Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Esmeralda do Brasil, por Aquiles Rique Reis

Esmeralda do Brasil, por Aquiles Rique Reis

Sambista e compositora, Esmeralda Ortiz lançou Guerreira (Selo SESC SP). Cercada de bons instrumentistas, velhos de guerra nas noites paulistanas, com eles o samba de roda, o partido alto e todos os derivados do gênero aclamam quem os interpreta nos dezoito sambas divididos em catorze faixas.

Sob direção geral de Magnu Souza (ele que também toca pandeiro) e com arranjos de Maurilio de Oliveira (ele que toca cavaquinho em todas as músicas do disco), ambos integrantes do paulistano Quinteto em Branco e Preto.

Sem dúvida, os arranjos, plenos de ritmo (surdo, tantan, repiques de mão e de anel, cuíca, tamborim e caixas, além de bateria, cavaquinho e violões de seis e de sete cordas), deram o chão para que Esmeralda caminhasse.

Sua estreia é uma grata surpresa. Quem sabe está nascendo uma intérprete que tem o poder de uma Clementina de Jesus, de uma Jovelina Pérola Negra, de uma Aracy Cortes ou de uma Leci Brandão? Esmeralda tem os atributos que admiro nessas grandes damas do samba, e, assim como elas, tem outros predicados que lhe dão personalidade.

São de Esmeralda oito dos dezoito sambas gravados (dois deles escritos com parceiros). A poética das suas letras se vale de sua vivência. A força das palavras está posta a serviço de expor o cotidiano da gente brasileira.

“Guerreira” (Esmeralda Ortiz) dá nome ao CD e abre os trabalhos. Apenas o cavaquinho inicia o samba, uma apresentação da estrela do espetáculo. Logo vêm o sete cordas e a força da rapaziada no ritmo; o coro come firme. Apoiado por um coro de três vozes (coro que aliás está presente em todas as faixas, exceto uma), o refrão do samba (Sou guerreira, sou guerreira eu sou/ Sou partideira, dá licença por favor), segue cantado, agora sem os instrumentos de harmonia. Num embalo fascinante,  feito uma dança infinda, traz de volta a harmonia – e a tampa fecha.

Outro belo samba, “Motivo Pra Viver” (Magnu Sousa e Maurilio de Oliveira) é uma verdadeira exaltação às vitórias que deram a Esmeralda a chance de gravar suas músicas. Vitórias embaladas pelo samba, a trilha sonora de seus dias.

Cantora e partideira, ela tem recursos: sua voz vem do alto da garganta, escorre pelo céu da boca e soa vigorosa, como um grito amplificado. Seus agudos, dados de peito aberto, são precisos, afinados. Seu entusiasmo agrega paixão ao canto. Sua alegria predomina nos bons sambas apresentados, ritmos que têm a seiva da intérprete que ora se (re)lança à vida, ela que tem nome de pedra preciosa, Esmeralda do Brasil.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

NR:  Usuária de crack desde a infância até a adolescência, mesmo nos momentos de “noia” braba, Esmeralda sonhava ser sambista. Essa ex-menina de rua que hoje realizou seu sonho conquistou o direito de se ver “limpa” a cada novo dia, dia a dia. Eu esperarei por um segundo CD de Esmeralda Ortiz, quando, enfim, não será mais preciso que o redator escreva nota de pé de página e poderá tão-somente enaltecer a cantora e compositora que ela, de fato, hoje já é.

 

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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