O Apoio dos Mentores da Agenda Neoliberal e a Democracia Brasileira, por Jorge Alberto Benitz

Agora, até o vermelho das roupas e bandeiras da militância dos partidos, movimentos populares e sindicatos de esquerda virou um problema

Foto Sul 21

O Apoio dos Mentores da  Agenda Neoliberal e a Democracia Brasileira

por Jorge Alberto Benitz

    Um sentimento de satisfação e medo advêm da adesão dos economistas de direita, como muito bem classificou Luis Nassif no seu artigo https://jornalggn.com.br/economia/economistas-da-direita-e-criadores-do-plano-real-apoiam-lula/. Satisfação por saber que eles escolheram a defesa da democracia ao invés de apostarem na barbárie, representada pela candidatura Bolsonaro. Escolha que dá a impressão de ser calculada ao desembarcar na candidatura Lula na undécima hora, isto é, logo depois da primeira pesquisa após o primeiro turno. O bom seria adotar um pensamento pragmático e parar por aqui visto que está em jogo uma causa maior, a sobrevivência da democracia. No entanto, seria inconcluso, não kantiano, deixar de  analisar a razão do sentimento de medo tambem citado.

    Meu medo decorre do risco de não estar só representando a defesa da democracia os motivos que animam os autores do Plano Real, responsáveis pela aplicação da agenda neoliberal dos governos FHC. Espero que esta adesão não represente tornar letra morta as ideias- mestras na economia e na política do Plano de Governo Lula. Falo isso porque paira uma sensação de Déjà Vu no ar. Fenômenos não climáticos de alta toxicidade surgem no horizonte, que relembram a adesão de ilustres arenistas como ACM e Sarney no fim da ditadura e começo da redemocratização e a Carta aos Brasileiros, sob a inspiraç&ã e;o do não menos confiável Palocci, para acalmar a elite e se comprometer em não executar mudanças mais substanciais, algo que evoca para estes as temidas reformas de base.

    Apoios que, apesar de importantes e louváveis dado ao enfrentamento de um mal maior que ameaça a democracia no momento, pode se constituir, como as adesões de outros tempos  mencionadas, mais obstáculos do que benefícios no médio e longo prazo. Não se deve subestimar os riscos envolvidos nestes apoios que ao mesmo tempo em que declaram apoio a democracia podem, no fundo,  trazer no seu bojo – espero estar errado – o contido no aforisma dito pelo príncipe Salina no livro Il Leopardi, de Giuseppe Tomasi Lampedusa: Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude.

    Corroborando e confirmando a pertinência de minha preocupação acerca deste tipo de apoio, leio hoje (11 10 22) o artigo de Igor Felippe Santos, aqui  no Jornal GGN, apontando a chantagem destes grupos políticos e econômicos que, segundo ele,  exigem  “ o nome do ministro da Economia, do detalhamento do programa de governo, da linha da política econômica, especialmente da nova âncora fiscal. Agora, até o vermelho das roupas e bandeiras da militância dos partidos, movimentos populares e sindicatos de esquerda virou um problema.” Não por acaso, o mesmo tipo de discurso que se ouve, em todos os espaços midiáticos, defendido por formador es de opinião alinhados ao mercado. 

    Não quero dizer que deve-se rechaçar este apoio importante e bem vindo nesta hora aziaga. Só que ficar de olho vivo nunca é demais.

Jorge Alberto Benitz é engenheiro e escritor.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador