Um grito pela reforma tributária

A maturidade me faz achar que não estou percebendo algo quando uma obviedade não se realiza.

Onde está o debate sobre a reforma tributária?

No Brasil, o sistema tributário é regressivo. Ou seja, quem ganha menos paga proporcionalmente mais imposto. É isso mesmo, você não leu errado: quem ganha menos paga mais imposto, repito.

Parafraseando Márcio Pochmann em seu livro “Qual desenvolvimento?”, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE mostra que um trabalhador que recebe mensalmente até dois salários mínimos tem uma carga tributária de até 48% do seu rendimento. A mesma pesquisa mostra também que um trabalhador com remuneração superior a 30 salários mínimos percebe uma carga de 26%.

Vamos a um exemplo, para ser mais didático.

Um cidadão que ganha R$1.000 (mil reais) por mês paga R$480 (quatrocentos e oitenta reais) em impostos; ou seja, 48%. Um outro que ganha R$30.000 (trinta mil reais) paga R$7.800 (sete mil e oitocentos reais); ou seja, 26%.

Imaginemos agora o contrário. Vamos supor que um cidadão que ganha R$1.000 pagasse 26% de impostos. Ele então pagaria R$260. Ou seja, comparado com o modelo atual, ‘sobrariam’ R$220 (R$480 – R$260) para esse cidadão consumir, jogar na economia do país. Se a atual política de salário-mínimo e o Bolsa Família fizeram o que fizeram com a economia, imagem o aconteceria se tivéssemos um sistema tributário mais justo.

Observem que nem se trata de um debate ideológico. Seja o cidadão de esquerda ou de direita, progressista ou conservador, não deve haver ninguém em sã consciência que não tenha ojeriza a essa lógica. Só mesmo um pensamento do tipo casa-grande e senzala, como diria Mino Carta, justifica a interdição do debate.

Com o perdão do pleonasmo, dada essa monstruosa aberração, por que o debate sobre a reforma tributária não acontece como deveria? A sociedade, tão dada a protestos por esta quadra, deveria estar gritando contra essa inacreditável incongruência.

Redação

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