Os pitbulls do Comind, na guerra dos quatrocentões, por Luís Nassif

Charlô está com 98 anos. Sua mãe, esposa do respeitado banqueiro Teodoro Quartim Barbosa, transformou-o no único herdeiro.

A primeira vez que ouvi falar em pitbulls foi nos anos 80. O Banco do Commercio e Indústria de São Paulo, o Comind, vivia uma disputa societária sangrenta. Para montar sua influência sobre o governo militar, Carlos Eduardo Quartim Barbosa, o Charlô, tinha uma chácara nas imediações de Brasilia. Periodicamente, reunia militares para assistirem a um evento muito prestigiado. Colocava alguns touros no picadeiro e, em seguida, soltava pitbulls que comiam vivos os touros.

Foi uma disputa que entrou nos intestinos do regime militar.

No início, um grupo de acionistas assumiu o controle do banco, juntando-se em torno da holding Stab. Participavam o próprio Charlô, Paulo Egídio Martins, Mário Slecar Jr., entre outros. Quem montou a estrutura solitária foi o comercialista Benedito Patti Jr. Posteriormente, a estrutura foi aprimorada por Fábio Comparato. O ponto em comum é que todos eles eram parentes entre si, descendentes de famílias quatrocentonas.

A certa altura, entrou no jogo Paulo Gavião Gonzaga, que cuidava da parte de seguros e, por casamento, tinha ligações com os quatrocentões. Influenciado por Gavião Gonzaga, Charlô decidiu assumir totalmente o controle do banco.

Ainda governador, Paulo Egydio Martins ajudou nas tratativas, que alijou os demais acionistas, incluindo Antonio Ermírio de Moraes.

Quando deixou o governo, Paulo Egydio dirigiu-se à sede do banco, no centro velho de São Paulo, crente que assumiria no mínimo a presidência do conselho. Chegando lá, foi presenteado com um cavalo de raça e gentilmente dispensado de qualquer participação no banco.

Seguiu-se um período de guerra aberta. Paulo Egydio aliou-se, então, a Antonio Ermírio de Moraes, que bancava a defesa jurídica do grupo. O diretor jurídico da Votorantim era um advogado, também com laços de parentesco com os Quartim Barbosa, que se tornou uma de minhas fontes.

Em determinado momento, Paulo Egydio conseguiu uma gravação de uma conversa na qual Gavião Gonzaga subornava um desembargador. O banco utilizado era da família Scarpa. Quem conseguiu a gravação foi um parente de Paulo Egydio que trabalhava para o Serviço Nacional de Investigações.

Paulo Egydio entregou a gravação, então, para Antônio Ermírio. E deu-lhe a chance de se vingar das inúmeras jogadas anteriores de Paulo Egydio, quando associado a Charlô. De posse da gravação, foi direto a Charlô e ameaçou divulgar, caso não comprasse suas ações por bom preço.

Paulo Egydio ficou a ver navios.

Nos anos seguintes, Charlô esvaziou o banco. Desviou o equivalente a 10 bilhões de dólares na época. O banco acabou sofrendo intervenção do Banco Central, de Fernão Bracher, também parente do grupo, especificamente de Paulo Egydio. Na ação que Charlô abriu contra o Banco Central, fui contemplado com uma menção, como se tivesse influência sobre Bracher.

Agora, Charlô está com 98 anos. Sua mãe, esposa do respeitado banqueiro Teodoro Quartim Barbosa, transformou-o no único herdeiro. Morrendo, os demais parentes terão sua parte no quinhão, nas contas que provavelmente estão na Suíça.

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Luis Nassif

1 Comentário

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  1. As entranhas (ou intestinos?) do poder. Dinheiro estocado na Suiça? Será que não colocaram em investimentos mais rentáveis que banco no Brasil? Talvez Colômbia.

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