Em Portugal, brasileiras protestam contra preconceito

O Itamaraty já está na hora de se mexer, acionando as Embaixadas e Consulados brasileiros na Europa, para dar um basta nessa situação. Se faz necessário enfrentar as mídias tanto aqui como lá fora. No caso das brasileirAs que vivem na Europa, não podem sofrer esse tipo de humilhação , e que não é de hoje, tem que ter um ponto final e a nossa diplomacia não faz nada, só se preocupa com o comercio inernacional, compra de armas etc, e as cidadÃs brasileirAs, como é que ficam? Ou será porque quem cala consente?

Do Vermelho

Preconceito na TV contra brasileiras provoca protesto em Portugal

Um programa de animação exibido na estatal portuguesa Rádio e Televisão de Portugal (RTP2), em rede nacional, traz uma prostituta que fala com sotaque brasileiro entre os seus personagens principais. O “Café Central”, transmitido todos os dias desde setembro, tem sido alvo de protestos em Portugal e fortalecido as teses de que o preconceito contra as mulheres brasileiras no país tem sido recorrente em virtude, sobretudo, do viés politico por parte da mídia.

Um grupo de entidades e brasileiras residentes em Portugal criou na internet um “Manifesto em repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal”, em protesto contra “Café Central” e a estigmatização das brasileiras nos meios de comunicação de Portugal.

O programa, exibido no início da madrugada e retransmitido pelo serviço internacional do canal para vários países, narra a história de seis personagens que discutem os temas da atualidade (do próprio dia), às voltas de um balcão de um café. Em uma apresentação no mês passado, a RTP pôs como destaque do programa em sua página na internet uma conversa entre um dos personagens da atração, Silva, dono do “Café Central”, e a prostituta Gina: “Ahh, Gina, Gina… sempre que te vejo a bambolear essas libidinosas, sonho que estou no meio do Estádio do Dragão [Futebol Clube do Porto], com os Super-Dragões [torcida organizada do clube] a entoarem cânticos de paixão enquanto eu e tu fintamos o destino e marcamos golos nas redes da malícia”.

A situação ultrapassou o universo virtual: o grupo de repúdio já se manifestou publicamente nas ruas de Lisboa e tenta avançar com outro tipo de ações. Segundo Mariana Selister Gomes, criadora do grupo, a personagem Gina é mais um exemplo de estigmatização da mulher brasileira na comunicação social portuguesa. “Esse estigma é construído em torno de um imaginário de hipersexualidade das brasileiras e disponibilidade de seus corpos aos portugueses”. Para Marina, esse estigma, por si só, já é uma violência simbólica e prejudica a vida das brasileiras, “pois se transforma em assédio sexual, assédio moral, chegando mesmo a casos graves de violência física e sexual”.

Uma análise contundente do grupo é destinada à construção da personagem, retratada “como prostituta e maníaca sexual, alvo dos personagens masculinos”. “Trata-se de um desrespeito às mulheres brasileiras, que pode ser considerado racismo, pois inferioriza, essencializa e estigmatiza essas mulheres por supostas características fenotípicas, comportamentais e culturais comuns.”

“Situação faz parte da cultura europeia”

Não se trata de um fenômeno novo, critica Mariana, já que “fazem parte da história europeia genocídio indígena, escravidão africana, genocídio judeu, o que se altera é o alvo e, atualmente, são os imigrantes e, em Portugal, principalmente as brasileiras. Enquanto não houver um esforço coletivo, políticas de educação antirracista e de ações afirmativas, o quadro vai se repetir”.

Residente em Lisboa, onde cursa seu doutorado, Mariana defende que as autoridades portuguesas respeitem a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres, da qual tanto Portugal quanto o Brasil são signatários. Sem isso, argumenta Mariana, viola-se o Memorando de Entendimento entre Brasil e Portugal para a Promoção da Igualdade de Gênero. No documento, consta que esses países estão “resolvidos a conjugar esforços para avançar na implementação das medidas necessárias para a eliminação da discriminação contra a mulher em ambos os países”.

Beatriz Padilla, professora do Centro do Investigações e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, estuda a comunidade brasileira em Portugal há anos e pondera que, reiteradas vezes, já alertou sobre a existência de uma grande discriminação não só contra os brasileiros, mas contra os diferentes em geral. “Com elas [as brasileiras] a situação é insustentável, já que o estereótipo que existe é reforçado pelos meios de comunicação. Nunca faltam bundas de brasileiras em revistas, capas de livros etc. A maior parte das pessoas, incluso os acadêmicos – e até certo ponto os próprios brasileiros – justificam e culpabilizam a mulher brasileira.”

Para Beatriz, o estereótipo existe e tem gerado experiências demasiadamente negativas. “O dia a dia de ser brasileira em Portugal é um peso, sempre há desconfiança de todos pela seriedade e integridade dela.” A pesquisadora da Universidade de Coimbra Isabel Ferin tem uma visão diferente sobre a influência tão direta da mídia na discriminação, porém concorda que o programa da RTP2 é todo construído sobre estereótipos. Ressalva apenas que o fato de colar a prostituição a uma mulher brasileira só reforça um preconceito pré-existente. “Como se trata de uma estrangeira, acaba por funcionar também como estigma.”

A inclusão de Gina é extemporânea, observa Isabel. “Neste momento, a autoestima portuguesa está tão baixa, que o fato de ainda ter brasileiros que querem trabalhar e ficar em Portugal anima a população. Não vejo sinais na mídia de discriminação. Não percebo, por isso, como surgiu essa personagem, que me parece fora de prazo.”

Para o presidente da Casa do Brasil em Lisboa, Carlos Henrique Vianna, é preciso protestar contra esse tipo de situação. Não por acaso, a casa assinou o manifesto. “É inegável que há muitas trabalhadoras do sexo brasileiras em Portugal e na Europa, com consequências na imagem da imigrante em geral. Para nós, o importante é dignificar permanentemente a imagem dos imigrantes combatendo o preconceito.”

O grupo que criou o manifesto na internet estava, na altura do fechamento desta edição, com mais de 1.100 assinaturas e contava com o apoio de mais de 20 organizações sociais tanto portuguesas quanto brasileiras, além do suporte de sete conselheiros do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior. “Estamos fazendo a entrega do manifesto para autoridades de Portugal e do Brasil, como uma denúncia coletiva. O próximo passo é cobrar das autoridades que tomem atitudes contra o preconceito”, disse Mariana.

Fonte: Valor Econômico

Luis Nassif

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