“CPI do MST termina do mesmo jeito que começou: sem rumo”, diz Ceres Hadich

Deputados progressistas celebram a falta de relatório final e visibilidade para o MST, enquanto dirigentes divulgam fake news.

Deputados e progressistas celebram o fracasso da CPI do MST. Crédito: Reprodução/ TV Câmara

Deputados de esquerda e direita convocaram coletivas de imprensa nesta quarta-feira (27) para compartilhar os avanços da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, que teve o fim decretado hoje no Diário Oficial da Câmara.

Os deputados Nilto Tatto(PT-SP), Sâmia Bonfim (PSOL-SP), Alencar Santana (PT-SP), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e outros celebraram o fracasso anunciado das investigações, já que a comissão foi instaurada sem ter um crime para analisar.

“Ficou patente no próprio relatório apresentado pelo relator, que no final, inclusive, termina dizendo que o Brasil não precisa de reforma agrária, sabendo que hoje a gente tem cerca de 100 mil famílias cadastradas no Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e aproximadamente 70 mil famílias acampadas, aguardando um lote para poder construir suas famílias e uma perspectiva de vida”, observou Nilto Tatto.

O deputado federal observou ainda que estas famílias à espera da reforma agrária poderiam contribuir com o combate à fome, além de ajudar o controle da inflação sobre o preço dos alimentos e impactar o agronegócio com a produção de alimentos saudáveis.

O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, com a expectativa de colher mais de 16 mil toneladas do produto na safra 2022/2023.

Vergonha

Tatto lembrou ainda diversas situações em que os parlamentares prejudicaram a imagem do Legislativo. “Envergonham parlamentares adentrando um barraco de uma família sem ter mandado judicial, de uma família que está em um barraco provisório aguardando um lote. Arrombando cadeado de sedes de associações, sem mandado judicial, adentrando terras indígenas sem ter a devida autorização da Funai ou da comunidade indígena. Trazendo para esta CPI denúncias vazias, sem conversar com a comunidade para verificar se as denúncias têm fundamento. [A CPI] Não apurou nada, como já era previsto, porque estamos encerrando sem relatório.”

Sâmia Bomfim, alvo recorrente do presidente do colegiado, o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), e do relator, Ricardo Salles (PL-SP, também celebrou o encerramento dos trabalhos.

“Sem dúvida nenhuma, essa CPI teve um efeito que eles não esperavam, que é popularizar o MST ainda mais, torná-lo ainda mais conhecido, voltar para a ordem do dia o debate sobre a reforma agrária, que talvez para as novas gerações de luta e mobilização não fosse um tema tão presente. Mas agora todo o Brasil sabe a importância de lutar pela reforma agrária”, comentou Sâmia.

Ao longo das sessões, ela teve de suportar o escárnio dos colegas de Casa, que para descredibilizá-la, criticaram sua forma física. “A senhora pode, também, daqui a pouco, tomar qualquer atitude, ficar mais calma. A senhora respeite, a senhora está nervosa, senhora deputada? Quer um remédio? Ou quer um hambúrguer?”, perguntou Zucco, no início de agosto.

Apoio

Quem também foi bastante hostilizado pelo relator da CPI foi o economista, fundador e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, acusado, por exemplo, de não conhecer afundo as finanças e instituições que usam o nome do MST para receber recursos.

Um deputado chegou a insinuar que o movimento social se comporta como milícia, por determinar uma contribuição aos assentados de acampamentos para a resolução de questões da comunidade.

Mas hoje, Ceres Hadich, dirigente nacional do MST, lembrou que, apesar da tentativa de criminalizar os movimentos sociais e perseguir lideranças, o trabalho dos palamentares só reforçou a necessidade de uma nova política em relação à terra.

“O que a CPI conseguiu evidenciar ao longo desses meses foi mais do que tudo os enormes e graves problemas agrários que enfretamentos no nosso País há mais de cinco séculos, provocados pela falta de um projeto sério e popular de desenvolvimento do Brasil”, afirmou Ceres

O MST contou ainda com o apoio popular. A dirigente afirmou que será entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), uma carta aberta com 65 mil assinaturas de apoio ao movimento social.

Fake news

A CPI do MST terminou sem um relatório final aprovado pelos parlamentares. Na semana passada, o relator apresentou um documento em que pedia o indiciamento de 11 pessoas, entre elas general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e José Rainha, líder da Frente de Luta Campo e Cidade.

Porém, os deputados governistas pediram vistas para analisar as conclusões, que duraria duas sessões. O texto final só poderia ser votado nesta quinta-feira (28), um dia após o término oficial dos trabalhos.

Para justificar a falta de conclusões, Zucco e Salles apelaram para a divulgação de informações falsas. Enquanto o presidente da CPI aposta que “haverá mais violência e terror no meio rural”, o relator afirmou que havia número de votos suficiente para aprovar o relatório final – fato negado por Sâmia Bomfim.

O deputado Coronel Zucco agora vai entregar à Arthur Lira uma lista de projetos chamada “Invasão Zero”, com sugestão de penas mais duras às “invasões de propriedades.

Esta é a quinta CPI voltada para investigar a atuação do MST. Nenhuma delas apontou crimes ligados ao movimento social. Mas quem é réu na Justiça por suposto envolvimento em um esquema de exportação ilegal de madeira é Ricardo Salles, relator dos trabalhos.

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Camila Bezerra

Jornalista

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