele canta direitinho em portugues, tão bem quanto em espanhol. E Jacob, aos meus ouvidos, sempre perfeito.
Quanto a Michael Jackson citado acima, muita gente não sabe, mas ele era um rapaz bastante culto. Gostava de arte, ouvia classicos e viajou muito pela Europa, visitando museus e castelos, até comprou um na França numa época. Era muito interessado em historia e amador de jazz, como todos os grande. Por que sera ? 🙂
Para Maria Luisa!
[video:https://www.youtube.com/watch?v=32o-B-uo7rI%5D
Oscar Aleman
Luciano
o segundo vídeo não é de uma gravação de Jorge Veiga. É do grande guitarrista (e sofrível cantor) argentino Oscar Aleman.
Oscar Aleman?
Caro Nassif,
Acho que o começo fez com que você se enganasse. O Jorge Veiga canta com sotaque, imitando o Nat King Cole. Ai vão três fotos do disco CARNAVAL DE 1960. Feliz com sua presença por aqui!
Abraço do luciano
Ao Matuto!
[video:https://www.youtube.com/watch?v=aGzW63z6KvA%5D
Informativo e surpreendente
Informativo e surpreendente como sempre. Obrigado uma vez mais, Luciano Hortêncio! 😉
Regina Brasil!
Grande abraço, amiga Regina! Fico feliz porque gostaste!
luciano