Domenico de Masi, sociólogo do ócio criativo, morre aos 85 anos

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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"Intelectual incansável", declarou o presidente Lula sobre o amigo, que visitou em junho

O sociólogo italiano Domenico de Masi, em entrevista à Agência Brasil. | O sociólogo italiano Domenico de Masi, concede entrevista à Agência Brasil. | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O sociólogo italiano Domenico De Masi, que pensou o conceito de “ócio criativo”, morreu em Roma, aos 85 anos. A morte foi confirmada neste sábado (9). No último dia 15, De Masi descobriu que estava doente enquanto estava de férias em Ravello, sua cidade natal, segundo o jornal italiano “Il Fatto Quotidiano”. A causa do óbito, no entanto, não foi divulgada.

O sociólogo, que foi professor emérito de Sociologia do Trabalho na Universidade Sapienza de Roma, onde também foi reitor da faculdade de Ciências da Comunicação, formulou o conceito de “ócio criativo”, que propõe a fusão entre trabalho, estudo e lazer como forma de criação de riqueza em uma sociedade pós-industrial.

É pelo trabalho que produzimos riqueza, pelo estudo que produzimos conhecimento e pela diversão que produzimos alegria. Ócio criativo é a união desses três fatores“, explicou De Masi, que esteve no Brasil diversas vezes.

Em junho, durante um giro pela Europa, o presidente Lula (PT) se encontrou com o sociólogo, seu amigo pessoal. Na ocasião, eles discutiram a conjuntura política no Brasil e na Itália, além dos esforços pela paz no mundo.

Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário. De Masi sempre foi muito atento e carinhoso com o Brasil, sempre visitando o País e sem nenhum medo de se posicionar, mesmo nos momentos mais difíceis”, escreveu Lula em mensagem publicada nas redes sociais.

O ex-primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, também lamentou a morte por meio das redes sociais. “Há talentos que estudam com paixão a vida inteira, que dominam matérias inteiras, tornando-se referência para toda a comunidade científica, e ainda assim mantêm a humildade e a curiosidade de quem sabe que ainda tem muito a aprender e, acima de tudo, nunca perdem de vista que no centro de tudo, do conhecimento, das nossas construções teóricas, das nossas realizações científicas, está o ser humano, com a sua dignidade irreprimível e indispensável. Isto é o que Domenico De Masi foi e muitas outras coisas“, afirmou o ex-premiê.

Luta contra a desigualdade social

Em um último vídeo gravado ao Brasil, De Masi parafraseou o presidente Lula e afirmou que um é um erro gastar bilhões em armas mortais enquanto as pessoas sofrem com a fome ao redor do globo.

É necessário repetir o que o presidente Lula recentemente lembrou em uma conferência internacional: ‘Como é possível travar uma guerra desnecessária e gastar bilhões em armas mortais, enquanto um bilhão de seres humanos sofre com a fome no mundo?’“, disse em mensagem apresentada aos participantes do LIDE Brazil Conference, em Milão, nos dias 7 e 8 de setembro.

No vídeo, o sociólogo destacou a luta dos dois primeiros mandatos de Lula no combate as desigualdades socioeconômicas no Brasil e ressaltou que os avanços tecnológicos impõe “intensos desafios” a sociedade pós-industrial.

O século 21 será marcado pela informática, que modificará profundamente as categorias de tempo e espaço, pela engenharia genética, com a qual venceremos muitas doenças, pela Inteligência Artificial, pelas impressoras 3D, com a qual construiremos muitos objetos em casa, no qual as representações digitais competirão com as reais“, explicou.

Diante desses desafios, é crucial que o Brasil e a Itália trabalhem sinergicamente em um modelo de desenvolvimento pós-industrial no qual suas extraordinárias criatividades possam se fertilizar mutuamente“, declarou o intelectual.

A importância do “ócio criativo”

Autor de mais de 20 livros, De Masi publicou no ano passado a obra intitulada “O trabalho no século XXI: Fadiga, ócio e criatividade na sociedade pós-industrial“, pela Editora Sextante. Ao longo de 928 páginas ele discorre sobre as relações de trabalho, da escravidão ao trabalho remoto impulsionado pela pandemia da Covid-19.

Com o aumento da produtividade, a relação entre o tempo de trabalho e o tempo livre mudou, em favor deste último”, explicou em entrevista concedida ao jornal O Globo.

Durante sua vida, meu avô trabalhou 120 mil horas, meu pai 80 mil e minhas filhas trabalharão 40 mil. Hoje, um italiano tem cerca de 640 mil horas de tempo livre, que ultrapassará 700 mil em 2030. Como viemos de dois séculos de sociedade industrial centrada no trabalho, ainda não nos conscientizamos da importância do ócio criativo”, declarou.

Mas a pandemia nos permitiu refletir e produziu o fenômeno da The Great Resignation (a grande renúncia, em português), que se prolongará nos próximos anos“, concluiu.

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