Amor é um fogo qu’arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente,
É nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade,
É servir, a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
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Fonte: Luís de Camões, “Sonetos de Camões” – Corpus dos sonetos camonianos. Edições e notas por Cleonice Berardinelli. Lisbonne-Paris: Centre Culturel Portugais; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.
O retrato de Camões por Fernão Gomes, em cópia de Luís de Resende. Este é considerado o mais autêntico retrato do poeta, cujo original, que se perdeu, foi pintado ainda em sua vida.(1577)
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