Nuvens no horizonte da economia

Coluna Econômica

Este ano exigirá muita perícia na condução da política econômica.

A economia é como um jogo de xadrez, em que cada movimento de uma peça modifica o equilíbrio no tabuleiro.

Confira o jogo. A política econômica tem dois desafios:

  1. Conter a apreciação do real;
  2. Combater a inflação.

Historicamente, por uma dessas distorções do país das jabuticabas, o câmbio sempre foi utilizado para combater a inflação. Apreciava-se o real até o ponto de uma crise nas contas externas que provocava uma desvalorização cambial, trazendo a inflação de volta num segundo momento.

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Nos últimos anos, uma conjugação favorável de fatores internacionais permitiu simultaneamente apreciar o câmbio e combater a inflação sem a eclosão de uma nova crise nas contas externas.

Houve uma explosão nos preços internacionais de commodities. Esse movimento permitiu a apreciação gradativa do real, o aumento irresponsável das importações, a redução das exportações de valor agregado, tudo suportado pelo aumento da quantidade e valor de commodities exportados. E também peloe xpressivo aumento da liquidez internacional, a partir da crise de 2008.

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Agora, há nuvens no horizonte. A União Europeia decidiu aumentar os juros. Se esse movimento for seguido por outras economias, os reflexos serão os seguintes:

  1. Reduz o ritmo de recuperação das economias nacionais e do comércio mundial. Importará menos e tratará de exportar mais seus excedentes, acirrando a competição comercial global.
  2. Dependendo da evolução da economia chinesa (enfrentando problemas com inflação), haverá pressão baixista sobre as cotações e a quantidade de commodities comercializada no mundo. Bate direto nas contas externas brasileiras.
  3. Ao mesmo tempo, o aumento de juros levará de volta parte do capital especulativo. Não haverá mais a abundância de capitais dos últimos anos, apesar da enorme liquidez injetada pelos EUA na economia mundial.

Como ficará o Brasil nessa história?

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Nesse momento, o combate à inflação sofre com a choque de preços de commodities no ano passado. Também há pressões no setor de serviços.

O dólar continua caindo, com a Fazenda e o Banco Central tomando medidas insuficientes para segurar a queda. No  nível atual, o dólar não mais contribuirá para segurar a inflação. Mas terá peso decisivo no aprofundamento do buraco nas contas externas.

Tem-se, portanto, os seguintes riscos no horizonte:

  1. A manutenção do câmbio apreciado aumentará cada vez mais o rombo nas contas externas.
  2. Esse fator de risco será agravado pela possibilidade (não certeza) de uma queda nas cotações de commodities.
  3. O aumento de juros internacionais reduzirá o fluxo de dólares para os emergentes. Reduzirá a pressão sobre o câmbio mas, dependendo da intensidade do refluxo, poderá acelerar a desvalorização cambial.
  4. Com a desvalorização, haverá um primeiro impacto inflacionário, dessa vez combatido através das chamadas medida macro prudenciais.

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São possibilidades, mas que terão desde já de serem administradas pela Fazenda e pelo BC.

Luis Nassif

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