O caso Siemens e os sistemas de controle

Coluna Econômica – 18/10/2011

A queda do presidente da Siemens Brasil, Adilson Primo, é simbólica de uma nova fase na vida das empresas globais. Primo caiu quando começaram a ser ventiladas notícias de contabilidade paralela na empresa. Provavelmente, de recursos utilizados para contatos políticos.

Até então, Primo era um dos principais dirigentes de multinacionais no país, com atuação expressiva na disseminação de conceitos de inovação e de gestão. E permanentemente empenhado em ampliar o espaço do Brasil na organização.

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Aparentemente, Primo foi rifado pela Siemens. Primeiro, pelo receio de mais um pepino na vida da empresa – que já pagou a maior multa corporativa da história por tentativa de suborno. Aproveitou-se o episódio para defenestrar um executivo que poderia disputar a presidência da Siemens internacional.

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Nas últimas décadas, a desregulamentação financeira produziu uma zona cinzenta, onde se misturavam capital global, crime organizado e uma infinidade de holdings em paraísos fiscais, através dos quais se praticava toda sorte de falcatruas. Desde a Standard Oil, tenho a impressão de que jamais o capitalismo testemunhou período tão conturbado de corrupção corporativa.

Alguns episódios marcaram profundamente. Como as propinas pagas pela IBM na Argentina, ou as holdings não financeiras utilizadas pela banca nova-iorquina para participar de privatizações na América Latina.

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A reação foi um sem-número de iniciativas visando combater essa corrupção disseminada. Houve ofensiva contra paraísos fiscais, a atuação decidida do Ministério Público tanto nos Estados Unidos quanto em outros países, a votação de leis severas anticorrupção e o surgimento de organizações, como a Global Crossing, com códigos de conduta rígidos para seus associados.

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Os estatutos passaram a considerar conduta imprópria, “pagamento ou oferta de pagamento para influenciar a decisão de um Funcionário do Governo ou Outra Parte Coberta para ganhar um contrato ou outra oportunidade comercial com a Global Crossing”, “pagamento ou oferta de pagamento para influenciar a decisão de um  Funcionário do Governo ou Outra Parte Coberta para emitir qualquer  autorização ou documentação governamental, como qualquer aprovação, permissão ou licença” e assim por diante.

Ao mesmo tempo, em 2002 o Congresso norte-americano aprovou a Lei Sarbanes-Oxley, com regras severas de transparência contábil.

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Um subproduto desse movimento foi a ampliação da burocratização nas multinacionais – especialmente norte-americanas e europeias -, em um momento de drásticas mudanças no quadro econômico global. A palavra de ordem passou a ser o “compliance” – ou seja, as regras para evitar qualquer desvio de recursos e de conduta.

Criou-se um emaranhado tal, que acabou tolhendo a capacidade de iniciativa da maioria das empresas. Algumas delas tornaram-se verdadeiras repartições públicas.

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Esse mundo, de rápidas e profundas transformações, está a exigir algum teórico visionário capaz de compatibilizar controle com rapidez e eficiência. Antes que uma nova geração de multinacionais, nascida no Ásia, tomem conta do mundo.

Luis Nassif

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