Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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Um circo de horrores montado com dinheiro público, por Fernando Castilho

Um circo de horrores, mas, mais que isso, um crime cometido à luz do dia e em prédio público, com 43 pessoas presentes, fora os garçons.

Foto: apreendida do celular do tenente-coronel Mauro Cid

Um circo de horrores montado com dinheiro público

por Fernando Castilho

No vídeo da reunião ministerial de Bolsonaro, encontrado com o tenente-coronel Cid, várias coisas chamam a atenção.

O ex-presidente convoca todos os seus ministros e parlamentares de seu núcleo duro, como o deputado Felipe Barros e inicia um desfile inacreditável de mentiras. Não há uma só frase que conclua seu raciocínio. Emenda uma coisa na outra sem se preocupar com um mínimo de coerência que possa servir como algum argumento para convencer os presentes, que ele mesmo diz que são as mentes mais brilhantes do país.

À certa altura, de repente, do nada, diz que o Brasil ganhou a Copa do Mundo de 1970, mas que em 1972 o Flamengo perdeu do Bangu por 10 a 0. O que isso tem a ver com o que estava falando antes? Nada!

As tais mentes brilhantes (ironia) que estavam presentes assistiram a um show de horrores repleto de palavrões. Com certeza, vários deles deviam estar contendo seu riso e se perguntando como uma pessoa tão desqualificada chegou a ser chefe do executivo do Brasil. Para essa questão nem Bolsonaro tem a resposta porque, como ele mesmo acabou por dizer, antes de 2018 era um deputado abaixo do baixo clero, ridicularizado por seus pares que, numa cagada (cagada do bem, segundo ele) virou presidente.

Ao longo do vídeo, porém, pelo menos para este articulista, começa a se formar uma imagem que sugere que foi feito para ser exibido após o golpe, caso este fosse vitorioso, numa espécie de justificativa. A dica é dada logo no início com as várias mentiras: assassinato de Celso Daniel, ligação do PT com o tráfico, etc., etc.

É lógico que os presentes à reunião sabiam que tudo aquilo era fake news, portanto, só serviria mesmo para que a turba que rezou para pneu, pediu ajuda aos alienígenas e depredaria mais tarde a Praça dos Três Poderes, “entendesse” que não havia alternativa a Bolsonaro que não fosse impedir que Lula se elegesse. Ficou muito evidente que o ex-presidente tentava a todo custo convencer, não seus ministros, mas os futuros espectadores do vídeo.

Um possível argumento contrário a esta tese seria o fato de o general Heleno começar a falar em interferência da Abin nas campanhas e ser interrompido pelo capitão. Bolsonaro achou melhor que Heleno conversasse mais tarde a sós com ele. Essas falas não foram cortadas e servirão, espero, para a prisão dos dois.

O vídeo não foi editado e isso pode ser explicado pelo fato de que primeiro seria necessário que o golpe se concretizasse para que depois pudesse ser exibido ao povo como justificativa. Afinal, o medo de o país se tornar uma Venezuela, da implantação do comunismo, do tráfico de drogas institucionalizado, do aborto, etc., seria mais que suficiente para que as pessoas exaltassem seu libertador, o Messias.

Um ministro pergunta se a reunião estava sendo gravada. Respondem que não, mas se tinha microfones, claro que estava. Pelo Mauro Cid. O ministro, tranquilizado, ficou à vontade para demonstrar seu posicionamento a favor do golpe. Foi enganado por Bolsonaro.

Um circo de horrores, mas, mais que isso, um crime cometido à luz do dia e em prédio público, com 43 pessoas presentes, fora os garçons.

E ninguém deu voz de prisão ao presidente.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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Fernando Castilho

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

5 Comentários

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      1. Não sei mas cabe uma pesquisa melhor.

        Parece aquele papo de boteco (pré Web) teu time perdeu de 10 pro …

        É tão descolado de uma reunião séria que parece linguagem cifrada…

        O que se tentou dizer que derrotas podem vir depois de vitórias ? Poderia citar a má campanha de 74 (face a 70).

        Nem sou flamenguista.

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