Os nazistas se divertem, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Ao que parece, essa raça pura paradoxalmente impura será voluntariamente extinta. Predomínio racial pela extinção da raça superior. Eis um novo paradoxo do nazismo botocúndico.

Os nazistas se divertem

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Ato 1 – A constituição

Os princípios em torno dos quais a constituição brasileira foi estruturada são o respeito à dignidade humana, a ausência de qualquer tipo de discriminação, a pluralidade política, a redução das desigualdades sociais, o desenvolvimento com preservação da natureza e a observância dos direitos humanos.

A principal característica do nazismo é a rígida hierarquização racial da sociedade, o uso sistemático da violência política, a discriminação programática contra seres humanos considerados inferiores, a obrigatoriedade de partido único, a desigualdade econômica entre as raças e a desumanização da justiça. 

Ato 2 – Os nazistas da botocúndia

A população do nosso país já era predominantemente mestiça quando o programa de branqueamento da população brasileira foi implantado o século XIX. Esse programa, claramente inspirado pelas teorias racistas, consistiu predominantemente na importação de imigrantes brancos europeus.

Os imigrantes italianos, espanhóis, alemães, poloneses, ucranianos, etc… que chegaram ao Brasil naquela época eram camponeses pobres (sem terras europeus). Eles compunham o que pode ser chamado de excedente populacional indesejado na Europa. 

Com exceção de alguns operários qualificados, os imigrantes foram trazidos para o nosso país para substituir os negros que trabalhavam nas fazendas. Em diversas localidades eles rapidamente começaram a ser tratados como se fossem escravos. Muitos deles fugiram das fazendas em que deviam trabalhar e se refugiaram nos bairros pobres das cidades onde passaram a conviver com a população mestiça e ser vigiados pela polícia. 

Incorporados à mestiçagem populacional e à dinâmica do sincretismo cultural e religioso, esses europeus geraram filhos, netos e bisnetos que se tornaram brasileiros de diversas cores. Mas alguns deles tentaram preservar suas raízes acreditando que eram melhores do que os brasileiros. Esse parece ser o caso dos Bolsonaro.

Não por acaso, no Brasil o nazismo floresceu principalmente entre os filhos de imigrantes alemães e europeus. Tratado como “caso de polícia” no final dos anos 1930 e início dos anos 1940, esse movimento que chegou a se constituir como partido político foi totalmente erradicado do país. Isso ocorreu na mesma época em também foram erradicadas as escolas que educavam filhos de imigrantes apenas na língua materna dos países de origem de seus pais.

Ato 3 – o neonazismo 

O neonazismo começou a retornar ao Brasil nos anos 1980, quando surgiram os primeiros grupos de carecas que usavam de violência contra negros, gays e nordestinos. Eles agiram em alguns bairros e cidades periféricas de São Paulo, mas evitavam as regiões onde foram repelidos com violência por bandos de punks e de grupos de jovens negros e nordestinos que conviviam pacificamente. O racismo programático da PM/SP é um fato histórico bem conhecido.

A segregação geográfica entre brancos ricos da orla marítima e negros pobres das favelas no Rio de Janeiro deu origem ao “nazismo à carioca”, cuja maior expressão é o BOPE (grupo policial de extermínio que nunca opera nos bairros brancos e sempre mata negros nos bairros pobres).  Os filhos de Bolsonaro nasceram e cresceram nesse caldo de subcultura racista que também daria origem também às milícias formadas por policiais expulsos da PM e do BOPE.

Ato 4 – neonazistas mestiços

Como quase todos os brasileiros têm um antepassado negro, índio ou mestiço, em nosso país o neonazismo se tornou um fenômeno miscigenado. Entre aqueles que exibem orgulhosamente suas tatuagens arianas, bandeiras com suásticas e colecionam quinquilharias do III Reich existem mulatos. Eles acreditam que pertencem a uma a raça branca pura paradoxalmente impura. 

A suposta superioridade deles é quase sempre expressada pela covardia, pois os bandos de nazistas da botocúndia gostam de agredir gays, nordestinos, mulheres e índios indefesos. Mas eles geralmente têm medo-pavor da esquerda organizada. 

Certa feita, nos anos 1990, um bando de nazistas tentou invadir a festa de 1o. de maio da CUT na Praça da Sé. Na ocasião, eles apanharam de uma tropa de operários armados com cabos de machado. Os porretes ganharam o apelido de “pau de amansar ideologia”, pois ao cair no chão depois de levar algumas porretadas um nazista começou a gritar: 

“Pelo amor de deus não me matem, eu sou comunista.”

Ato 5 – o neonazismo virtual

O surgimento, crescimento e popularização da internet deu origem uma verdadeira proliferação de grupos virtuais nazistas. Esse fenômeno também ocorreu nos EUA e na Europa. Aqui, entretanto, esse problema começou a ser timidamente enfrentado pelas autoridades.

Bolsonaro se aproximou dos grupos de nazistas antes da eleição. Depois dela, a “máquina do ódio” operada por um dos filhos dele parece ter incorporado alguns desses grupos à estratégia de guerra cultural permanente na internet contra a esquerda. 

Fidelizados pelo Reich Bananeiro, os nazistas da botocúndia fazem companha contra a vacinação. Portanto, devemos supor que muitos deles estão e estarão entre as vítimas fatais da pandemia que não foram vacinadas. 

Ao que parece, essa raça pura paradoxalmente impura será voluntariamente extinta. Predomínio racial pela extinção da raça superior. Eis um novo paradoxo do nazismo botocúndico.

Santa Catarina é o estado brasileiro em que existe o maior número de grupos nazistas. Todavia, a esmagadora maioria da população daquele estado aderiu à vacinação contra o COVID-19. O fracasso da campanha nazista-bolsonariana naquele estado é um fato que merece ser reconhecido e aplaudido. 

Ato 6 – Os nazistas se divertem

Nos últimos dias o nazismo voltou a ser um tema debatido na grande imprensa da botocúndia. Isso ocorreu porque dois jornalistas amadores fizeram apologia àquela ideologia racista, violenta e genocida. Um deles perdeu o emprego, o outro está perdendo patrocinadores. Ambos serão investigados pela polícia. O deputado Kim Kataguiri, que participou de um desses episódios, corre o risco de perder o mandato.

A reação imediata da sociedade e das autoridades nesses episódios foi importante, mas ela deve ser contextualizada. 

Nem a imprensa, nem o PGR reagiram de maneira rápida às ações e omissões governamentais contra a vacinação que causaram centenas de milhares de vítimas durante a pandemia. Augusto Aras está sentado sobre o relatório da CPI da Covid como se fosse uma divindade protetora da familícia Bolsonaro. O general que estropiou a capacidade de Manaus de cuidar dos doentes deveria estar enjaulado, mas ele passeia livre leve e solto costurando apoios para sua candidatura à deputado federal.

No início da pandemia, o presidente do Banco Central disse em público que reduzir o número de vítimas da COVID seria prejudicial à economia. Ele não foi incomodado pelas autoridades, pois o MPF é pró-mercado e o mercado apoia a desoneração do Orçamento da União mediante o extermínio de uma parcela da população brasileira. O nazismo financeiro e governamental é real e muito mais perigoso, grave e letal do que a apologia do nazismo feita por três idiotas que podem muito bem ser sacrificados enquanto os verdadeiros nazistas seguem comandando o campo de concentração macabro em que o Brasil foi transformado.

Pouco antes de cometer suicídio no bunker sob a Chancelaria do Reich, Adolf Hitler distribuiu capsulas de veneno aos seus principais assessores. Essa demonstração de amor paternal revela a bestialidade da ideologia que ele criou e espalhou até pouco antes de morrer  

Bolsonaro segue envenenando o país inteiro com ajuda da mídia e do PGR enquanto alguns de seus nazistas mestiços cometem suicídio na internet, na TV ou nos hospitais em que foram internados com sintomas graves causados pelo COVID-19 porque se recusaram a tomar uma vacina segura, eficaz e gratuita. 

A fatalidade desse amor filial não correspondido pelo líder do nazismo botocúndico também é paradoxal. Trágica para as vítimas sacrificais voluntárias da familícia Bolsonaro, para o restante de nós ela deve ser motivo de gargalhadas. Esses nazistas mestiços suicidas nos divertem. 

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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