O mito dos 16 anos de ouro do capitalismo brasileiro

O esporte nacional da temporada parece que é mesmo bater em Dilma Rousseff. Seca e falta d´água, enchentes, o preço do tomate, os problemas com o metrô, com a polícia, com a violência, com as obras da Copa, o que seja, é tudo culpa dela. Na pancadaria generalizada contra a presidente (ou presidenta, usa-se a inflexão a gosto do freguês) está virando moda falar que seu governo é ruim, mal gerido e de crescimento baixo, e que “os 16 anos anteriores foram virtuosos”. Discurso que está na boca de candidatos como Eduardo Campos e Marina Silva, que por estratégia eleitoral querem se mostrar como amigos de todo mundo e cativar eleitores tanto de FHC quanto de Lula. Mas esse discurso, dos 16 anos, eu já vinha ouvindo de alguns colegas acadêmicos aqui e ali e agora começa a aparecer até em textos de análise política, como se vê na edição deste domingo do Estadão, como no caso do artigo “Análise: Fragilmente favorita”, do meu amigo e colega Carlos Melo.

Que me desculpem, mas o período entre 1995 e 2010 não foi marcado por 16 virtuosos anos. O primeiro mandato de FHC, entre 1995 e 1998, foi excelente, se comparado, em termos de crescimento e principalmente controle inflacionário, ao que se via neste país desde o governo Figueiredo, no final dos anos 1970, passando na seqüência por Sarney, Collor e Itamar. Mas o segundo governo do tucano, de 1999 a 2002, foi de crescimento pífio, quebradeira de empresas e desemprego em alta, e a sensação que se tinha a época é que foi um mandato que demorou a passar. O grande analista da vida brasileira contemporânea José Simão chegava a escrever à época, em sua coluna diária na Folha de São Paulo, que FHC significava “Fazendo Hora no Cargo”. Lula, por sua vez, fez um segundo mandato (2007-2010) muito melhor que o primeiro (2003-2006), pois só a partir de 2007 efetivamente conseguiu mostrar bons resultados em termos de economia e melhoria das condições sociais da população. Assim como aconteceu com FHC, os oito anos do mandato do petista também não foram uma maravilha do começo ao fim.

Então vamos devagar, pois será uma pena se, ao invés de campanha eleitoral, com efetivo debate de ideias e propostas para o país, tivermos neste ano um imenso sábado de aleluia com sua típica malhação de judas. A primeira eleição presidencial após a volta da democracia, em 1989, foi assim, com todo mundo descendo o sarrafo no então presidente Sarney. Deu no que deu.

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP e da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. 

Redação

24 Comentários

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  1. A ideologia é um cabresto que

    A ideologia é um cabresto que impide de se ver a realidade e o futuro.

    Um país somente se desenvolve e melhora a condição de vida do seu povo com o aumento da produtividade marginal do país.

    Todas as ações de governo são neste sentido cada um com seus desafios no contexto de seu mandato.

    E essa a realidade “inescapável”.

    O nossa sociedade fez no passado uma aposta no nacional desenvolvimentismo, esperando que com os privilégios dados a determinados setores com o tempo sua produtividade fosse chegar ao ponto de poder concorrer com o mundo em preço e qualidade.

    Outras sociedades fizeram as mesmas apostas, Coréia do Sul por exemplo.

    Esta estratégia não deu certo em nosso país com poucas exceções aqui e ali, o resultado foi a criação de carteis privados e estatais, com grande poder politico e economico que mandam e desmandam no país.

    O PT aposta na reedição do nacional desenvolvimentismo para alcançar o desejado desenvolvimento do nosso país, só o tempo dirá se estavamos certos ou não.

     

      1. Liberalismo também é ideologia

        Com certeza liberalismo é ideologia. A escola austríaca (da qual presumo que o Aliança faça parte) tem os seus radicalismos. Por outro lado, o trecho em que ele afirma:

        “Um país somente se desenvolve e melhora a condição de vida do seu povo com o aumento da produtividade marginal do país”.

        Isso não é ideológico, é puramente matemático, serve para uma tribo de índios na Amazônia, para a União Soviética em 1917, e para o Brasil hoje. Infelizmente é algo muito importante e tema sobre ao qual nenhum dos dois maiores partidos políticos dá muita atenção.

        1. o “somente” na frase induz ao

          o “somente” na frase induz ao concepção de uma “solução” única para o problema que se busca resolver, o que não é em absoluto uma verdade. Além do que, o que se entende por “produtividade marginal” pode ter vários objetivos o que dependendo da … ideologia que se pretende dar a economia como um todo. A escola austríaca é cheia de sofismas, procura dar uma cobertura técnica as questões justamente para escapar do (escamotear o) debate das questões sociais e políticas.

          1. Realmente a ‘produtividade’
            Realmente a ‘produtividade’ em si não é ideologia, mas como e e o que e feita com ela sim

      2. Onde esta escrito

        Onde esta escrito que  liberalismo não é ideologia, pelo menos no sentido atual da palavra, que originalmente significava “falsa idéía”.

      1. Que ironia, não?

        Sei não, mas eu acho que você não seria capaz de entender uma ironia, mesmo que ela desabasse em sua cabeça.

        Mas eu topo me arriscar: Diga aí um governo melhor, e cite os índices, começando por:

        01- emprego.

        02- controle da inflação média anual.

        03- gasto social per capita.

        04- reservas.

        05- crescimento médio do PIB.

        06- índice GINI.

        07- salário minimo.

        e outros que forem de seu interesse.

        Pode usar ironia se quiser…não pode é mentir.

        1. Hehe, foi a “crise

          Hehe, foi a “crise internacional”, Zeus.

          Se o país estivesse de 2008 até hoje na mão dessa turma que hoje está na oposição seríamos sem dúvida nenhuma, sem dúvida nehuma, repito, um gigantesco Portugal; uma imensa Espanha.

          Não tenho dúvida: adeus emprego, salário, o mínimo de seguridade social e serviços públicos, direitos sociais e o restante das estatais… Tudo culpa do pt, pt, pt, claro.

    1. Help, Danusa Leão…

      Ué, bom então era como vocês faziam: Aeroporto para meia dúzia de gente? Estrada para meia dúzia de carros? Supermercado e shopping como espaço de luxo e VIP, onde pobre só entrava para varrer o chão?

      Sei, sei…

      Aí sim sobrava espaço, e não tinha este pessoal chechelento no check-in…

      Os caras levaram séculos desmontando o país, vendendo a porra toda a preço de chuchu, restringindo as melhores coisas a poucas pessoas, e depois, quando alguém começa e distribuir um pedacinho de nada, eles gritam: “tá tudo uma merda!”

      Quem leva este pessoal a sério?

      Ah, em tempo: depois de 40 ANOS, as expansões, reformas e novos aeroportos devem começar a ficar prontos, já, já…e o melhor: com gente para viajar, e não só a massa cheirosa.

      1. A mesma retórica pode ser

        A mesma retórica pode ser usada com a fala de água em SP. 

        Agora pobre toma banho antes não.

        Racionalizar para defender governo é apelação.

         

  2. Por que bater na Dilma?

    Mas a única coisa que os PTistas faziam antes da eleição do Lula era bater em todos os ex-presidentes …

    O FHC era o culpado pela falta de chuvas e pelo preço do chuchú …

    Agora chegou a vez dela … parece ser esse o verdadeiro esporte nacional …

    1. O problema não é o PSDB

      Mania vocês do PSDB misturar partido político com mídia que se diz isenta. O PSDB pode estrebuchar o quanto quizer. Até fazer jogo sujo como o Serra e o Aécio fazem. O que não poderia é a mídia dita isenta fazer jogo sujo contra o PT, Lula ou Dilma. É este bombardeio mentiroso, manipulador, safado que a mídia faz que irrita. E tu e muitos aqui do PSDB parecem não saber separar as coisas. Ou são hipocritas mesmo?

    2. Bem lembrado. Oposição burra

      Bem lembrado. Oposição burra não é novidade por aqui. E a lei da responsabilidade fiscal que o pt foi contra?  Passo raro e importante para conter a sangria do dinheiro público que rolava muito mais solta que hoje. 

  3. Quanto mais leio comentários

    Quanto mais leio comentários do pessoal da direita mais me convenço de que são uns  aloprados.

    Só um completo aloprado não enxerga a mudança que o PT provocopu no país. Não dá nem para comparar o que era o Brasil antes do PT com o que é hoje. Claro que ainda há um longo caminho até sermos mais, digamos, “civilizados”. Mas, em 500 anos anteriores, os outros nem começaram a segui-lo.

    Não tinhamos nada e agora temos pouco.

    A Dilma não é grande coisa mas a concorrência é horrível. é do mesmo naipe destes chechelentos direitosos que frequentam este blog.  Não passam de uns incompetentes que como não tem nada a dizer ou plano de governo a apresentar, ficam gastando o tempo malhando o governo através da mirdia amiga.

    Se continuarem assim, ainda vão perder muitas eleições, mesmo com a ajuda maciça desta midia de merda que faz de tudo para impedir o PT de se dedicar exclusivamente a governar.

    Não adianta ficar arrotando que dá para fazer mais e não apresentar absolutamente nerhuma proposta decente. Aliás, o passado e os aliados atuais dos outros candidatos comprovam que eles não têm nada a mostrar, 

     

  4. A nossa academia idealiza a política como se fosse Platão

     

    Wagner Iglecias,

    Ao ver seu título de doutor e de professor na USP veio um desânimo com a nossa academia.

    Primeiro você vem com a expressão “em termos de”. Deixa essa expressão para nós, os leigos.

    Depois ainda que você dê o destaque para a inflação como principal elemento para avaliar o governo de Fernando Henrique Cardoso, o governo de Lula e o governo de Dilma Rousseff, você compara implicitamente, por exemplo, o crescimento do governo de FHC com o de José Sarney, esquecendo que nos cinco anos de José Sarney, o Brasil cresceu mais do que nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso. E não me será surpresa se se anualizar a inflação pelo IGP para os três últimos meses do ano do governo de Itamar Franco com o de FHC constatar-se que a inflação foi maior no final do governo de Fernando Henrique Cardoso.

    E você terminar seu artigo com questionamento de adolescente colegial ao dizer que “será uma pena se, ao invés de campanha eleitoral, com efetivo debate de ideias e propostas para o país, tivermos neste ano um imenso sábado de aleluia com sua típica malhação de Judas”. Ora em que país do mundo temos uma campanha eleitoral com efetivo debate de ideias e propostas?

    Um questionamento que não foi surpresa para mim, tendo em vista artigo recente do também professor Aldo Fornazieri. O artigo de Aldo Fornazieri foi transformado no post “Clientelismo e corrupção do sistema político, por Aldo Fornazieri” de segunda-feira, 10/03/2014 às 08:18, aqui no blog de Luis Nassif e pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/clientelismo-e-corrupcao-do-sistema-politico-por-aldo-fornazieri

    Há uma idealização da democracia e se transforma o clientelismo como sinônimo de corrupção. É preciso desconhecer o funcionamento da democracia real para fazer essas confusões e analisar a democracia como se fosse um modelo idealizado.

    E que se acrescente que foi de um absoluto “no sense” estabelecer uma relação entre a prática de se descer o sarrafo em José Sarney na campanha eleitoral de 1989 e a consequência de se ter um governo como o de Fernando Collor de Mello.

    Bem, e faço aqui um lembrete importante sobre o governo da presidenta Dilma Rousseff. Esquecendo a intensificação das políticas sociais com a preocupação com a geração de emprego, foram os anos de juros reais mais baixo que já tivemos. Juros reais é a grande diferença em uma economia. Com juros reais baixo, a probabilidade da dívida pública decrescer é muito maior. Este foi o grande problema do governo de Fernando Henrique Cardoso.

    Para efeitos eleitorais é bom reconhecer que a população não sabe desta correlação entre juros reais e dívida pública. E mesmo que venha a saber dessa correlação, para ela fará pouca diferença. O que para ela faz diferença é sentir que a inflação está baixa e é claro que se têm bons indicadores de bom nível de emprego. Sobre esta questão, entretanto, parece que vale bem olhar um gráfico que Alexandre Schwartsman apresentou no artigo intitulado “Imunes” dele de quarta-feira, 26/03/2014, na Folha de S. Paulo. Indiquei este artigo em comentário que enviei sexta-feira, 28/03/2014 às 18:57, para junto do comentário de Arthur Araujo enviado sexta-feira, 28/03/2014 às 17:37, lá no post “O contra-ataque do governo na CPI da Petrobras”. O meu comentário e o de Arthur Araujo que se encontram na quarta página do post “O contra-ataque do governo na CPI da Petrobras” podem ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-contra-ataque-do-governo-na-cpi-da-petrobras?page=3

    Lá em meu comentário eu dizia o quanto estaria equivocada a ideia de se transformar a CPI de Pasadena em uma CPI sem fim específico. E uma das razões é a percepção de que, como mostra o gráfico que Alexandre Schwartsman apresenta no artigo “Imunes”, o governo tem um grande domínio da inflação e, portanto, pode direcionar a inflação para o nível em que o governo obtém a maior quantidade de voto.

    Lá em meu comentário para Arthur Araujo eu deixei o link para o artigo na Folha de S.Paulo. Infelizmente, o gráfico não está disponível no endereço na Folha de S. Paulo, mas provavelmente no início desta semana, quando Alexandre Schwartsman reproduzir o artigo “Imunes” no blog dele, o gráfico vai aparecer. Duas conclusões importantes a se tirar do gráfico e as quais já me referir acima. A primeira é que a presidenta Dilma Rousseff manteve um juro real baixíssimo no período beneficiando o Brasil, embora com uma inflação um pouco mais alta não tenha deixado a população muito satisfeita. E a segunda e que com o atual conhecimento da inflação e da sistemática de a combater, um governo, interessando em ganhar uma eleição, pode direcionar a inflação para o nível que achar mas adequado eleitoralmente.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 30/03/2014

    1. Ver “Para cientist. polít., a avaliação de Dilma não surpreende”

       

      Wagner Iglecias,

      Vou continuar enviando o comentário como se fosse para você, embora, quando se trata de textos transcritos sem a indicação de quem o sugeriu, eu prefira destiná-lo a Luis Nassif. Ainda mais que uma parte do que vou escrever é diretamente para ele.

      Este post “O mito dos 16 anos de ouro do capitalismo brasileiro” de domingo, 30/03/2014 às 17:58, tem o inconveniente de não ter uma apresentação prévia. Assim, não se sabe se se trata de transcrição de um artigo ou de um comentário. Se artigo, veio sem título e sem a informação a respeito da procedência. Há apenas a sua bem altiva titulação. E se o seu texto não foi sugerido por ninguém, valia à pena que Luis Nassif tivesse deixado uma breve introdução se posicionando em relação ao conteúdo do post e do seu autor.

      E o que eu pretendia dizer aqui era apenas uma menção ao post “Para cientista político, avaliação de Dilma não surpreende” de domingo, 30/03/2014 às 12:00, aqui no blog de Luis Nassif e também sem introdução dele. O endereço do post “Para cientista político, avaliação de Dilma não surpreende” é:

      https://jornalggn.com.br/noticia/para-cientista-politico-avaliacao-de-dilma-nao-surpreende#comment-267716

      O post “Para cientista político, avaliação de Dilma não surpreende” consiste da transcrição do artigo “Analise: Fragilmente Favorecida” do cientista político e professor do INSPER Carlos Melo, publicado no Estadão e que fora mencionado por você aqui neste post.

      E para as partes do seu comentário mais benignas ao governo da presidenta Dilma Rousseff há uma espécie de reforço feito por Luis Nassif no post “Dilma está ficando barata no momento certo” de hoje, terça-feira, 01/04/2013 às 08:02. O endereço do post “Dilma está ficando barata no momento certo” é.

      https://jornalggn.com.br/noticia/dilma-esta-ficando-barata-no-momento-certo

      O texto de Luis Nassif funciona também como um contraponto ao artigo de Carlos Melo “Analise: Fragilmente Favorecida”.

      Bem, queria apenas dizer que não havia lido o artigo de Carlos Melo. Após a leitura, primeiro diria que as duas críticas que eu fiz a você, tanto pela sua condescendência com o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como com sua visão idealista da política, permanecem. E segundo penso que o fato de você e o Carlos Melo serem colegas de profissão é boa razão de você não ter feito a Carlos Melo uma crítica mais dura.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 01/04/2014

  5. Pois é primeiro mandato do

    Pois é primeiro mandato do fhc excelente é piada, deveria ter pedido o boné e ido embora, a desgraça do povo é que todo presidente que assume diz que no primeiro ano tem que fazer “ajustes”, que ajustes são estes só o Altíssimo sabe, e toca piorar a vida de todos para fazer os tais ajustes.

  6. Falta equilíbrio e sobra emoção

    Wagner conseguiu colocar um raro equilíbrio neste momento tão polarizado. Tudo é 8 ou 80 por aqui. O governo Dilma não pode ser considerado o melhor que tivemos e tão pouco o pior. O PIB do ano passado não foi um pibinho como Dilma mesma disse. Foi um bom resultado levando em conta a situação mundial e os índices históricos do Brasil. Não teremos a copa das copas e nem a pior copa de todas. O Brasil não é abençoado por deus e tão pouco somos vira-latas. Temos evoluído muito, mas ainda há muito trabalho árduo a ser conduzido. Situação, oposição, grande impressa e a maioria dos comentários que leio estão nesta gangorra maluca. Cegueira por todos os lados. Precisamos de gente boa para reacender as lanternas e faróis.

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