
A opção de duvidosa inteligência de Daniel Silveira, por Letícia Sallorenzo
Eu tava boladíssima com essa movimentação do Daniel Silveira desde ontem à noite. Fugiu do padrão, fugiu do modus operandi do gabinete do ódio.
Daniel Silveira agiu de forma inacreditavelmente ponderada. Ouviu advogados. Trabalhou a coisa toda de forma pouquinha coisa menos agressiva.
Agora há pouco, com todo circo já montado e o envolvimento de instituições ainda maiores (não é mais um deputado versus um ministro, é a Câmara versus o Supremo Tribunal), aparece Flávio Bolsonaro. Também inacreditavelmente ponderado. Chamou à razão (sim, a expressão é essa mesmo) o ministro Alexandre de Moraes.
Daniel Silveira ouviu da autoridade policial que estava lá para lhe colocar a tornozeleira, e recusou-se a colocar o dispositivo.
Durante a coletiva de Flavio Bolsonaro, Silveira permaneceu calado. Por quê? Porque o ministro Alexandre de Moraes determinou que ele não desse entrevistas. ele *está cooperando com a justiça*.
Esse aparente “danielzinho paz e amor”, amigo de “flavinho ponderadão” é um recuo na afronta ao poder judiciário.
Lembrando que, até semana passada, Silveira vociferava contra Alexandre de Moraes e o STF. Estava agressivo.
Qual o objetivo desse recuo?
Confundir. A população e, principalmente, as instituições. Apontei essa estratégia em agosto do ano passado, e a comparei ao abuso psicológico praticado por homens agressivos contra mulheres.
Expliquei tudinho timtim por timtim ao Jornal GGN, no texto “Luiz Fux e o abuso discursivo de Bolsonaro“.
E assim vemos não só o presidente, mas um deputado com pouco mais de 80 mil votos, tratar as instituições brasileiras com uma tática q eu denominei abuso psicológico interinstitucional.
A campanha começou. As cartas estão sobre a mesa. Quem acha que Lula já tá eleito tá achando muito, mas muito errado.
E quem acha que vai ser moleza eleger um congresso progressista tá achando ainda mais errado.
ATUALIZAÇÃO:
No texto do abuso discursivo de bolsonaro, eu digo como se deve reagir a essa situação de abuso psicológico: “É sempre bom lembrar que a mulher abusada só consegue sair do ciclo de abusos quando ela mesma diz basta, e reage de forma enérgica e irreversível ao abusador. Caso contrário, será morta por seu algoz.”
E como a “mulher abusada” reagiu?
Ah, que reação maravilhosa, gente…
Trechos da decisão de Alexandre de Moraes desta noite:
“Não só estranha e esdrúxula situação, mas também de duvidosa inteligência a opção do réu, pois o mesmo terminou por cercear sua liberdade aos limites arquitetônicos da Câmara dos Deputados, situação muito mais drástica do que àquela prevista em decisão judicial.
– FIXO MULTA DIÁRIA DE R$ 15.000,00 (quinze mil reais), no caso da continuidade de descumprimento
– OFICIE-SE ao Banco Central do Brasil para que proceda ao BLOQUEIO IMEDIATO DE TODAS AS CONTAS BANCÁRIAS DE DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA (CPF xxx) COMO GARANTIA DO CUMPRIMENTO DA MULTA DIÁRIA
– OFICIE-SE ao Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Federal ARTHUR LIRA, com o inteiro teor desta decisão, para que (a) indique dia, horário e local para a efetivação do monitoramento eletrônico do réu DANIEL SILVEIRA; (b) adote as providências cabíveis para o efetivo cumprimento do pagamento de multa diária, a ser descontada diretamente dos vencimentos que o réu recebe da Câmara dos Deputados
– INDEFIRO o requerimento do réu DANIEL SILVEIRA, de suspensão imediata “de todas as medidas cautelares,
– DETERMINO a instauração de inquérito (…) para apuração do crime do art. 359 do Código Penal (“Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito”), em relação à conduta do réu DANIEL SILVEIRA
– Solicito ao Presidente da Corte, nos termos do § 4º do art. 21-B do RISTF e art. 5º-B da Resolução nº 642/2019, a convocação de sessão plenária virtual extraordinária para referendo desta decisão, com início da sessão em 01/04/2022 (00h00) e término no mesmo dia, às 23h59.”
E ainda tem gente que não entendeu por que eu faço questão de passar pano pra esse ômi desde junho do ano passado….
Leticia Sallorenzo – Mestra em Linguística pela Universidade de Brasília (2018). Jornalista graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996). Graduação em Letras Português e respectivas Literaturas pela UnB (2019). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo e Editoração. Autora do livro Gramática da Manipulação, publicado pela Quintal Edições.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].
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