Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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Eliminar a pobreza ou eliminar o pobre?, por Fernando Castilho

Todos os levantamentos e estatísticas demonstram que proporcionalmente a Covid-19 matou muito mais pobres do que ricos.

Imagem: reprodução da Internet

Eliminar a pobreza ou eliminar o pobre?

por Fernando Castilho

Em 11 de março de 2020 a OMS, Organização Mundial da Saúde, caracterizou a Covid-19 como uma pandemia.

Diante do maior órgão mundial que trata da saúde humana, o então presidente Jair Bolsonaro fez sua opção: todos os brasileiros deveriam sair para trabalhar normalmente porque a Covid-19 seria em sua visão apenas uma gripezinha.

Como era de se esperar, quem não precisava sair para trabalhar, ficou em casa. Empresários que podiam gerenciar seus negócios a partir do conforto de suas residências, investidores que podiam continuar a valorizar seus papéis online e outros privilegiados pelo berço puderam continuar a tocar suas vidas normalmente.

De cara, o ex-ministro da Economia injetou um trilhão nos bancos a pretexto de evitar uma quebradeira que nunca existiria, já que no mesmo ano as instituições financeiras lucraram mais do que nunca.

Então, afinal, quem teria que se expor ao risco de ter que sair para trabalhar? Bingo! O pobre. E quem foi impedido disso, como as empregadas domésticas e as diaristas que colocariam em risco seus patrões, simplesmente perderam seus empregos.

Todos os levantamentos e estatísticas demonstram que proporcionalmente a Covid-19 matou muito mais pobres do que ricos.

Em todos os finais de ano do governo Bolsonaro houve enchentes catastróficas que causaram inúmeras mortes e gente desabrigada. Nenhuma delas era rica. O ex-presidente desdenhou e foi passear de jet-ski. Afirmou ainda que as pessoas deveriam escolher lugares melhores para construir suas casas, como se tivessem poder para isso.

Ainda durante o catastrófico governo, a inflação voltou a atingir 2 dígitos, o número de desempregados disparou e imagens de gente pobre correndo atrás de caminhão com ossos tomou os noticiários.

A conclusão que se tira disso tudo é que eliminar o pobre era um projeto do governo Bolsonaro. Paulo Guedes por várias vezes manifestou sua ojeriza pelos mais vulneráveis.

Muita gente diz que o pobre não tem consciência de classe. Mas pode-se também dizer que ele tem exagerada consciência de classe, já que obedece ao rico quando este lhe indica qual deve ser seu lugar na sociedade. Se não fosse assim, já teríamos tido uma revolução.

Esta servidão é voluntária e é evidente na sociedade.

O pobre pode entrar num shopping, mas será monitorado pelos seguranças. Pior se for negro.

Jamais cuspirá ou jogará lixo no chão de um shopping, um templo sagrado do capitalismo. Mas, ao sair às ruas, um bem público, de todos nós, ele cuspirá e jogará lixo nas calçadas raramente frequentadas pelo rico.

Há 3 coisas que ingerimos para sobreviver e das quais nossa vida depende: ar, água e alimento.

Bolsonaro fez o Brasil voltar ao mapa da fome da ONU com milhões de brasileiros sem poder fazer sequer uma refeição, como vimos em algumas reportagens.

Em São Paulo o governador Tarcísio de Freitas empreende todos seus esforços para privatizar a Sabesp e com ela, a água. Ou seja, os paulistas, caso o projeto seja aprovado pela Assembleia Legislativa, passarão a pagar por um bem que desde que éramos homo-erectus e perambulávamos com nossas tribos mundo afora, estava lá, de graça para todos.

Mais uma vez seria o pobre o penalizado.

Sob um governo de extrema-direita chegará o dia em que o pobre terá que pagar pelo ar que respira?

Talvez já vejamos isso na Argentina governada por Javier Milei.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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Fernando Castilho

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

2 Comentários

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  1. Lula envelheceu e se acomodou. O neoliberalismo está escravizando mais e mais as pessoas comuns com ajuda do STF. E os parlamentares de esquerda estão mais preocupados com seus cargos e salários do que com o empobrecimento da população brasileira. A Folha do Neoliberalismo deve estar comemorando sua vitória.

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