A aliança radical contra a paz no Oriente Médio

Da Folha

União radical: contra do teatro da “paz”

Radicais palestinos unem forças para atacar Israel, em meio a negociações de paz

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Treze grupos militantes palestinos uniram forças para ampliar os ataques a Israel, possivelmente incluindo ataques suicidas, anunciou o Hamas nesta quinta-feira. O anúncio é feito no mesmo dia em que os líderes palestino e israelense retomaram as negociações diretas de paz, em Washington.

“Decidimos criar um centro de coordenação para nossas operações contra o inimigo”, anunciou Abu Obeidah, porta-voz das Brigadas Ezzedin al Qasam, braço armado do Hamas, falando em nome dos 13 grupos em entrevista coletiva em Gaza.

Ele prometeu atacar “o inimigo sionista em qualquer lugar e a todo momento”. Perguntado se isso incluía ataques suicidas, ele respondeu: “Todas as opções estão abertas.”

Ele também pediu que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) pare com as detenções de simpatizantes do Hamas na Cisjordânia.

EM BUSCA DA PAZ

Os líderes israelense e palestino abriram as negociações diretas de paz sob mediação americana nesta quinta-feira. Eles concordaram em se encontrar a cada duas semanas para tentar chegar a um acordo dentro de um ano, e pôr fim a um conflito que se arrasta a seis décadas.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, vão se encontrar novamente em 14 e 15 de setembro no Oriente Médio. Segundo diplomatas, o encontro deve ser no no balneário egípcio de Sharm el Sheik. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e o enviado especial dos EUA, George Mitchell, também devem participar desse próximo encontro, segundo Mitchell, que disse que o local da reunião ainda não foi decidido.

Jason Reed/AP”Nosso objetivo é resolver os principais assuntos dentro de um ano, e as partes sugeriram e concordaram que o caminho lógico de se proceder, para atacá-los, é tentar alcançar um acordo sobre uma agenda primeiro”, disse Mitchell aos jornalistas, enquanto Abbas e Netanyahu continuavam em reunião particular, que durou cerca de 90 minutos e encerrou as negociações do dia.

Mais cedo, os dois líderes se reuniram com Clinton e Mitchell por mais de uma hora, e tiveram uma sessão separada com a delegação completa de negociadores. Ontem, Abbas e Netanyahu se encontraram separadamente com o presidente Barack Obama.

Mitchell afirmou que os detalhes do primeiro diálogo de paz direto em 20 meses serão mantidos em sigilo, a pedido dos dois líderes, devido à sensibilidade das conversas.

Questionado por jornalistas, ele afirmou que os assuntos mais cruciais, como a existência dos dois Estados, o fim de todas as formas de violência e os assentamentos judaicos na Cisjordânia, foram debatidos na reunião preliminar. “Nenhuma determinação foi feita. […] Não foi uma ampla e significativa discussão em assuntos específicos”, explicou Mitchell, acrescentando que o tema central de acordo entre os dois lados foi a necessidade de definir uma agenda para a discussão.

Clinton declarou que os EUA não têm ilusões sobre uma resolução rápida. “Estivemos aqui antes, e sabemos como o caminho adiante é difícil”, disse ela. “Haverá obstáculos e contratempos. Aqueles que se opõem à causa da paz vão tentar de todos os modos possíveis sabotar esse processo, como já vimos esta semana.”

Ela referia-se aos ataques de extremistas palestinos contra israelenses na região disputada da Cisjordânia na terça e quarta-feira.

TERMOS

Mais cedo, Netanyahu e Abbas fizeram uma declaração à imprensa em Washington (EUA). O líder israelense destacou a necessidade de garantir a segurança de Israel e do reconhecimento do Estado como nação dos judeus. Já o palestino lembrou que já há conquistas de acordos anterior que não devem ser ignoradas e reforçou o pedido pelo fim dos assentamentos em território palestino ocupado e o encerramento do bloqueio à faixa de Gaza –dois pedidos que Israel já demonstrou não estar disposto a ceder.

Netanyahu, o primeiro dos dois líderes a falar, adotou um tom cauteloso e disse que os dois lados terão que fazer duros comprometimentos para conseguir uma paz duradoura. Ele listou ainda o que considera os dois itens essenciais dentro das exigências israelenses –reconhecimento do Estado judeu e a garantia da segurança do território nacional.

Jim Young/Reuters Secretária de Estado americana, Hillary Clinton, dá declarações à imprensa ao lado dos líderes israelense, Binyamin Netanyahu, (esq.) e palestino, Mahmoud Abbas (dir.); os três retomam hoje as negociações diretas

“O povo de Israel está preparado para seguir por este caminho e avançar para trazer paz genuína, para trazer segurança, prosperidade e bons vizinhos”, disse o premiê. “Desenhar uma realidade diferente entre nós envolverá uma grande negociação. E os principais assuntos são os que discordamos”, reconheceu o premiê.

Netanyahu pediu assim que os palestinos estejam prontos para reconhecer Israel como Estado-nação do povo judeu e ressaltou que isso não significa que os cerca de 1 milhão de palestinos que vivem em Israel não terão seus direitos reconhecidos. Um discurso que parece ser um recado aos palestinos em seu pedido para que Israel encerre a construção dos assentamentos judaicos na Cisjordânia e aceitem eles também os israelenses que vivem em seu futuro Estado.

“Esse mútuo reconhecimento é indispensável para esclarecer para os dois povos que o conflito acabou”, declarou o primeiro-ministro, que voltou ainda ao discurso da segurança e ressaltou que um acordo precisa incluir garantias de que Israel não será mais alvo de ataques com foguetes palestinos (a maioria lançados da faixa de Gaza, comandada pelo grupo rival de Abbas, o Hamas).

“É necessário garantir que possamos interromper outros assassinos. Eles querem matar nosso povo, nosso Estado, nossa segurança. Segurança é a fundação da paz, uma paz pode ser estável e durável”.

METAS

Em seguida, o líder palestino Abbas também reconheceu que as negociações vão enfrentar obstáculos difíceis. Depois de garantir a Netanyahu que o reconhecimento do Estado judeu e a segurança de Israel são parte das concessões palestinas, o presidente da ANP revelou ainda a sua lista de pedidos: o fim das construções nos assentamentos e do bloqueio israelense à faixa de Gaza.

“Nós não estamos começando do zero. Tivemos várias rodadas de negociações entre OLP (Organização para a Libertação Palestina) e Israel, trabalharemos em todas as questões: água, segurança, refugiados e prisioneiros”, disse. “Nós queremos marcar nosso compromisso, incluindo a segurança, e pedimos que Israel avance para encerrar os assentamentos e o bloqueio à Gaza”.

Os pedidos, contudo, não devem ser bem recebidos por Netanyahu. O primeiro-ministro já declarou nesta quarta-feira que não está disposto a prorrogar o congelamento nas construções de assentamentos que acabará em 26 de setembro.

Horas antes, colonos judeus na Cisjordânia ocupada começaram novas construções, quebrando a moratória, e ameaçaram ainda um golpe para depor Netanyahu se ele não permitir oficialmente a retomada das obras após o dia 26.

O bloqueio à Gaza, importo por Israel em 2007, quando o Hamas tomou o controle do território à força, também não é um tema de concessões. Israel defende o bloqueio como forma de evitar que os milicianos do Hamas se armem e, diante da nova onda de violência protagonizada pelo grupo, vê seu argumento ainda mais fortalecido.

Abbas ressaltou ainda diversas vezes as conquistas já alcançadas em negociações anteriores de paz, como o acordo de Oslo, em 1993. Ressaltou que o pedido palestino para o direito de retorno de cerca de 4 milhões de refugiados palestinos, em sua grande maioria descendentes de 700 mil palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas terras durante a criação do Estado de Israel, em 1948, não é novidade e foi determinado em acordos internacionais.

“A solução justa dos refugiados palestinos está nas resoluções internacionais, não queremos mais, nem menos. Queremos uma nova era para o nosso povo, que traga prosperidade e paz”.

Segundo Abbas, o acordo de Oslo servem ainda como prova de que as intenções palestina são boas. “Comprometimentos foram exigidos de nós e nós respeitamos nossos comprometimentos”, disse.

“O que nos dá confiança […] é que o caminho da lei internacional está representado pelo Quarteto do Oriente Médio.Todas estas posições representam referências internacionais nos objetivos que buscamos’, disse Abbas, em referência ao grupo formado por EUA, Rússia, ONU e União Europeia, representado pelo ex-premiê britânico Tony Blair. 

Luis Nassif

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