Ideologia e fortuna, por Sérgio Saraiva

Lagoa
Por Sérgio Saraiva

O velho jornalista, quando menino, sonhou servir a igreja do Cristo. No seminário, ensinaram-lhe latim, mas cobraram-lhe o cumprimento de três votos: obediência, castidade e pobreza.

Feito rapaz, percebeu só ter forças e vontade para atender a um desses três votos. Conservou para si o latim e abandonou o seminário.

Seguindo a vocação dos que têm latim, mas não têm dinheiro, tornou-se jornalista.

O voto de castidade abandonou na primeira oportunidade que surgiu, o de pobreza cumpriu por contingência, não por obrigação moral. Abandonaria-o assim que oportunidade surgisse; e ela surgiu. O de obediência manteve por toda a vida.

Logo, obediente à sua consciência, opôs-se à Ditadura de 64. Foi preso e teve sua família sujeitada a sérios constrangimentos. Outros colegas seus foram mortos a pauladas antes de terem o cadáver abandonado pendurado pelo pescoço.

A estadia na prisão e suas atribulações, no entanto, lhe reforçou os votos de obediência. Dali para frente, obedeceria sempre ao poderoso de plantão.

A sorte no amor e na política é vária. E eis que, finda a ditadura, os antigos prisioneiros tornaram-se os mandatários do país – democraticamente eleitos.

Apressou-se a apresentar-se a eles – eram seus companheiros de lutas – e a lembrar-lhes todos os seus sofrimentos. Fazia jus a uma reparação. Pleiteou e obteve vultuosa indenização do Estado Democrático pelos crimes da Ditadura– tornou-se um milionário.

Mandou à merda os antigos companheiros que lhe lembraram que a luta era ideologia, não investimento, e embolsou o dinheiro. “Às favas os pruridos da consciência”. Não fora ele quem criara essa frase, mas fez dela suas palavras.

Agora rico, foi viver entre os ricos. Proprietário de bela morada em frente a lagos e mares da melhor cidade da América do Sul.

A sorte no amor e na política é vária. E eis que um novo golpe se implanta no país e os antigos companheiros voltam à prisão. Mas, agora, o velho jornalista, além de velho, já era puta-velha. Mudou de lado, sempre fiel aos seus votos depravados de obediência, tratou de ficar bem com os novos donos do poder. Aprendera: manda quem pode, obedece quem tem juízo. 

Passou a acusar os antigos companheiros que haviam lhe proporcionado fortuna de serem eles venais. De terem se vendido e recebido em troca castelos feitos de litros de tinta e muito bafo quente. 

Aos que lhe afirmavam que tal construção ilusória nada mais era que uma mentira, retorquia que não; que era, antes, uma verdade ainda não provada. Mas plenamente aceita como verdadeira, já que, a mentira que agrada o poderoso, verdade é.

E assim, vez por outra, o velho jornalista publica textos em que reafirma sua autoridade em julgar aos outros, pois ainda que ainda que pecador seja, pecou apenas pela carne; sua integridade moral conserva-se tão virginal quanto era o menino recém entrado no seminário.

Por malandro que é, o velho jornalista não revela a ninguém um segredo íntimo de tal pureza: sua moral foi abençoada com um hímen complacente.

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia: na arquibancada para a qualquer momento ver emergir o monstro da Lagoa.

Redação

13 Comentários

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    1. Ideologia e fortuna

      Nao esperem que jesus retorne gordo como o buda cheio de desapegos  sentado nas proprias pernas. Se nao tiver cruzes e credos nao tem historia e sem a biblia nao ha crencas superticoes fe e dogmas. A locomotiva do diabo globo carrega suditos fieis judas cruzes e credos. Se quiser comer desapegando para ficar gordo como o buda,suba a montanha. Ou consiga um cheque de 100 mil reais para pagar uma oraçaozinha do Malafaia que jamais alcançara o edir mais cedo.

    2. Ideologia e fortuna

      Nao esperem que jesus retorne gordo como o buda cheio de desapegos  sentado nas proprias pernas. Se nao tiver cruzes e credos nao tem historia e sem a biblia nao ha crencas superticoes fe e dogmas. A locomotiva do diabo globo carrega suditos fieis judas cruzes e credos. Se quiser comer desapegando para ficar gordo como o buda,suba a montanha. Ou consiga um cheque de 100 mil reais para pagar uma oraçaozinha do Malafaia que jamais alcançara o edir mais cedo.

  1. SIC TRANSIT GLORIA MUNDI

    A comissão de anistia que administra a pensão-ex guerrilheiro errou 3 vezes com ele:

    1) Parte do princípio que ele foi proibido de trabalhar. Quer dizer que seus serviços prestados aos Bloch eram gratuitos? Seus serviços na Folha não eram remunerados?

    2) Parte do princípio que ele seria ETERNAMENTE editor do CORREIO DA MANHÃ e que o jornal ia mal das pernas em 1964, sendo vendido sucessivamente até desaparecer!

    3) Embora NÃO TENHA contribuido para a Previdencia, sua pensão é isenta de DESCONTOS e de IMPOSTO DE RENDA.

     

    Como lembra o ditado acima em latim (“assim passa a glória do mundo”) o autor do post acima está dando chute em cachorro morto. Quem se importa com esse morto-vivo, que prefere amar uma cadadela a um ser humano?

  2. (Sergio, tenho certeza

    (Sergio, tenho certeza absoluta que o item eh ubcusuvi e ironico alem do que eu consigo.  Como todos os seus items.  So que, em um item seu, pela primeira vez, eu nao tenho infima ideia do que esta sendo falado.)

    1. RIP

      Você acaba de jogar a pá de cal sobre os restos mortais do velho jornalista. Como ninguém mais o lê, até texto resposta fica sem sentido. Inútil canto e inútil pranto…

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