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Conheci Cláudio Abramo quando ainda trabalhava no Jornal da Tarde e ele tinha a coluna na página 2 da Folha. Deu vontade de pegar um depoimento dele. Fui à sua casa, gravei uma longa entrevista que, posteriormente, foi enviada para seu filho Cláudio Weber Abramo.
Na entrevista, chamava atenção a rede de relacionamentos dele, em todo mundo, especialmente no universo dos intelectuais de esquerda.
Voltei a ter contato com ele no curto período em que assumi a Secretaria de Redação da Folha. Anos antes, Cláudio tinha sido substituído na Diretoria de Redação pelo indescritível Boris Casoy, mas mantinha sua coluna, com enorme influência no mundo político.
Era um ranheta – na melhora definição que damos ao parente mais velho. Vez por outra ligava para mim (e eu era Secretário de Produção do jornal) e literalmente ordenava que mandasse alguém buscar seu artigo. Não havia nada de ofensivo no tom incisivo dele. Era apenas uma maneira de estabelecer relações e manter o status de quem dirigiu os maiores jornais do país. E eu cumpria obedientemente.
Quando comecei com meu programa na TV Gazeta, cruzei com ele na rua. Ele me disse:
– É o primeiro caso de jornalista de TV que fala que nem metralhadora. Que nem eu.
De fato, competíamos para saber quem falava mais rápido.
Foi um dos jornalistas fundamentais na história do jornalismo brasileiro, mestre de Mino Carta e de todas as gerações posteriores.
- Depoimento para a publicação Jornalistas & Cia
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Que o jornalismo reaja, que recupere sua credibilidade e que se mantenha vivo, saudável, ético, isento, imparcial, leal, honesto, sem partido, sem interesse e fiel ao seu propósito de fidelidade e respeito ao leitor, como foi em tempos passados
Oligarquias e elites transformaram Jornalismo e Jornalistas em arma suja, cães para defender os próprios interesses. Só uns poucos conservaram-se decentes.
Fui leitor e admirador de Cláudio Abramo, e fui marcado pelas suas três últimas publicações na revista do Mino Carta, se despedindo da vida com enorme indignação que vivia com o governo sarney em
Jornalismo, a tempos virou publicidade!
O jornalismo, mais uma dentre tantas outras atividades e afazeres do espírito humano que o Algoritmo está devastando. Sou cultor de uma delas, a Literatura. Estamos nos tornando mais do que inúteis, estamos nos tornando nocivos e prejudiciais à nova ordem. Jornalistas, escritores, estamos entrando em extinção, e pior, isso está sendo feito de uma forma em que ninguém dará pela falta, e ninguém lamentará. RIP, pensamento independente, consciência crítica. A partir de hoje, só o entretenimento, e o mais rasteiro possível, e só a versão oficial, por mais inverossímil e estúpida que seja. Triste Bahia?…Não, triste mundo, quão dessemelhante estás. E nunca mais serás o mesmo.
Encontrei-o uma única vez na casa de um amigo comum. Eu chegando, ele saindo. Em cinco minutos de conversa pude perceber toda a mágoa que ele sentia em relação à Folha de São Paulo que na época o deixava de escanteio para promover a molecada arrogante e inexperiente (tipo Matinas Susuki) na Ilustrada. Pensei: esse cara não merece isso.