Cerveró e o Cérbero midiático

Há algum tempo publiquei aqui um texto sobre o principal delator da Lava a Jato. Cerveró deixou de ser um homem que luta para se defender das acusações que pesam contra ele no exato momento em que foi transformado em protagonista do anti-petismo disseminado pela imprensa e usado eleitoralmente por Aécio Neves https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/victor-hugo-e-o-olhar-do-cervero-por-fabio-de-oliveira-ribeiro. Nos últimos dias, ele voltou a ser notícia. Desta vez por causa das graves acusações feitas a FHC, cujo governo teria recebido 100 milhões de dólares:

http://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2016-01-11/cervero-afirma-que-governo-de-fhc-recebeu-propina-de-100-milhoes.html

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/01/nestor-cercero-cita-us-100-milhoes-de-propina-ao-governo-de-fhc.html

https://www.youtube.com/watch?v=mrFsCAbG_Qg

Num Estado democrático ninguém está acima da Lei ou fora de seu alcance. Se há uma denúncia grave de corrupção contra FHC e seu governo compete ao Ministério Público investigar e denunciar os responsáveis. A Justiça condenará os culpados, não sem garantir o direito de defesa e observar o devido processo legal. FHC não tem nem imunidade, nem foro privilegiado.

O que me chamou atenção neste novo episódio protagonizado por Cerveró foi a forma como a imprensa está a tratar a denuncia contra o PSDB. FHC não foi “delatado”, foi apenas “citado”. O eufemismo é evidente, pois quando “citou” membros do PT o mesmo Cerveró obviamente delatou-os. As escolhas feitas pela imprensa para distinguir “delatados” de “citados” é relevante e não deixa dúvidas acerca da natureza partidária da cobertura da Lava Jato. Como Jano, a imprensa brasileira tem duas caras. Uma delas é cordial (e voltada para o PSDB) e a outra é colérica (e aterroriza o PT).

Ao lembrar a natureza bifronte de Jano, ocorreu-me a evidente semelhança entre Cerveró e Cérbero. A única diferença entre os dois nomes é a posição do acento agudo e a segunda consoante (V no primeiro, B no segundo).

“Cérbero (‘demônio do poço’) era filho de pEquidna (metade mulher, metade serpente) e Tífon. Tinha entre três e cinqüenta monstruosas cabeças de cão e cem caudas de serpente. Guardava a entrada para o Mundo Inferior, e rondava eternamente os portões para impedir a passagem de intrusos. Os mortos eram autorizados a passar por ele como sombras, mas a única maneira de os vivos entrarem era por meios ilícitos. Orfeu embalou-o no sono com a música., Enéas drogou-o e Hércules o aterrorizou.” (A Bíblia da Mitologia, Sarah Bartlett, editora Pensamento, São Paulo, 2011, p. 290)

Quanto se trata do Cerveró, a imprensa brasileira age como se fosse Cérbero. Os editores dos principais órgãos de comunicação deixam passar para o mundo inferior (onde estão as rotativas que imprimem os jornais e as revistas) apenas as denúncias contra o PT para transformar os líderes daquele partido em sombras. As graves acusações lançadas contra o PSDB são barradas e/ou minimizadas para que os tucanos continuem vivos e aptos a ganhar eleições.

Cerveró tem uma grave deformidade no rosto. Mas as deformidades ideológicas, profissionais e políticas dos editores dos grandes veículos de comunicação são maiores e menos evidentes. O Cérbero midiático está editando a imagem do Cerveró. Quando ele delata petistas, a face dele é bonita e íntegra. Quando delata tucanos, a face dele é totalmente desfigurada e não merece qualquer destaque. Tudo se passa como se o homem pudesse ser tratado como sua imagem. Ao usar o Cerveró para deslegitimar a eleição de Dilma Rousseff e legitimar a corrupção tucana a imprensa brasileira não apenas perde o foco e a credibilidade. Perde também sua aura de isenção.

Os editores dos jornalões e revistinhas construíram um partido político. Portanto, como sugeriu Emir Sader eles devem ser tratados de maneira adequada. Não só isto. Em algum momento o Ministério Público Federal deverá começar a investigar as relações perigosas entre a imprensa/jornalistas e os mafiosos tucanos que eles tentam proteger.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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