O homem auto-feito e seus problemas com programas sociais

Quando nascemos estamos condenados a liberdade. Essa célebre frase de Sartre, dono de outra célebre que diz que o inferno são os outros, é vital para todos nós entendermos que, largados à  própria sorte da vida, não somos nada sem ajuda.

Tornou-se comum ouvir as críticas das mais rasas em relação aos beneficiários do Bolsa-Família, das cotas raciais, entre outros auxílios oferecidos pelo atual Governo.

A maioria dos críticos tem a crença na ideia que é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe. Pessoas que em suas histórias de vida, apesar de muito diferentes, tem provavelmente um traço em comum, o sentimento de que venceram sozinhas ao infortúnio da liberdade depois do nascimento, ou que no mínimo estão batalhando por uma vida melhor.

Certo de suas próprias forças, o homem feito ignora os obstáculos e alcança o horizonte de tranquilidade financeira depois de uma vida cheia de labutas. Tudo isso sem olhar para trás e notar os pontos de apoio da maratona que ele insiste em dizer que completou sozinho.

Amigos, pais, parentes mais próximos, certos professores, Santos, Orixás, Deus, etc. Quantas coisas não passaram pelas nossas vidas dizendo: não desista, siga em frente? Ou mesmo, quantas pessoas não se sacrificaram para que pudéssemos ter dinheiro para a condução, comida, livros, viagens, enfim tudo?

Mesmo histórias boas para a manutenção do pensamento da classe média sobre a aura do homem auto-feito, como por exemplo, o menino que trabalhou na roça durante toda a sua infância, e que pegou um livro para, a partir daí, ganhar o mundo, estão longe de terem como resultado um ser humano com independência de fatos favoráveis ocorridos. Isso não existe.

Todo o apoio, seja ele financeiro, emocional, ou espiritual durante a nossa caminhada deve sim ser computado como ajuda. Ou vocês acham que não teve alguém que ajudou o garoto da roça ao pelo menos servir de espelho ?

Sendo assim, por que ainda há pessoas que acreditam que se auto fizeram, e que por isso ninguém deveria receber o peixe? Podemos ser PhD em tudo, termos vindo da lata do lixo social, mas uma analise fria do passado é capaz de jogar por terra todo nosso orgulho adquirido, aquela sensação de que vencemos sozinhos.

A sequencia de elogios durante a nossa caminhada é perigosa, ela nos leva a crer que de fato somos bons e nosso sucesso nada tem a ver com as forças que mantém, e mantiveram, a atmosfera favorável. Isso é uma falácia, pois sabemos que a tendência natural em uma vida ditada pelo ter para ser é sempre a infelicidade.

Sabemos, por exemplo, que temos momentos em que queremos desistir. Então por que não associar o minúsculo benefício do BF, e das cotas, à essas atitudes que mantém a atmosfera favorável para a caminhada da vida dos beneficiários?

O pretenso homem auto-feito tem a seguinte idéia na cabeça: eu não tive e venci sozinho. Pobre de espírito por achar que de fato foi independente de qualquer ajuda. Puro egoísmo.

É nesse ambiente que o Brasil está fervendo. A todo  momento busca-se associar aos beneficiados por programas sociais do Governo que eles não tem competência para se auto fazer. A crença nessa independência dos fatos favorecedores ao longo da vida mostra que muitos de nós não olhamos para trás, não fazemos a reflexão necessária, talvez pelo medo maior de se constatar o quão idiotas fomos e continuamos sendo.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador