Caminho para a reeleição de Obama

Por Marco Antonio L.

Da Carta Capital

Obama será reeleito

The Economist Intelligence Unit

Hoje o caminho de Obama para a vitória está mais claro e mais alcançável que o de Romney. Foto: AFP

Nossa previsão para a eleição presidencial nos Estados Unidos é que Barack Obama será reeleito. Apesar de seu adversário republicano, Mitt Romney, ter conseguido uma recuperação puxada pelo bom desempenho no primeiro debate presidencial, não acreditamos que ele tenha tempo suficiente para superar a vantagem do presidente nas pesquisas.

A corrida presidencial nos EUA foi uma disputa apertada na maior parte deste ano. Obama e Romney estiveram pescoço a pescoço nas pesquisas desde que Romney conseguiu a nomeação republicana em maio, até o final de agosto. Desde as convenções nacionais dos dois partidos, há seis semanas, porém, Obama abriu uma vantagem constante de um dígito nas pesquisas nacionais e avançou nos principais “estados oscilantes”, especialmente Ohio. Romney revigorou suas perspectivas com um forte desempenho no primeiro debate entre os candidatos em 3 de outubro, mas ainda enfrenta uma batalha montanha acima para ganhar a eleição em 6 de novembro.

Romney não transformou suas vantagens em liderança

Romney começou a campanha eleitoral com pelo menos uma clara vantagem: a má situação da economia deveria ter ajudado sua candidatura. Com o desemprego ainda empacado acima de 8% e o crescimento dos empregos especialmente fraco nos últimos cinco meses, o candidato republicano poderia plausivelmente argumentar que Obama foi um mau piloto da economia, e que o eleitorado deveria considerar uma troca de liderança política. Mas, segundo as pesquisas de opinião, ele teve dificuldades para convencer os eleitores, que parecem estar dando a Obama o benefício da dúvida sobre a lenta recuperação econômica. Em alguns sentidos, Romney foi prejudicado por más decisões de campanha. Em geral, ele deixou de criticar com força e coerência o desempenho do presidente. Os erros começaram na convenção republicana, uma oportunidade encenada para transmitir a mensagem do candidato, na qual Romney apresentou uma tese pouco convincente para sua candidatura. Então, nas semanas seguintes, ele politizou sem necessidade a morte do embaixador americano na Líbia (em um momento em que os fatos ainda não estavam claros). Isto se seguiu por um vídeo vazado do candidato republicano rejeitando 47% dos americanos como “parasitas” que vivem do dinheiro do governo e não pagam imposto de renda. Em termos de atrair eleitores de fora da base republicana, foi um recuo.

Mas apesar de todas essas falhas Romney não está sem esperança nessa disputa. Ele se saiu bem no primeiro debate presidencial, superando as expectativas e deixando o presidente na defensiva sobre as dificuldades da classe média na presidência Obama. Romney é de modo geral um mensageiro fiel das políticas republicanas quando tem a oportunidade de defender sua tese, e seu passado empresarial vai atrair uma parcela dos eleitores independentes e indecisos. Além disso, a base republicana está energizada para evitar a reeleição do presidente. Dito isso, o movimento à direita do Partido Republicano dificultou ainda mais as tentativas de Romney de atrair o centro político. Para conseguir a nomeação republicana, Romney fez vários compromissos políticos que vão alienar eleitorados valiosos. Sua posição sobre a imigração tornou especialmente difícil que os eleitores latinos (um bloco eleitoral em rápido crescimento) o apoiem. Sua escolha de um parceiro especialmente conservador, o deputado de Wisconsin Paul Ryan, também deixou a chapa republicana vulnerável a ataques sobre o plano orçamentário de Ryan, que é regressivo e corta fortemente os gastos assistenciais do governo. Além disso, a campanha de Obama se moveu desde cedo na eleição geral para pintar Romney como um rico executivo de investimentos que tinha pouca conexão com o eleitor médio e estava comprometido com interesses financeiros. A forte publicidade do presidente em mercados chaves de televisão ajudou a reforçar essa mensagem e a pintar Romney como um terceirizador de empregos americanos. Que Romney tenha conseguido ficar tão próximo do presidente durante tanto tempo nas pesquisas de opinião testemunha a maneira como a economia fraca pesa sobre as probabilidades de Obama.

O caminho de Obama para a vitória continua mais fácil que o de Romney

Apesar das dinâmicas de campanha, o vencedor da eleição presidencial será decidido pelo sistema do colégio eleitoral americano, que se baseia na abordagem de “o vencedor leva tudo” para o candidato mais votado em cada estado. A corrida se concentra em oito a dez estados oscilantes, onde a eleição tem resultado incerto. Hoje o caminho de Obama para a vitória está mais claro e mais alcançável que o de Romney. Ele começa com um número maior de votos eleitorais garantidos nos estados que com certeza ou provavelmente votarão no democrata. A maioria das estimativas sugere que o presidente já tem 240 dos 270 votos eleitorais necessários. Romney, em comparação, só pode contar com 190 votos eleitorais, aproximadamente. Em consequência, seu cenário para a vitória exige que ele vença em quase todos os estados indecisos restantes. Isto não é totalmente descartado, mas também não é especialmente provável. Obama abriu uma liderança significativa em Ohio, por exemplo, onde a vitória lhe daria 18 votos eleitorais. Ele também tem grandes vantagens em Wisconsin e em New Hampshire. As vantagens de Romney nas pesquisas, quando há, não tendem a ser tão grandes.

Mas os fatos ainda poderão influenciar a campanha. Restam dois debates presidenciais, e Romney demonstrou que pode se sair bem nesse formato — mesmo que Obama deva revidar com mais força no segundo e terceiro debates. Os indicadores econômicos também podem influenciar a campanha. Um ou dois relatórios de empregos ruins ainda poderão afastar eleitores indecisos do presidente. Dito isso, o tempo está acabando para Romney. Um período de mau desempenho econômico desde abril também parece estar terminando, exatamente na hora certa para Obama. Uma alta na Bolsa de valores provavelmente acrescentou cerca de 2 trilhões de  dólares à riqueza líquida das famílias desde a metade do ano; os preços das residências se tornaram positivos em termos ano a ano nos últimos meses; e o Federal Reserve se moveu para estimular a economia e gerar crescimento de empregos no último mês.

Acreditamos que esses fatores combinados sejam suficientes para levar Obama à vitória em 6 de novembro. As pesquisas certamente vão se apertar de novo, deixando a marca de maré alta alcançada pelo presidente (e por democratas em disputas para o Congresso) no final de setembro; os debates, afinal, fornecem ampla oportunidade para Romney tentar mover o ponteiro. Mas pensamos que Romney não conseguirá recuperar nos próximos 30 dias todo o terreno perdido, e consequentemente esperamos que Obama vença a reeleição.

Luis Nassif

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