Postura de Lula mostra deferência aos militares, diz cientista político Cláudio Couto

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Para cientista, postura a ser adotada deveria ser baseada no voto de Flávio Dino, sobre militares serem poder subalterno

O redator-chefe da Carta Capital, Sergio Lirio; o cientista político Cláudio Couto, do podcast Fora da Política Não Há Salvação; e o jornalista Luis Nassif, do Jornal GGN

A decisão do presidente Lula de vetar o governo de comemorar os 60 anos do golpe, em uma tentativa de manter uma postura conciliatória com os militares, revela, na verdade, uma deferência que não condiz com os princípios democráticos, de acordo com o cientista político Cláudio Couto. 

“E não me parece que deixar de lembrar do golpe de 64 fosse alguma coisa que melhoraria nossa relação com os militares daqui pra frente, pelo contrário, na verdade, mostra uma passividade, mostra um temor”.

No programa “Política da Veia” [assista abaixo], conduzido por Sergio Lirio, os comentaristas Cláudio Couto e Luis Nassif jogaram luz sobre a medida anunciada por Lula, às vésperas do aniversário do golpe de 64, que sangrou o país por 21 anos. 

Para o jornalista Luis Nassif, “a decisão do presidente de ignorar o passado foi um murro na cara de todos aqueles que têm parentes, filhos desaparecidos”, dando ênfase ao trabalho da Caminhada do Silêncio, idealizada pela procuradora Eugênia Gonzaga, e que visa homenagear as vítimas da violência do Estado.

Para os comentaristas do programa, a posição de Lula, portanto, foi desnecessária, “do ponto de vista daquilo a que ela supostamente se prestou, que é esse processo de acomodação que o Lula vem tentando produzir com os militares“.

Militares são poder subalterno

Couto sustenta a convicção de que a abordagem apropriada deve refletir a posição expressa pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino durante julgamento sobre os limites constitucionais da atuação das Forças Armadas, iniciado na sexta, 29. Para Dino, os militares são “subordinados” e as Forças Armadas não devem se intervir em conflitos entre os Três Poderes.

“Os militares são numa democracia, em um Estado Democrático de Direito, um poder subalterno, é essa a palavra e é essa a mensagem que o governo brasileiro teria que ter dado também”, compara Couto. 

Ao optar por não tratar do assunto, segundo Cláudio, “o que o presidente Lula fez foi não deixar claro aos militares que eles são subalternos. Essa é a linguagem que eles entendem, e não a macia, de cordeirinho, acomodação, entendem o recebimento de ordens. Disciplina e hierarquia”. 

A discussão no programa também levou à militarização no alto escalão do Judiciário, apontada pelo jornalista e redator-chefe da Carta Capital, Sergio Lirio, quem conduz o programa. “Quem enfiou os militares no Supremo foi o Toffoli, com a ideia de que há o mau e o bom militar”. 

“Vale lembrar que essa militarização do Palácio contou com a participação efetiva do então ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que depois se reabilitou com a coragem indômita impedindo o golpe final”, acrescenta o jornalista Luís Nassif, reiterando aos colegas de bancada a necessidade de se fazer manter o poder civil no ambiente jurídico.

A manifestação de ministros

Apesar do comunicado de Lula, alguns ministros, no entanto, se manifestaram de forma individual em suas redes para marcar o simbolismo da data. O ministro do Trabalho Luiz Marinho, inclusive, marcará presença em evento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Paulo, na próxima quinta-feira, para celebrar a democracia.

“Menos mal que pelo menos alguns ministros se pronunciaram, mas veja, em caráter pessoal. Houve uma postagem muito alentada do Silvio Almeida, o ministro Paulo Pimenta [comunicação] também foi na mesma direção, o Paulo Teixeira [agricultura]. 

Política na Veia é uma parceria entre o Jornal GGN, o podcast Fora Da Política Não Há Salvação e a revista CartaCapital. O programa é transmitido toda terça-feira, às 11h, no Youtube. Clique aqui para se inscrever gratuitamente no canal TVGGN, ou vire membro e tenha acesso a conteúdos exclusivos.

Assista ao programa completo na TV GGN:

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Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN

3 Comentários

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  1. Já comentei da minha total discordância e insatisfação com a atitude e afirmação de Lula. Por tudo que já fez pelos trabalhadores e pela população excluída, eu penso que ele não está em um bom momento e que merece a oportunidade da reparação. Acredito que só assim, através da reparação sincera, ele conseguirá anular os abalos negativos que ele e o PT poderão sofrer nas próximas eleições. Porém, quanto aos aposentados eu entendo que o estrago será muito sentido e até merecedor.

    1. Almeida,

      Eu acreditei piamente que Lula fez algo pelos mais excluídos.

      Acreditei, não acredito mais.

      A destinação de recursos de programas de renda mínima é antes um direito, não um favor.

      Mesmo assim, é fato que foi Lula que deu uma dimensão de política de Estado a tais programas, ok.

      Mas e a desigualdade?

      Lula não mexeu quase nada (eu diria nada) na curva de desigualde, tanto é verdade que logo depois do golpe de 2016, os ganhos foram subtraídos e os pequenos avanços retrocederam a índices pré 2003.

      Ou seja, nem um legado de diminuição de desigualdade Lula deixou.

      Ele pode até merecer uma oportunidade de reparação, talvez, mas não politicamente.

      Lula e sua carreira de conciliador estão totalmente coerentes com esse final melancólico.

      Cómo eu já disse, se há um momento que simboliza Lula na história brasileira não são as diretas já ou a eleição dele em 2003.

      São a lei de anistia e a sua rendição para a prisão pela PF.

  2. Senhores, o voto de Dino é tão vergonhoso quanto qualquer outro que houvesse em contrário, pelo simples fato de que o STF normatizar um troço desses também seja a submissão em si mesma

    Outra coisa, caro Nassif, Moraes não se redimiu, ele só anteviu, com senso de oportunidade (oportunismo?) incomum que Lula não cumpriria seu papel político de guardião democrático.

    Moraes viu o espaço vazio, e pimba, virou o fiador da República.

    Manteve o judiciário, antes golpista, no centro da cena como defensor da democracia.

    Moraes fez um tipo de auto anistia, sutil e certeira e com muito mais resultado que os militares em 79.

    De certa forma, me espanta sua boa fé, Nassif.

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