Os terceirizados e a possível greve na USP

Não sei se haverá greve na FFLCH por conta da situação dos funcionários terceirizados, que não recebem salários há dois meses. Se houver, apoiarei o movimento. São dezenas e dezenas de famílias deixadas na rua da amargura e que provavelmente ficarão sem emprego. Consta que a empresa responsável pela limpeza do prédio teria ido à falência. É o caso de se apurar se foi morte morrida, mesmo, ou suicídio malandramente calculado, como tantas vezes acontece. Seja qual for o resultado da apuração, temos que repensar a contratação de serviços terceirizados caso a caso. É bem provável que, no caso da limpeza, estejamos pagando MAIS CARO (e não mais barato) pelo serviço do que pagaríamos se a própria universidade contratasse esses trabalhadores. 

De imediato, temos um problema humano urgente. Esses funcionários são pessoas muito simples. Após dois meses trabalhando sem receber, estão certamente com dificuldade para pagar seus alugueis e suas prestações. Se nos omitirmos, eles na prática irão para o olho da rua, e terão que esperar anos até que a Justiça faça com que o dinheiro devido lhes seja pago. No plano institucional, só podemos ficar assistindo ao drama dessas pessoas, e lamentar. A empresa está falida, e em princípio não temos nada a ver com isso. Contrataremos outra empresa, e buscaremos na Justiça uma reparação pelos danos causados à universidade. Saem esses terceirizados, entram outros. 

AconAcontece que as coisas não são (ou não deveriam ser) bem assim. Somos responsáveis, sim, pelo drama dessas pessoas. Esses funcionários não trabalhavam no planeta Marte. Trabalhavam em nosso prédio, limpando as nossas classes, as nossas salas, os nossos banheiros. É a nós que eles prestavam serviço. Essas empresas de terceirização, na prática, funcionam como meras agências de emprego, que recolhem o dinheiro público numa ponta, repassam um terço na forma de salários, mais um pouco na forma de encargos trabalhistas, compram a cândida, os panos, as vassouras, o sabão, e embolsam o que sobra. É um mistério para mim como é que um negócio da China como esse pode ir à falência. 

Diga o que disser a lei, temos responsabilidade – ética, que seja – sobre o destino desses funcionários. Eles não podem ficar sem emprego, nem podem ficar sem receber pelo serviço que prestaram A NÓS TODOS, contribuintes, que usufruímos os serviços prestados pela universidade. É preciso exigir que essas pessoas não sejam tratadas como se fossem objetos de limpeza, que usamos e depois jogamos fora. Alunos, funcionários e professores já fizeram greve por tanta porcaria ideológica – até contra o ensino à distância (quem não se lembra dessa baboseira?). Agora, pelo menos, temos uma causa absolutamente justa pela qual todos nós devemos lutar.

Finalmente, temos que discutir o problema de fundo. Como pode ser vantajosa a terceirização de um serviço prestado full time, sete dias por semana, numa universidade que tem o tamanho da USP? O que a terceirização faz que turnos bem planejados de funcionários não poderiam fazer (por um preço bem menor)? O que estamos terceirizando, de fato? Os serviços de limpeza e de segurança? Ou nossa própria incompetência administrativa?

Luis Nassif

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