As charges do JT

As charges do Diogo Salles apareciam na página 2 do Jornal da Tarde – JT , de São Paulo, cuja edição impressa circula hoje pela última vez. A charge derradeira talvez seja a que abre a matéria abaixo, post de hoje no seu blog,  o  Trágico e Cômico – Jornal da Tarde .

Do Jornal da Tarde

O fim do JT e o histórico nariz do Maluf

Não é preciso repetir aqui os motivos que levaram ao fim do JT depois de 46 anos circulando. Também não é preciso ressaltar a importância deste jornal e alguns marcos que ele conquistou na imprensa. Fiquei pensando sobre o que eu escreveria no último post deste blog e decidi que, apesar de ser um momento triste, o tom deveria ser de homenagem. Quero encerrar meu trabalho aqui de forma digna e sem mágoas.

JT ficou conhecido por suas capas arrojadas, que fizeram história no jornalismo. De todas elas, ficarei com apenas uma. Uma série, melhor dizendo: o histórico nariz de Pinóquio do Maluf, que fez um grande sucesso no início dos anos 80. A história é a seguinte: Maluf era governador de São Paulo na época e sua ambição era perfurar o estado inteiro, por ter certeza de que havia petróleo no interior. Para tanto, ele não mediu esforços. Criou a estatal Paulipetro e perfurou 69 poços na bacia do Rio Paraná (na divisa com Minas). Sua confiança era tanta que ele até deu prazo para encontrar o suposto petróleo. Uma atitude fanfarrona, escorada por uma mentira deslavada e que teve como único resultado uma jazida de dinheiro público desperdiçada. Na época, os responsáveis pela parte gráfica e pelas ilustrações do JT era a dupla Gepp e Maia. Foram eles que criaram o conceito do famoso nariz do Maluf, que ia crescendo à medida que o prazo dado pelo governador ia se esgotando. Quando finalmente o grande dia chegou, o nariz do Dotô Paulo estava “estourado” na página, cruzando-a de cabo a rabo. É assim que se persegue os poderosos. Com sarcasmo, senso crítico e ousadia. Uma lição de contestação para qualquer cartunista.

O que pouca gente sabe é que, anos depois, me tornei amigo desta talentosa dupla de artistas e o Maia acabou se tornando o meu mentor nesta perigosa vida de ilustrador e cartunista. Aí, num desses acasos da vida, entrei no JT em setembro de 2007. Senti-me realizado não apenas por ocupar a página 2 deste importante jornal, mas por todo o simbolismo que aquilo carregava. Preencher a vaga que um dia foi do mestre é realmente um privilégio para poucos. Certamente uma das maiores honras que já tive na vida.

Meses depois de minha chegada aqui, o assunto do petróleo voltou à pauta. No começo de 2008, o pré-sal era a grande novidade e não se falava em outra coisa na imprensa. Dotô Paulo, como era de se esperar, não perderia a chance descolar o seu cantinho nos jornais, dizendo que foi ele o grande visionário que anteviu o pré-sal. Esqueceu-se, obviamente, que o pré-sal foi descoberto a cerca de mil quilômetros de onde ele vislumbrava.

E assim, na charge do dia 22 de fevereiro de 2008, aproveitei para recriar o nariz do Maluf, sem esquecer de fazer a menção honrosa aos mestres. Este blog que você lê agora ainda não existia na época, mas quando ele surgiu, em fevereiro de 2010, fiz questão de tornar o Dotô Paulo um habituè por aqui, já que seu nariz nunca deixou de crescer em todos esses anos. E, acreditem ou não, Maluf foi o único político que respondia às charges via Twitter (teve até uma vez que ele se invocou).

Portanto é com essa charge do nariz do Dotô Paulo que traço as linhas finais deste blog. Queria agradecer sinceramente a todos que visitaram, comentaram, concordaram, discordaram, elogiaram e criticaram meu trabalho. Parece até piada, mas até os trolls e haters farão falta.

Aliás, não estou triste, não. Olhando em retrospecto, sinto-me imensamente feliz em ter feito parte dessa história. Agora, como diria Bono Vox, é hora de sonhar tudo de novo.

Um forte abraço a todos e mantenham a descrença!
Diogo


Luis Nassif

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