Jair Bolsonaro admitiu, na fatídica reunião ministerial de abril de 2020, que tinha um “sistema de informação particular”, paralelo à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e que iria interferir nas pastas do governo federal e nos sistemas de informação, inteligência e segurança, para obter benefícios relacionados ao governo e também a interesses próprios e de familiares.
A Polícia Federal investiga o uso pelo governo de Jair Bolsonaro de sistemas de monitoramento, incluindo pela Abin, então comandada por Alexandre Ramagem, um dos alvos da Operação deflagrada nesta quinta-feira.
“Eu não posso ser surpreendido com notícias. Eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não tenho [delas] informações. A Abin, tem seus problemas, mas tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, aparelhamento, etc. Mas a gente não pode viver sem informação”, introduzia o assunto, quando reuniu toda a sua equipe ministerial para tratar de assuntos de governo.
Bolsonaro ainda comparou obter informações das estruturas oficiais com “ouvir o filho atrás da porta“: “Quem que é que nunca ficou atrás da porta ouvindo o que seu filho ou sua filha está comentando. Tem que ver, porque depois, depois ela engravida, não adianta falar com ela mais, tem que ver antes. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os c****s de droga, não adianta mais falar com ele, já era. E informação é assim.”
Em outro momento daquela reunião, após citar interesses comerciais com outros países, como China e Estados Unidos, ao criticar novamente não receber informações estratégicas dos órgãos, afirmou efusivamente, batendo com as mãos na mesa, que irá “interferir e ponto final“, que não se tratava de uma “ameaça, extrapolação da minha parte“, mas que essa interferência seria “uma verdade”.
“E me desculpe, o serviço de informações nosso, todos, é uma vergonha, uma vergonha! Que eu não sou informado! E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma extrapolação da minha parte. É uma verdade!“
Aproximadamente 1 hora após esses trechos, o ex-mandatário voltou a falar sobre o tema. Quando disse que o Brasil precisava “dar exemplo” e não mostrar “o que o pessoal pinta por aí”, voltou a criticar os sistemas de inteligência e admitiu ter um sistema de informação “particular”, que seria paralelo ao “oficialmente”, referindo-se à Abin.
“Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os oficialmente, desinforma. E voltando ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, disse.
Imediatamente após a declaração, enfatizou, novamente, que faria interferências a seu favor e em benefício de familiares, mas desta vez nos sistemas de segurança para proteger a própria família.
Bolsonaro disse que seus familiares estavam sendo perseguidos “o tempo todo”, pela imprensa e ataques: “O tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar f***r a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, concluía.
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