O Natal do japonês

Outro dia levei uma espinafração, aqui, de um leitor que dizia ser “carnavalesco” o meu otimismo em relação à economia brasileira.

De início, pensei em respondê-lo com aquela argumentação – correta – de que há uma crise mundial, o desemprego permanece alto nas economias centrais, que estas patinam num crescimento zero, ou em falar na necessidade de encontrar a equação correta de contenção de gastos de custeio – e isso não é fácil, vide a pressão do Judiciário por aumentos – e ampliar os gastos de investimentos numa máquina que, como reconheceu hoje a própria Dilma, ressente-se de agilidade.

Mas, preso debaixo do temporal na ponte Rio-Niterói ouvi a notícia sobre a pesquisa da Federação do Comércio do Rio de Janeiro para as vendas de Natal. E lembrei-me do que foi escrito aqui há alguns poucos dias: que iludia-se quem acreditava que o impulso de expansão da economia brasileira se extinguiu.

Pois é exatamente o que mostra a pesquisa, prevendo um gasto médio porcomprador 25% maior que o já farto – para os nossos padrões históricos – Natal de 2010.

Mas se o ano foi de resfriamento econômico e impacto de inflação, só agora em declínio, sobre a renda das famílias, porque esta reação otimista em meio a um pessimismo que transborda dos jornais?

A razão está, também, um pouco expressa na pesquisa CNI/Ibope de hoje, que eleva os índices de aprovação do governo e, sobretudo, as expectativas de que ele vá conduzir-se bem.

“O mercado de trabalho, além de estar fortalecido, está mais formalizado, as pessoas estão trabalhando com maiores garantias, podendo pegar créditos e podendo assumir financiamentos”, diz o economista Christian Travassos, responsável pela pesquisa.

Os economistas de “cabeça de planilha”, como diz Luiz Nassif, não consideram a disposição e a vontade de milhões de pessoas que passaram sua vida ouvindo: olha a crise, aperta o cinto, vamos ter de cortar.

Um pequeno comerciante, num bazar ali da praça Xavier de Brito, na Usina, escreveu numa faixa: “é pau na crise”.

O comentarista que me espinafrou, embora com um ou outro dado equivocado, tem razão em todos os pontos fracos que aponta na economia brasileira: juros altos, baixa formação de capital fixo, perda de competitividade industrial, dependência da exportação de commoditties, enfim, tudo aquilo que está errado e está não é de hoje.

Mas há algo diferente, uma força que impulsiona uma das maiores comunidades do mundo e que fará, como fez no mergulho de 2008/2009 desta crise que retorna, toda a diferença: o povo brasileiro está empregado, pode consumir, ainda que modestamente, e tem confiança o bastante para utilizar o crédito de que pode dispor, ainda que muito caro.

Uma força que deveria fazer certas pessoas se lembrarem que a economia é uma atividade humana e que, por isso, é, em última instancia, feita por pessoas.

Não é um país que tenha se tornado grande sem que este processo não se valesse dos desejos e sentimentos de seu povo. E que os entendesse e respeitasse, mais, muito mais dos que – hoje fracassados – nos diziam que esquecessemos suas angústias e fizessemos o “dever de casa” do arrocho.

O Brasil, finalmente, passou a ser um pouquinho governado como na historinha que Darcy Ribeiro contava sobre uma reunião de líderes japoneses.

* O que temos aqui? , perguntou um deles. Temos terra?

* Não, temos pouca terra, temos de fazer escadas na montanha para plantar arroz.

* Temos ferro? Não! Temos petróleo? Não!

*Já sei o que temos em maior escala! Temos japonês!

Bem, nós temos terra, ferro, petróleo. Só faltava começarmos a considerar o povo uma força e não um problema para a economia.

Por: Fernando Brito

Redação

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