“Caso Palocci”, um balaço de perdas e danos

 

Que Dilma divergia de Palocci é fato conhecido. E não creio que ela tenha ficado particularmente entristecida ao ter que substituí-lo.

Daí a acreditar que a campanha sórdida contra Palocci, levada a cabo pela grande imprensa, tenha sido positiva para o governo, por permitir à presidente “finalmente iniciar seu próprio governo”, vai uma grande distância.

Houve perdas, muitas perdas.

Na verdade, todos perdemos.

Nós, cidadãos comuns, porque mais uma vez vimos atuar as mesmas forças deletérias que aí estão a tentar minar a governabilidade.  

Palocci no governo foi um erro. Como deputado articularia na Câmara e estaria protegido pelo nível de tolerância que reina na Casa. 

Palocci e Lula, ou quem o indicou, apostaram alto e perderam.

Era óbvio demais. Como pôde ter sido indicado, não sei. Com dois nocautes, tem tanta chance de retornar ao ringue quanto José Roberto Arruda. Ainda que, como diz Gaspari, em política tem gente que já viu elefante voar. 

A oposição perdeu, foi pautada, como sempre, mas dessa vez ficou patente que, pelo menos por agora, não teve forças nem para “convidar” o ministro a prestar esclarecimentos, quanto mais para conduzir uma CPI “tipo mensalão”. Com os barras-pessadas derrotados nas urnas, algo assim vai depender de uma armação vinda do PMDB. 

O PMBD é um grande risco, mas se jogar contra, Temer, vice-presidente, estará desmoralizado ou terá de rachar o governo e partir para o tudo-ou-nada. Isso é coisa para um Requião. Mas é capaz de Requião acabar provando no congresso que é apenas mais um líder regional sem expressão nacional. O jogo para o PMDB vai ter que ser muito sutíl em cena, ainda que cheio de possíveis chantagens por baixo dos panos. E quando não foi assim?

Aliás, líder regional é o que mais Aécio Neves está parecendo ser. Perdeu uma grande oportunidade de ter sido o mediador da oposição com o governo. Por que? Talvez, porque não o seja mesmo.

A grande imprensa demonstrou que tem poder, pauta a oposição e derruba ministros. Mas o esquema ficou manjado. Logo, sai menor do episódio, e menor significa ainda menos credível.

Estão aí o mesmo uso de informações vazadas, a mesma prática da ética seletiva, a mesma inversão do ônus da prova, a mesma escandalização de sempre em cada manchete e o mesmo esquema de repercursão forjado, ou o mesmo “chumbo- trocado” entre os mesmos veículos de comunicação. Ou seja, mais do mesmo. Truque de malandro velho, que continua malandro, mas não engana mais ninguém.

Nesse item, o da credibilidade, doeu-me particularmente, ver Clovis Rossi findar e Bresser-Pereira vacilar. A Folha está se tornando uma máquina de moer reputações. E lá se vão pelo mesmo esgoto por onde foram “elianes e josias” antes. Doeu-me pessoal e sinceramente. 

Que Dilma perdeu, perdeu. Não é bom para um chefe de governo ter posto em xeque sua capacidade de liderança.

Mas, por fim, talvez, no frigir dos ovos, Dilma tenha sido quem menos perdeu. 

Enfrentou sua primeira crise, outras virão, mas já sabe como é a mão dos jogadores dessas crises fabricadas. E eles são os mesmos de sempre. Creio e desejo fortemente que à Dilma que sai do episódio possamos atribuir um conceito de Nietzsche:  “aquilo que não me mata, só me fortalece”.

Dos nomes que indicou, de Gleisi Hoffmann pouco sei. É uma senadora do PT vinda de um estado pouco petista, o Paraná. Logo, deve ser boa de voto. Tem um perfíl técnico e é próxima de Dilma. Existe o fato pitoresco de estarem marido e mulher, ela e Paulo Bernardo, no ministério. Paulo Bernardo foi um grande quadro no governo Lula, sempre discreto e eficiente.  Parece me que Gleisi foi um nome acertado. Sua figura é, ainda por cima, contra-palocciana, até porque uma mulher belíssima.

Ideli Salvatti parece me um tanto quanto belicosa para quem vai para a articulação política, mas é oriunda do congresso, uma senadora experimentada e respeitada por aqueles com quem vai negociar, agora, como ministra. Sem dúvida, Dilma conhece e aprova sua personalidade e seu modo de fazer política. Viu vantagens neles, tanto que a escolheu.

Enfim, no balanço de perdas e danos que foi o “caso Palocci”, torçamos para que nossa presidente, ao seu estilo, mostre ser conhecedora da difícil, mas necessária, arter de transformar limões em limonadas.

Redação

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