Itamar 8: o caso José de Castro

O mais polêmico personagem da corte de Juiz de Fora era o advogado José de Castro. Assim que assumiu a Consultoria Geral da República, detectei de imediato o mesmo cheiro exarado por Saulo Ramos – o Consultor que denunciei na reedição do Plano Cruzado e que processou na época.

Castro tinha um discurso dúbio a uma retórica similar a Saulo. Depois, descobri o segredo. Ambos se aconselhavam com Raimundo Nonato, um polêmico advogado lotado no serviço público, com tremendo know how em trapalhadas.

Um dia recebo uma ligação de um procurador da Fazenda alertando, em off, para uma jogada escandalosa que estava sendo armada.

Nos anos 80, o estaleiro Ishikawagima entrou com uma demanda administrativa solicitando indenização da União. Foi arquivada ainda no governo Figueiredo. Agora, Castro havia dado um parecer a favor do estaleiro e ordenado o desarquivamento do processo administrativo.

Era escandaloso! Se o estaleiro quisesse, que entrasse na Justiça. Mas entrou via administrativa e o próprio consultor geral dava um parecer contra os interesses da União.

Fiz um tremendo escarcéu e a Comissão de Finanças da Câmara resolveu convocar José de Castro para esclarecimentos. Na época, recebi telefonema do deputado José Dirceu querendo mais dados.

Como jornalista, não poderia participar da inquirição de José de Castro. Mas combinei me encontrar antes com Dirceu para explicar-lhe todas as nuanças do episódios. Dirceu acabou chegando em cima da hora e foi despreparado para a audiência.

Lá, o polêmico Gilberto Miranda – estreitamente ligado ao chefe da sucursal da Folha em Brasília, Rui Nogueira – montou a blindagem a José de Castro. Ele interpretou o papel de coitadinho, vítima da incompreensão de um jornalista. No dia seguinte, a cobertura brasiliense dava como vitoriosa a apresentação de José de Castro.

Escrevi a coluna dizendo que era engano geral. A audiência salvou a cara de José de Castro, mas ele não ficaria mais um mês à frente da Consultoria.

De fato, dançou pouco depois. Mas assumiu o cargo de presidente da Telerj.

Na volta de minha ida a Brasilia encontrei-me no avião com o então procurador geral Aristides JUnqueira, incensado pela mídia por sua atuação (sofrível) no impeachment de Collor. Alertei-o sobre o que estava acontecendo. Me olhou meio espantado e marcou uma conversa no dia seguinte às 14 horas, na Procuradoria Geral em São Paulo. Liguei às 12 para confirmar. Ele já tinha voltado para Brasília. Fugiu do tema.

Quando começou o governo FHC, Itamar tentou emplacar o presidente da Telesp. José de Castro imediatamente colocou anúncios na Folha informando que estava montando em São Paulo uma filial do seu escritório.

Minhas críticas, na época, ajudaram FHC a se livrar de um estrupício.

Luis Nassif

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