TVGGN 20 Horas: Eleições municipais servem de palanque para candidaturas radicalizadas

Aspirantes a prefeito e vereador costumam usar o extremismo para ganhar visibilidade e até projeção nacional para galgar outros cargos

Urna eletrônica. Crédito: José Cruz/Agência Brasil

Em 1985, José Alcides Marronzinho de Oliveira, mais conhecido como Marronzinho, não conseguiu se candidatar ao cargo de prefeito de São Paulo. Porém, isso não o impediu de usar o seu jornal, A Voz, para difamar Fernando Henrique Cardoso, que liderava as pesquisas de intenção de voto ao Paço. Com a manchete “Marronzinho confirma: Fernando Henrique é maconheiro”, a imagem de FHC ficou prejudicada, e Jânio Quadros venceu a disputa. 

Ao longo da década de 1980, Marronzinho respondeu por mais de 30 processos por calúnia e difamação, impedindo-o de concorrer a uma vaga de deputado federal para a Assembleia Constituinte, em 1986. Já em 1990, chegou a cumprir pena por difamar FHC cinco anos antes. 

Assim como em 1985, é provável que vejamos nas eleições deste ano “figuras tresloucadas” como Marronzinho, na avaliação de Alexandre Almeida, historiador e pesquisador do Observatório da Extrema-direita e do Laboratório de História Política e Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

Convidado do programa TVGGN 20 Horas da última terça-feira (9), Almeida comenta que uma das conclusões de anos de pesquisa é que a radicalização das candidaturas é uma característica intrínseca dos pleitos municipais. 

“É uma eleição em que as candidaturas mais radicalizadas aparecem, porque são candidatos que não têm visibilidade eleitoral, não têm fundo partidário, são candidaturas muitas vezes solos, que estão em uma sigla apenas porque precisam dela para ser candidatos”, comenta o pesquisador. 

Assim como Marronzinho, candidatos que assumem posturas mais extremistas conseguem ainda uma certa projeção nacional, que serve posteriormente de trampolim eleitoral. “Vários candidatos aqui, pessoas que foram prefeitos e prefeitas, conquistaram cargos em outras instâncias ou mal acabaram seus mandatos já para pensar em outra candidatura”, continua Almeida. 

Impacto do 8/1

O historiador chama atenção também para o impacto que os atos golpistas promovidos um ano atrás em Brasília devem causar nas eleições de outubro. Apesar das ações do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Governo Federal com base no Pacto Legislativo, Almeida suspeita haver uma política de apaziguamento em relação aos financiadores, mentores e militares envolvidos na tentativa de golpe de Estado, estratégia já usada pela direita em outros momentos da história brasileira.

Ele questiona ainda, qual será o grau de comparecimento de militares de todo o país nas urnas neste ano. Almeida citou que, nos últimos anos, as plataformas de redes sociais têm sido inundadas com podcasts e programas que dão palco a policiais que usam a crise na segurança pública como palanque para autopromoção, visando uma candidatura. O peso da farda estará em jogo novamente, e isso sequer é novidade no País.

Um dos episódios citados como exemplo por Almeida foi o do ex-presidente Fernando Collor, que usava frequentemente farda militar, a fim de criar uma imagem vinculada ao Exército e passar uma ideia de força e autoridade.

“Temos de ver até que ponto as políticas de apaziguamento só criam uma certa estabilidade [momentânea], mas que no próximo episódio eleitoral, como o de agora, vem à tona [novamente uma radicalização]. ‘Erraram, deixa para lá, na próxima eles aprendem’ é algo que a gente ouve na base radicalizada.”

Alexandre Almeida, historiador e pesquisador

Estes candidatos da direita costumam sair vitoriosos nas disputas eleitorais e ainda costumam criar para si a imagem de salvadores da pátria, bandeira bastante utilizada por militares, policiais e procuradores pautados pela fragilidade da segurança pública.

Confira a entrevista na íntegra:

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Camila Bezerra

Jornalista

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