Sobre os estereótipos de negros e imigrantes

Por douglas da mata

Comentário ao post “ A dificuldade de acesso dos negros à estrutura de poder

Nassif,

Tenho lido coisas absurdas: Misturar etnia com nacionalidade? Como assim? Ora, se estamos usando um corte específico para definir a exclusão de um grupo (negros) e hegemonia de outro(brancos), eu pergunto: A que grupo os libaneses, alemães, nipônicos, italianos, gregos, etc, se identificam? Com os negros?

Bem, não sou especialista mas fica claro que a posição mais expressiva de libaneses, em detrimento de italianos, alemães, japoneses, etc, embora tal afirmação não seja um dado comprovado(mas apenas um achismo, que por isto pode ser combatido por achismo), reflete o momento no qual estas nacionalidades se incorporaram a construção da nação, ou seja, temos é claro, portugueses, espanhóis, depois, quem sabe, libaneses, turcos, e outros povos associados ao comércio, e por fim, na útlima leva imigratória, os europeus.

Consideremos que alemães, italianos e japoneses, cada qual de forma bem específica, sofreram os revezes da II Guerra, e esta segregação momentânea se deu com aspectos ideológicos e culturais distintos. Como macaqueamos os EEUU em quase tudo, é certo que alemães e italianos gozassem de certo prestígio, assim como as teses nazifascistas eram quase bem-vindas nos EEUU, junto com a cultura WASP.

Já os japoneses, após Pearl Harbor foram a nacionalidade inimiga escolhida no imaginário aliado, com os EEUU à frente. Os krauts e os carcamanos logo, logo se reintegraram ao imaginário ocidental, sem mais prejuízos a imagem. É verdade que o cinema dedicou boa dose de estereotipagem a máfia italiana, mas ainda assim, de forma muito mais glorificada que os estereótipos dedicados a mexicanos e negros.

No Brasil, e na A. Latina, esta “absolvição” dos nazifascistas se deu de forma bem mais rápida, e não raro era na A. Latina que os “krauts” se sentiam seguros.

Japoneses, por questões de sua cultura e pelas razões já citadas, levaram a pior, inclusive se considerarmos Hiroshima e Nagasaki.

Mas tratemos do tema principal, os negros.

Um disse aqui que o problema é de (falta de)vontade, ou seja, negros não se fazem representar por uma anomalia ou apatia de vontade, e não por razões concretas e objetivas de exclusão. As mesmas razões que excluíram mulheres até 1934 do voto, e mantiveram boa parte dos negros exclusos do processo eleitoral pelo analfabetismo até recentemente.

E o negro, não tinha vontade de se alfabetizar?

Será que o negro só tem vontade de entrar na estatística como vítima? É isto? Então deve ser culpa da negrada os 72% de jovens pretos entre 17 e 25 anos mortos por homicídios, em dado recente da UFRJ.

Ou dever ser vontade dos pretos encherem as cadeias, e não os parlamentos?

Enfim, deve ser vontade dos pretos contar 66% dos que ganham 1 1/2 salários mínimos, e configurarem 60% da classe mais pobre, a quando conseguem vencer esta barreira, deve ser falta de vontade do preto ao aceitar receber 70% do que ganha um branco para exercer a mesma função em uma mesma empresa.

Eu vou destacar o que há de pior por aqui, na minha opinião, que fique claro:

“É a mesma visão de mundo de cotas, de dar reservas a indios, de dar terras a quilombolas, tudo deve ser feito para beneficiar minorias mesmo que se imploda o Pais. A Base Naval de Aaratu, importante e historica, pode ser fechada porque quilombolas reividicam a area. A Base de Lançamento de Misseis de Alcantara está paralisada porque quilombolas se dizem donos do pedaço. Um Estado estrategico como Roraima, de fronteira, foi entregue a 14.000 indios, destruindo a base economica arrozeira do Estado em nome desses protegidos.”

Resposta: Alguém precisa dizer que respeitar e resgatar direitos das minorias talvez seja, tão ou mais importante em uma Democracia, que a simples imposição da vontade de maioria. Foi a maioria nazista que truicidou minorias judias, dentre outras na Alemanha. Os governos brasileiros, a justiça brasileira, ungidos pelos mandatos outorgados, eleitos ou não, mas todos constitucionais, devem adotar as medidas necessárias para corrigir erros históricos, fontes de tensão e extermínio de grupos que contribuiram com seu sacrifício real(e não simbólico apenas)para a construção desta nação, e portanto, são depositários dos mesmos direitos a preservação de sua cultura e acesso a terra que tantos outros. Ou é tudo uma questão de grana, ou de quem pode mais?

A politica de cotas vai colocar de pernas para o ar todo o carissimo sistema de universidade publicas que terão forçosamente que rebaixar seu nivel de ensino para se ajustar às cotas.

Resposta: este argumento que nem merece ser chamado deste modo, já caiu por terra há muito, com os resultados acadêmicos dos cotistas igualando ou superando os não cotistas, mesmo que pessoas de bom senso não esperassem tanta rapidez, dada a desproporção de origem.

O caríssimo sistema de universidade públicas só serviu a um minoria por anos e anos, e cristalizou e, ou ampliou, justamente, o nível de desigualdade da sociedade brasileira.

Se o preço inicial para que a Universidade paga com MEU imposto, SEU imposto, e de todos os negros e brancos, possa incluir a TODOS, seja uma piora em seus níveis acadêmicos, que seja.

E olha que este sistema caríssimo, dito pelo comentarista, nunca nos colocou, até bem recentemente, em lugar de destaque no cenário científico internacional, nem na inovação e ranking de patentes, mesmo com o chamado “alto nível” de ensino considerado por ele.

Resultados pífios de uma elite branca cevada a desigualdade, com raras exceções. Talvez com diversidade e mais competição possamos, aí sim, melhorar este elefante branco que eram as nossas Universidades, unidades de elite, voltadas para perpetuar o elitismo.

É uma visão de mundo e de pais, tem gente que acha lindo, eu vejo como desastre.

A evolução dos negros (há poucos) e de pardos (há muitos) está se fazendo lentamente como ocorre com todos os fenomenos sociais, forçar a barra é uma ação ideologica, nos EUA que tinha um racismo

violento um negro chegou à Presidencia por seus esforços e pelas circunstancias evolutivas naturais da sociedade.

Resposta: Vou destacar o trecho:”(…)circunstancias evolutivas naturais da sociedade.” Isto aí nem dá para contra-argumentar, é ruim demais.

Mas vamos lá: Então, se tem um nível colosssal de desiguldade, vamos, então, lentamente, como ocorre em “todos fenômenos sociais”(rs, piada), ajustando as desigualdades, sem mexer nas suas bases estruturais, e assim, deixando ao darwinismo social a tarefa de equiparar assimetrias? Ótimo. Dane-se quem não conseguir um lugar melhor no tempo certo, não é mesmo? Carregando areia com peneira?

Reduzir a eleição de um negro a presidência e dizer que isto é símbolo de que o sistema lento e gradual funciona é como dizer que a eleição de um operário resolve(ou deveria) todas as questões estruturais do capitalismo, ou que Dilma simboliza, com seu esforço, o fim gradual e lento da violência e discriminação de gênero.

Ele esquece, ou talvez não saba, que foi justamente a consolidação dos campos de luta pelos direitos civis do negro dos EEUU, inclusive com a radicalização de sua pauta, que permitiu a esses negros estadunidenses assumirem sua condição de discriminado, condição primeira para a construção de coesão na luta pelos seus direitos e sua representatividade. E que esta luta se deu no campo dos direitos positivos, das políticas afirmativas, do reconhecimento que estavam em desvantagem comparativa em relação a outros estratos sociais, mesmo que dividissem a mesma pobreza que os brancos, a cor da pele era um duplo fardo na sociedade de lá (EEUU), como é aqui.

Se dependesse do processo lento e gradual do comentarista, nosso Geisel da Democracia Racial, talvez os negros estadunidenses ainda estivessem pendurados em árvores pela KKK.

O racialismo que quer se implantar à força no Brasil vai colocar um risco um dos grandes valores da sociedade brasileira, a mistura étnica, a fusão de raças, a multiculturalidade, a construção de uma sociedade especifica e propria do Brasil , uma benção para este Pais.

Resposta: Não houve mistura étnica, o que ele chama de mistura étnica são senhores de escravos se lambuzando dos corpos das negras escravas, que não tinham a menor chance de escolha.

Imaginem o garu de “consenso” entre alguém que lhe tinha como coisa, com um chicote na mão, e um tronco como prêmio para sua negativa,e depois, a sua venda para algum lugar qualquer…Pois é, foi assim que nossa miscigenação se deu.

Assim como as sinhás usando e abusando dos pretos, que também não tinham a menor chance de determinar o que queriam. Os frutos desta miscigenação eram colocados ora dentro das casas grande, como mucamas, e escravos da casa, ora, vendidos para bem longe para exorcizar a lembrança da tal miscigenação.

Nenhum destes bastardos herdou título ou terra de seus pais.

Até bem pouco tempo, no início do século XX, a cultura afro-descendente era ILEGAL, tanto a capoeira, como os cultos religiosos.

Zeca Pagodinho nos ensina:

“delegado chico palha/ sem gosto, sem coração/não quer samba, nem curimba, na sua jurisdição/ele não prendia, só batia(bis)/

era um homem muito forte/com um gênio violento/acabava a festa a pau/e ainda quebrava os instrumentos/(bis)/”

Ainda hoje, pesquisa da UENF(Universidade Estadual do Norte Fluminense, pelo LESCE, laboratório de estudos de sociedade civil e estado) está a caminho de revelar o grau de intolerância religiosa através dos registros de ocorrência policiais de templos afros vandalizados por militantes religiosos pentencostais e outros.

O que o Geisel da Democracia Racial chama de colocar em risco é justamente manter o atual status quo, ou seja, o que os ativistas de direitos civis dos EEUU chamam de colorblindness, como se isto apagasse a chaga do racismo, e pior, os seus efeitos na divisão de direitos a acumular capital simbólico, de se fazer repersentar, de ter acesso as mesmas oportunidades, consagrando o que a CRFB já nos diz sem estar escrito: aos desiguais na forma de sua desigualdade.

Luis Nassif

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