TVGGN 20 Horas: A Abin paralela e a tentativa de reviver a SNI

Militares só não tomaram o poder durante a gestão de Bolsonaro porque não encontraram respaldo internacional

Crédito: Arquivo/ Agência Brasil

A revelação da organização criminosa dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), na última quinta-feira (25) foi o principal assunto da semana, tanto que embasou até um requerimento para abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a fim de investigar as denúncias. 

Para comentar a gravidade deste escândalo no governo de Jair Bolsonaro (PL), o programa GGN 20H da última sexta-feira (26) contou com a participação de João Cezar de Castro Rocha, professor titular de Literatura Comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e escritor.

“O que foi feito com a Abin paralela é a demonstração mais cabal, mais brutal de que o projeto do Jair Messias Bolsonaro era retornar o Brasil ao quadro institucional anterior à redemocratização em 1985. O que era, de fato, esta Abin paralela: era voltar o relógio do tempo histórico do Brasil para antes de 1990, porque em 1990 o Fernando Collor de Mello, talvez no único gesto sensato do seu governo, extinguiu o serviço nacional de informações”, comenta o professor.

Depois do golpe que culminou no regime ditatorial, em 1º de abril de 1964, os militares criaram um ‘poderosíssimo’ sistema de informação para monitorar os adversários do governo e chantagear os políticos de oposição.

Segundo o convidado, o que o governo anterior tentou fazer foi reviver o SNI, com o agravante de que o sistema adotado pelos militares em 1964 até a extinção era analógico, em que as investigações dependiam de as pessoas serem seguidas, de telefones serem, eventualmente, grampeados e das matérias de jornais. 

Enfrentamento

Rocha defende, então, que a tarefa de ‘dar um basta’ nos abusos cometidos pelas Forças Armadas não seja uma tarefa apenas do governo Lula, mas também da sociedade civil.

“A redemocratização somente foi possível a partir de 1985 porque as Forças Armadas impuseram uma chantagem com a sociedade civil brasileira, que foi a promulgação da Lei de Anistia pelo general João Batista Figueiredo”, ressalta o professor. 

De acordo com a legislação, os militares não eram anistiados, mas sim prevenidos de serem julgados, o que Rocha classifica como uma aberração jurídica. 

“Durante a Constituinte de 1988, o general Leônidas Pires Gonçalves se reuniu com Fernando Henrique Cardoso e exigiu que na Constituição houvesse um artigo que esclarecesse o papel fundamental das forças armadas na nova ordem democrática. É o malfadado artigo 142”, comenta o entrevistado.

Lula 3

João Rocha é enfático: ele admira as conquistas de Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) no primeiro ano de governo, apesar de todas as adversidades. Porém, nós, enquanto País, nunca vamos ter uma democracia realmente sólida enquanto não tivermos coragem de dizer um basta aos militares. 

“O 8 de janeiro não teria sido possível sem a cooptação do gsi por bolsonaristas. nós descobrimos agora na abin que o segundo homem da Abin, o [Alessandro] Moretti [diretor adjunto da Abin], é bolsonarista de carteirinha”, afirma o professor, lembrando ainda que a maioria dos policiais militares estaduais “são bolsonaristas até a medula”.

Para o docente, fica claro que as Forças Armadas só não deram um golpe de Estado porque não teriam respaldo internacional. “Não porque [os militares] são democratas”, conclui.

Assista ao programa na íntegra:

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Camila Bezerra

Jornalista

2 Comentários

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  1. O que devemos pensar sobre as Forças armadas, que se mostrou traidora, inconfiável e indigna do respeito que mereceu? Qual a desculpa dos representantes das três armas sobre a próxima convivência com os criminosos terroristas instalado no órgão?
    Que não nos culpem de pensar que se não participaram, então conviveram e aceitaram tudo que se passava.
    Que não nos culpem se os considerarmos traidores da pátria, do regulamento interno militar e da constituição federal.
    Que não nos culpem se entendermos que se não gritaram, se não condenaram se não reagiram, um mínimo que seja, é por supormos que trabalharam dedicadamente para não atrapalhar e deixar acontecer, o que piora mais ainda a credibilidade, a falta de confiança e a imagem totalmente desmoralizada das três instituições que compõe as FA.
    Onde estão os verdadeiros comandantes e as suas briosas coragens?
    Qual a razão de ainda se manterem calados e não tomem a atitude de eliminar as perigosas ervas daninhas que continua prosperando, contaminando e corroendo gravemente as FA?
    Não adianta nos prender, nos ameaçar, nos arapongar e inventar estórias para boi dormir, que a realidade e a pura verdade está estampada no céu de todo o mundo, e ela mostra a que nível tão baixo de condutas, atuações e companhias as instituições militares se envolveram nos últimos tempos.
    A lei e a aplicação das punições de quem a transgrida não pode sofrer coerção, ameaça e chantagens com a justificativa de que mancharia o nome da instituição já manchada, degradada e desrespeitada por aqueles que querem defender. Vejam a que alucinado absurdo chegaram.
    Por estas e diversas razões é que enquanto as ervas daninhas continuarem com poder; enquanto o veneno da contaminação estiver circulando livres, leves e soltos entre os praças que só tem o poder de obedecer e enquanto aqueles que tem poder para colocar um ponto final e botar ordem na casa e nas casernas, certamente teremos instituições militares respeitadas e invejadas por todos os poderes militar do planeta.

  2. corrigindo: e somente quando aqueles que tem poder para colocar um ponto final e botar ordem na casa e nas casernas reagirem com autoridade e rigidez, aí sim teremos instituições militares respeitadas e invejadas por todos os poderes militar do planeta.

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