O show dos 60 anos de Vicente Barreto

Meu parceiro e amigo de 40 anos, Vicente Barreto, faz show hoje no Sesc Vila Mariana, em comemoração a 60 anos de idade e 40 de carreira.

Começamos juntos em São Paulo, no inesquecível Bar do Alemão dos anos 70. Vicente veio de Serrinha, passou por Salvador e chegou em São Paulo novinho da silva e com uma parceria clássica com Vinicius de Moraes. Com seu faro invejável, Vinicius assistiu a um show de Vicente e enviou-lhe uma letra que recebeu uma música à altura.

Atravessamos anos 70 e metade dos anos 80 na mesa 8 do Alemão.

No início, Vicente tinha um violão relativamente acanhado, principalmente perto da exuberância de Serginho Leite – o humorista e grande talento musical. Mas, assim como poucos músicos que conheci, nunca parou de crescer musicalmente. Sua música foi sendo cada vez mais elaborada, o violão melhorando cada vez mais, Vicentão bateu nos 40 anos – quando, em geral, se dá o pico de criatividade dos artistas, e continuou subindo.

Vicente foi parceiro dos maiores músicos brasileiros. Estourou com Alceu Valença em “Morena Tropicana”, em um conjunto de parcerias lindas com Paulo César Pinheiro, com Celso Viáfora.

Num certo momento de meados da década passada, alguns produtores tentaram transformá-lo em um cantor popularesco. Cometi a ousadia, como amigo, de alerta-lo para não entrar na fria. Ainda mais porque seu violão estava no auge, a mão direita imbatível, amadurecendo o estilo ensaiado nas décadas anteriores. Nos anos 70 e 80 Vicente assimilou algumas características da obra de Gilberto Gil, especialmente a batida do violão emulando a sanfona. Mas levou adiante o estilo, consolidando nova linha de composição na música brasileira – especialmente na paulista.

Expliquei que, sendo popularesco venderia um pouco mais, mas não teria fôlego para se manter porque seu estilo era outro, o dos grandes músicos. Seu CD seguinte levou o sugestivo título de “A mão direita”. Nele, presentes, todas as características de uma nova escola de composição, acessível apenas aos grandes violonistas.

Hoje Vicentão, que chegou da Bahia usando tamancos modernos e meias coloridas, completa 40 anos de uma carreira sólida. É músico que deixou descendência, não apenas o filho, belo músico, mas uma nova linha de composição, do nível das grandes escolas brasileiras.

Dia desses, o Chico Saraiva – dos grandes violonistas da nova geração – veio a um sarau em casa, mostrou músicas maravilhosas, dentro da estrada aberta por Vicente. É nítido que Vicente acabou criando uma linha de composição – algo que apenas os grandes criadores conseguem consolidar.

Luis Nassif

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