Lobão. Ou, algumas palavras a respeito do Nada.

Em novembro de 2013, alertado pelo Brasil 247, sou informado que Lobão é novo colunista da revista Veja.

Sua coluna de estreia é intitulada “A era do rebelde chapa-branca”.

Pelo título, achei inicialmente que Lobão tratava dos protestos violentos dos filhos da classe-média que têm tomado as ruas do Rio e de São Paulo. Afinal, sua definição de “rebelde chapa-branca” se encaixava como uma luva a eles:

“É ele o protagonista em todas as rodinhas, redes sociais, botequins e passeatas. Revela-se por duas características inseparáveis: é revoltado contra o sistema e, ao mesmo tempo, chancelado por ele”.

Mas, na verdade, fico sabendo que Lobão bate mesmo é em alguns ícones da cultura e da esquerda brasileiras, do MST à Mídia Ninja, passando por Racionais, José Genoíno e Chico e Caetano. Não sei se Caetano pode ser classificado como de esquerda, mas de qualquer sorte, iconoclastia sempre chama a atenção. E creio que, pela escolha dos ícones a ser surrados, Lobão não quis arriscar se a desagradar o chefe logo de início, usou uma estratégia de segurança em seu primeiro texto na Abril.

Posso estar errado, comento de ouvir dizer, já que Veja, para mim, é uma publicação do tipo “não li e não gostei”.

Lobão é um homem que tenta encontrar seu lugar, seu espaço e seus companheiros. Creio que agora, a caminho da terceira idade, conseguiu.

Lobão é um rebelde longevo que, parece-me, carrega consigo uma grande frustração, tentou ser “gauche” na vida, teve muitas chances para isso, e não conseguiu. Ou não quis pagar o preço. Não lhe culpo disso.

O verdadeiro “gauche” morre jovem – vide a tal “maldição dos 27”.

Lobão é alguém da minha geração, apenas dois anos mais velho, é de outubro de 57 e eu de outubro de 59. Quando jovens, ambos lemos Baudelaire – “As flores do mal”. Drummond, que é de uma turma mais avançada, literalmente e em todos os sentidos, que a minha e a de Lobão, também leu e se impressionou. Lobão igualmente não ficou imune.

“Vida louca vida, vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida, vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa”.

Seu sonho de vida era ser um Sabotagem, poeta e bandido – Baudelaire das favelas da zona sul paulistana. Mas, branco-Laranjeiras, zona sul, mas carioca, classe-média, João Luiz tem nome de alemão. E quem nasce para alemão não chega à sabotagem nem à assunção. Paulista pode achar que esse alemão é Woerdenbag, mas Lobão é do Rio de Janeiro. Carioca, com certeza, vai entender.

Tivesse 35 anos a menos, Lobão até poderia tentar ser black bloc. Aos 56, Lobão acabou como mau cabrito chapa-branca. Daqueles que berram, mas até quando berram falam o que o patrão quer ouvir.

Já que falei das flores e de Drummond:

“Quando nasci, um anjo torto,

desses que vivem nas sombras,

disse: Vai Carlos! ser gauche na vida”.

Esse Carlos era Drummond, que, entretanto, não teve vida de “gauche”. Podia ser Marighella, mas Lobão jamais. 

PS:  tomei uma licença poética. Woerdenbag é um sobrenome holandês e não alemão. Mas, aí não dava rima.

 

Redação

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