A discussão por resgate do senador boliviano Molina

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A decisão de tirar o senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada brasileira na Bolívia, e trazer para o Brasil, repercute nos jornais desta segunda-feira. O boliviano chegou ao Brasil ontem à tarde, vindo de La Paz, em uma operação que incluiu dois carros oficiais, um diplomata, dois fuzileiros navais, percorrendo 1.600 quilômetros em estradas bolivianas até Corumbá, onde embarcaram em jatinho particular emprestado por um empresário de Vitória amigo de Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que os deixou em Brasília.

Segundo a Folha, e sua colunista Eliane Cantanhêde, a ação em si cria uma saia-justa com a Bolívia. Em sua matéria de duas páginas, a Folha, entretanto, não citou  o posicionamento da própria Bolívia, que quer explicações sim, mas afirma que vinda do senador não irá afetar as relações com Brasil. Para o cientista político boliviano, Roberto Laserna, citado por Luiz Raatz em sua análise no Estadão, a reação branda de Evo Morales demonstra uma estratégia pragmática de contenção de danos. Para Laserna, não existe nexo brigar com um parceiro tão importante quanto o Brasil e, é claro, dar corda para a oposição, já que minimizar o problema neutraliza os possíveis ganhos que opositores poderiam ter com saída de Roger Pinto para o Brasil.

Segundo o analista boliviano, Raatz, Pinto nunca foi um político com expressão, e se torna mais importante agora, para a oposição boliviana, do que era há meses atrás, quando pediu asilo na embaixada brasileira.

A ministra da Comunicação boliviana, Amanda Davila, declarou através da Agência Boliviana de Informações (ABI), que as relações entre Brasil e Bolívia não se alterarão, continuando “em absoluto calor e respeito”. A ministra, entretanto, frisou que o senador boliviano, de oposição, está envolvido em, pelo menos, 14 crimes e que tem manipulado as informações para dificultar as relações da Bolívia com o Brasil.

Do lado brasileiro, o Ministério das Relações Exteriores informou ontem, por meio de nota, que abrirá inquérito para apurar as circunstâncias da entrada no Brasil do senador Roger Molina. O Itamaraty informou que o encarregado de Negócios do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia, foi chamado ao Brasil para prestar esclarecimento.

O diplomata em questão deveria evitar pronunciamentos até a entrevista no Itamaraty. Entretanto rompeu o silêncio e deu entrevista ao Fantástico, da TV Globo, conforme relata a Folha, em matéria que dá reforço à crise no Itamaraty. Segundo a Folha, neste texto assinado por Cantanhêde e mais quatro jornalistas, ele quebrou o silêncio, pois o Itamaraty, mesmo pedindo que ele não se pronunciasse, citou seu nome na nota. Na entrevista, Saboia afirma que tomou a decisão para preservar o senador boliviano, pois “havia risco iminente à vida e à dignidade de uma pessoa”. A analista da Folha, Cantanhêde, entende que o Itamaraty está entre dois grandes problemas: ou Patriota “não tem controle sobre os diplomatas” ou “a operação foi autorizada e o inquérito e a ameaça de punições são só jogo de cena”.

Já o Ministério Público da Bolívia, como informa a Agência Brasil, avalia a possibilidade de pedir explicações ao governo do Brasil sobre a saída do senador Molina do território boliviano. Roberto Ramirez, fiscal-geral interino, equivalente a procurador-geral em exercício, da Bolívia, disse que a situação é “analisada em detalhes pelos especialistas para verificar as providências que devem ser tomadas”. Ramirez diz que estão aguardando explicações oficiais para decidir os próximos passos.

Segundo a Agência Brasil, o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia anunciou que tomará “todas as ações legais” para que Molina responda na Justiça por “delitos comuns de corrupção pública, com graves danos à economia do país”. Em entrevista concedida, Molina declarou que é “perseguido político e não da Justiça”, negando as acusações.

As acusações contra Molina, segundo apuração da Folha, são: de assassinato, pelo massacre de camponeses no estado de Pando, em 2008; desacato, por acusar o presidente Evo Morales de proteção ao narcotráfico; desacato, por acusar a Ministra da Transparência e Anticorrupção de corrupção; dano ambiental, por ter derrubado árvores de sua propriedade em Pando. As acusações foram listadas em pequenos tópicos, sem maiores explicações que possam trazer luz aos leitores para que se posicionem quanto ao personagem.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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